Depois do fechamento da rede Leolar, a maior loja do comércio da Velha Marabá – por mais de cinco décadas – O Armazém Paraíba saiu de fininho da cidade sem dizer: “tchau, querida!”. As lojas do Grupo Claudino foram fechadas uma a uma até não existir mais nenhuma nos três núcleos habitacionais do município.
A loja, que inicialmente foi inaugurada na Rua Cinco de Abril, na Marabá Pioneira, cresceu e expandiu-se com o passar dos anos. Jornais marabaenses, presentes na cidade nas décadas iniciais do grupo, registraram as primeiras propagandas do Paraíba.
Em 3 de novembro de 1968, a loja estampou no Jornal O Marabá, em uma página inteira, o que talvez seja o seu primeiro informe publicitário na cidade. Com o texto “Do nordeste para a Amazônia (…) Enfim um mundo de utilidades para o seu lar e bem ao alcance de sua mão” o Armazém anunciava de móveis, eletrodomésticos e até acordeons.
Leia mais:Um mês depois a propaganda já divulgava a venda de tecidos, confecções, cobertores, mosquiteiros, redes e almejava estar presente em todos os lares.
Em 5 de setembro de 1976, quase dez anos depois, uma entrevista no Jornal de Vanguarda, com João Claudino Fernandes, um dos proprietários da rede, marcou a grande inauguração dos três pavimentos da loja localizada em frente à Praça Duque de Caxias. A grande festa contou com a presença ilustre do cantor, muito famoso na época, Altemar Dutra e de Reginaldo Rossi, que estava no início de sua carreira, despontando aos poucos pelas rádios do Norte e Nordeste. Além deles, representando a terrinha, o cantor Aurélio Santos e a banda Brasas 6. Aurélio lembra com orgulho desse dia tão especial.
O anúncio publicitário que seguiu a entrevista divulgou “Um grande prédio capaz de apresentar ao público o sortimento que faz do Armazém Paraíba a maior atração da cidade”. Além dos shows, uma corrida de bicicletas aconteceu na manhã do dia seguinte e uma fita simbólica foi cortada, marcando a inauguração.
Essa grande festa pode ter sido o marco inicial do que, com o passar dos anos, se tornou uma tradição do empreendimento. As comemorações de aniversários, que foram por um longo tempo, motivo de grande alvoroço pelos bairros de Marabá.
Era comum ouvir alguém falar que “o Paraíba faz aniversário todo mês”. Essa impressão era causada porque cada loja aberta tinha uma data de aniversário distinta e todas eram celebradas. Os shows gratuitos contavam com atrações regionais, prêmios eram sorteados, havia passeatas com as famosas bolas jogadas de cima do trio elétrico, ação que era ansiada pela criançada de toda a cidade.
Aos poucos, o famoso e veterano Armazém Paraíba foi perdendo espaço para a modernidade. O mercado, que antes era disputado com empreendimentos locais, começou a ser dominado pelo comércio eletrônico. Com o advento da internet, lojas virtuais tomaram, e tomam, cada vez mais espaço entre os compradores. Facilidade no pagamento, preços mais baixos, comodidade, elementos que pouco a pouco foram conquistando o consumidor.
O passo seguinte dado por essas lojas, naturalmente, foi a instalação física do que até então, para o marabaense, era apenas uma opção virtual. Em 2018 o Magazine Luiza, loja de varejo de nível nacional que despontou no comércio eletrônico, estabeleceu-se nos prédios até então ocupados pelo Armazém Paraíba, com exceção da matriz, na Avenida Getúlio Vargas.
Sobre esse período de transição, Natália Santos da Cruz, que trabalhou no grupo durante oito anos, esclarece que ao contrário do que muitas pessoas acreditam, o Armazém Paraíba não foi vendido para o Magazine Luiza, mas sim uma cessão dos pontos em que as lojas físicas funcionavam.
Nos pontos maiores, na Velha Marabá, a negociação foi para terem a estrutura dividida, de um lado as portas abertas seriam do Magazine Luiza e, do outro, o Armazém Paraíba. Seguido a isso, o “Paraíba” encerrou a venda de móveis e eletrodomésticos, permanecendo somente com a comercialização de calçados, confecções e tecidos nos pontos que continuaram abertos. A empresa atuou com essa configuração até o ano de 2020, mas logo após o início da pandemia ela, por fim, encerrou suas atividades na cidade.
“Sempre falávamos que além de uma empresa, era também uma escola para os colaboradores” comenta Natália, que é grata pelas oportunidades que a loja lhe proporcionou. Muitos dos colaboradores do Armazém Paraíba foram contratados pelo Magalu (como também é conhecida), mas essa ação não aplacou o nível de desemprego gerado pelo fechamento das lojas.
Até mesmo as pequenas lojas, vizinhas do ponto localizado na Rua Cinco de Abril, sofreram o impacto. Algumas acabaram por fechar suas portas. Aquele trecho, que antes era movimentado, atualmente quase não se vê consumidores transitando. Até mesmo os vendedores ambulantes desapareceram das imediações da Praça Duque de Caxias.
Um pouco de história
A loja Armazém Paraíba foi fundada no ano de 1958, na cidade de Bacabal, interior do Maranhão.
Em seus anos iniciais, o nome “armazém” correspondia a sua atuação comercial de uma casa com ampla variedade de produtos. Naquela época ainda não se preocupava em segmentar seus pontos de venda.
Em dezembro de 2002, uma reestruturação do quadro societário dividiu a administração do grupo. A SOCIC – Sociedade Comercial Irmãs Claudino S/A assumiu as lojas Armazém Paraíba nos estados do Pará e São Luís (MA).
Em suas plataformas online, o Armazém Paraíba divulga que em 2019, o grupo redefiniu sua estratégia, com o objetivo de fortalecer a empresa, passou a direcionar investimentos nas áreas que já atua, notadamente, imobiliária e financeira. (Luciana Araújo)