Correio de Carajás

Arquiteta e fotógrafo documentam as casas de madeira de Serra Pelada

Montagem com alguns dos cliques registrados durante o levantamento

A artista visual Cinira d’Alva e o fotógrafo Marcelo Barbalho desenvolvem um projeto que visa despertar uma outra memória de Serra Pelada, o garimpo que surgiu no início da década de 1980 e arrastou multidões para uma região próxima a Marabá. Se a lembrança desse acontecimento sobrevive por meio de uma profusão de imagens espetaculares, notadamente fotográficas, de autores como Sebastião Salgado, a dupla de artistas mostra um outro lado do garimpo. Eles investigam, por meio da fotografia, o que da época do garimpo ainda sobrevive em Serra Pelada.

Ao visitar o local, observaram a existência de casas de madeira que representam a memória do garimpo. Coube então ao fotógrafo Marcelo Barbalho registrá-las. O resultado é um conjunto de trinta fotografias que é apresentado ao público em uma página na rede social Instagram (@as_casas_de_madeira). O projeto, intitulado “As casas de madeira continuam de pé, ainda”, recebeu o Prêmio de Incentivo à Arte e à Cultura, da Fundação Cultural do Pará (FCP).

“As casas, ou em alguns casos o que sobrou delas, são um arquivo a céu aberto, vestígios materiais da primeira ocupação de Serra Pelada. No entanto, parecem condenadas a sumirem, atropeladas pela ação do tempo ou pelas transformações urbanas. Daí a importância desse trabalho, que visa, em alguma medida, chamar atenção para a necessidade de preservação das casas de madeira, que também apresentam um traço distintivo da arquitetura da Amazônia”, afirma Cinira d’Alva.

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Para Cinira, as casas, ou em alguns casos o que sobrou delas, são um arquivo a céu aberto

Graduada em arquitetura e urbanismo, ela destaca a relevância desses imóveis como patrimônio histórico. Daí a importância do projeto, que visa chamar atenção para a necessidade de preservação das casas de madeira, algumas ainda ocupadas por garimpeiros que exprimem a nostalgia de uma vida de aventura, todos os dias iluminada pela esperança da fortuna. No entanto, segundo a arquiteta-urbanista, o casario de madeira passa ao largo do debate patrimonial, geralmente pautado pela ideia de “valor arquitetônico”.

Para Marcelo Barbalho, cuja documentação fotográfica inclui detalhes de fachadas, portas e janelas das casas, o projeto lança um olhar talvez inédito sobre Serra Pelada. Na opinião de Barbalho, os fotógrafos quase sempre privilegiaram o cenário fantástico de milhares de homens cavando em busca de ouro em detrimento da vila, com seu pequeno comércio e habitações improvisadas, que mais tarde daria origem à cidade de Curionópolis, no Sudeste do Estado. (Divulgação)