Correio de Carajás

Artesanato local traz mudanças para a economia no Natal

Tintas, linhas, tecidos e madeira são objetos da mais pura arte marabaense. O Correio apresenta mais dois artesãos como sugestões de presentear neste Natal

Mais do que uma artesã talentosa, Rosimar tem um propósito claro: compartilhar seu conhecimento/ Fotos: Evangelista Rocha

Vivendo em um mundo marcado pela velocidade da produção em massa e pela ascensão da tecnologia, o artesanato tem enfrentando um desafio significativo: a desvalorização. Em um cenário onde a conveniência muitas vezes supera a apreciação pela singularidade e pela habilidade manual, as tradições artesanais estão perdendo espaço e reconhecimento.

O artesanato, que já foi a espinha dorsal de muitas culturas, agora é frequentemente subestimado em comparação com produtos industrializados. A produção em larga escala oferece eficiência e acessibilidade, mas muitas vezes à custa da individualidade e da autenticidade presentes nas peças artesanais. A rápida obsolescência dos produtos industrializados também contribui para uma mentalidade descartável, desconsiderando a durabilidade e o valor emocional que frequentemente acompanham os objetos artesanais.

NAS VEIAS

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Mas, a artesã e marabaense Rosimar dos Santos, aos 55 anos, que viu o artesanato pulsar em suas veias desde sempre, resiste a essa desvalorização e persiste com muito otimismo: “O DNA criativo foi passado por minha mãe, também artesã e costureira, que me introduziu no universo encantador da confecção de bonequinhas de pano. A primeira delas foi uma criação conjunta com ela, um marco que despertou em mim o amor pela arte manual”, conta.

Essa paixão pelo artesanato evoluiu ao longo dos anos, fazendo com que ela explorasse novas técnicas e a reinterpretar tradições antigas para o contexto contemporâneo. Com uma abordagem de reinvenção, Rosimar não apenas resgata a essência do artesanato de antigamente, mas também o atualiza com as tendências e técnicas mais recentes. Seu aprendizado constante é um testemunho do comprometimento e dedicação ao ofício.

“A globalização e a produção em massa trouxeram consigo a homogeneização de produtos, reduzindo a diversidade cultural e eliminando a rica tapeçaria de tradições artesanais que eram transmitidas de geração em geração. Essa perda cultural é uma consequência direta da preferência por itens padronizados em detrimento da riqueza artística e histórica que o artesanato incorpora”, reflete.

Ela completa que, além disso, a desvalorização do artesanato acaba sendo refletida na falta de compensação justa para os artesãos. Muitas vezes, os criadores dessas peças únicas não recebem remuneração adequada, não reconhecendo adequadamente o tempo, a habilidade e a paixão investidos em cada trabalho manual.

“Tudo isso cria um ciclo prejudicial em que a próxima geração pode hesitar em seguir uma carreira artesanal devido à percepção de falta de estabilidade financeira”, prevê.

Percorrendo o mundo do artesanato é perceptível a crucialidade de repensar e reavaliar o papel desta arte atualmente. A valorização do artesanato não é apenas uma questão de preservação cultural, mas também uma afirmação de sustentabilidade, durabilidade e apreço pelo trabalho manual.

“Ao apoiar os artesãos e escolher produtos artesanais, podemos contribuir para a preservação da diversidade cultural, estimular economias locais e promover um estilo de vida mais consciente e conectado com a história e as tradições. O artesanato não é apenas um produto; é uma expressão de identidade, um vínculo com o passado e uma manifestação tangível da criatividade humana que merece ser preservada e celebrada”, persiste Rosimar.

RODA DO TEMPO

A mãe de Rosimar não só a ensinou a pintar e bordar, mas também lhe proporcionou o apoio necessário para aprimorar suas habilidades ao longo do tempo. O artesanato acabou virando mais do que uma profissão; é uma fonte de cura e renovação. Rosimar revela que o artesanato a resgatou de um AVC, proporcionando uma segunda chance de vida. Essa terapia criativa virou uma maneira de expressar emoções, superar desafios e, acima de tudo, viver com paixão.

Atualmente, ela mergulhou na costura criativa, especializando-se em vestidos sob medida. “É importante criar peças que vão além do simples ato de vestir, mas que são expressões únicas de arte, feitas com amor e cuidado”, pontua. A busca por um ajuste perfeito e a atenção aos detalhes revelam a dedicação de Rosimar em transformar a costura em uma forma de arte personalizada.

Mais do que uma artesã talentosa, Rosimar tem um propósito claro: ela almeja compartilhar seu conhecimento, estabelecendo oficinas em seu pequeno ateliê. Seu objetivo é capacitar outras mulheres, guiando-as no caminho do artesanato e proporcionando a oportunidade de conquistar independência financeira.

Essa missão reflete não apenas seu compromisso com a preservação das tradições artesanais, mas também sua crença na importância de transmitir conhecimento para as gerações futuras.

Em um mundo onde o artesanato muitas vezes é subestimado, Rosimar defende a singularidade de cada peça: “É preciso compreender que o valor vai além do material, é um reflexo do tempo, paixão e habilidade investidos em cada criação. E minha história não se trata apenas sobre agulhas e linhas; é sobre resiliência, autoexpressão e a beleza atemporal do artesanato”, diz.

(Thays Araujo)