A história do Bairro Francisco Coelho, “Cabelo Seco”, às vezes se confunde no tempo com a história do município de Marabá. Em 7 de junho de 1898, foi o dia em que Francisco Coelho inaugurou um barracão comercial no encontro dos rios Tocantins e Itacaiunas, dando o nome de Casa Marabá em homenagem ao poeta Gonçalves Dias, autor do poema “Marabá”, que na visão do poeta significava – “o conflito identitário e a rejeição da mestiça Marabá em sua tribo, por ser diferente dos demais”. Conforme o dicionário, Marabá tem origem indígena e significa “filho do prisioneiro ou estrangeiro, ou ainda o filho da indígena com o branco”. Por isso Francisco Coelho é considerado o fundador de Marabá. Sendo que Marabá só foi emancipado em 5 de abril de 1913. Conforme dados geográficos, Marabá pertencia ao município de Baião juntamente com São João do Araguaia, que por sua vez em 1908 se desmembrou de Baião, mantendo atrelada consigo a cidade de Marabá que passou a fazer parte do novo município. No entanto Marabá se emancipou e tornou-se sede própria em 1913, recebendo o título de cidade somente em 1923.
Antes mesmo da população comemorar o dia da criação do município, em 5 de abril de 1913, os marabaenses já tinham outra data também muito importante para a história da cidade, o dia 7 de junho de 1898.
Neste sábado, 7 de junho de 2025, 127 anos depois, o Bairro Francisco Coelho, conhecido popularmente como “Cabelo Seco”, cresceu e ao longo do tempo deu lugar para grandes obras estruturais que mudaram a imagem local, como: Cemitério Municipal, Presidio estadual, Estádio Zinho Oliveira, Cine Marrocos, Mercado Municipal, Igreja de São Félix do Valois, Praça São Félix, Conjunto Residencial “Itacaiunas”, obra do Governo Federal, através do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), Biblioteca Pública, asfaltamento das ruas, Orla Fluvial “Sebastião Miranda”, construção da primeira escola NEI Dr. Deodoro de Mendonça, localizada ao lado da Praça Francisco Coelho, construção da segunda escola NEI Dr. Deodoro de Mendonça, agora localizada na Rua 5 de Abril e Pontal do Encontro dos Rios.
Leia mais:Francisco Coelho da Silva, maranhense de Barra do Corda, nasceu em 3 de agosto de 1846, e faleceu aos 60 anos em 20 de agosto de 1906, no vilarejo denominado de Baião. Foi comerciante em Grajaú, no Maranhão, partindo para a província do Rio Negro (atual Estado do Amazonas) nos fins da década de 1880, parte para trabalhar no comércio seringalista nos rios Purus, Juruá e Javari. Retornou ao Maranhão, tornando-se sargento da “Milícia Estadual”, atuando na expulsão de camponeses e peões na baixada maranhense com vista a defender interesses de grandes latifundiários de São Luiz e Alcântara.
Em meados da década de 1890 deixa a “Milícia” e torna-se açougueiro e comerciante de gado, mudando-se novamente para Grajaú. Atraído pelas oportunidades comerciais no Grão-Pará, a partir de 1897 passa a negociar gado entre Carolina e a Colônia Militar de São João do Forte (atual São João do Araguaia). Após vários meses descendo o rio Tocantins em balsas com gado, e subindo com drogas do sertão, decide mudar-se com a família para o Grão-Pará. Primeiramente estabeleceu-se em São João do Forte. Após alguns dias recebe o convite de Carlos Leitão para mudar-se para a Colônia do Burgo do Itacay-una. Mudou-se pouco tempo depois para o Burgo, mas não permanece muito tempo nesta colônia, transferindo sua residência em 7 de junho de 1898 para a faixa de terra entre os rios Tocantins e Itacaiúnas. Nesse local ergue-se uma “casa comercial” em sociedade com Francisco Casemiro de Souza. A casa comercial funcionava como uma casa de aviamento (casa de aprisionamento de indígenas para o trabalho escravo) e prostíbulo. A casa comercial foi denominada por Francisco Coelho como “Casa Marabá”, inspirado por uma poesia cujo título era “Marabá” de autoria do poeta maranhense Gonçalves Dias, de quem era admirador.
Para efeito de curiosidade, a denominação bairro “Cabelo Seco”, por se referir entre outras explicações populares, ao fenótipo das primeiras moradoras, fazendo menção ao cabelo “Pixaim” das mulheres, marcada pela descendência africana.
Enfim, o nosso “fundador” não foi aquele herói esperado, nem aquele colonizador criador, nem um grande líder expedicionário, mas sim um comerciante em busca de lucros. Para a nossa expectativa foi um casualista sem intenção, porém o seu legado, embora casual, nos deu motivos para estarmos aqui hoje comemorando esta data tão importante para a nossa comunidade, que, por sua vez, homenageia os seus ancestrais, que muito fizeram para construir esse torrão.
(*) O autor é cientista social.