Correio de Carajás

Ararajubas ameaçadas de extinção reproduzem no Bioparque de Carajás

Casal de ararajubas papais, espécie ameaçada de extinção | Créditos: Vanessa Bento Teixeira

Espécie endêmica da Amazônia brasileira e ameaçada de extinção, a ararajuba (Guaruba guarouba) é um psitacídeo da família dos papagaios e ocorre, naturalmente, somente nos Estados do Pará e Maranhão. A distribuição geográfica bem restrita e a beleza exuberante, alvo do tráfico de animais, são fatores que contribuem para o declínio das populações na natureza, aliado aos desmatamentos ilegais onde a espécie ocorre.

Mas, no setor de reprodução do Bioparque Vale Amazônia, em Parauapebas, no sudeste do Pará, esses animais encontram um ambiente totalmente preparado e adequado para o namoro e para o sucesso reprodutivo. No último mês, um casal de Ararajubas deu origem a mais três novos membros na família. O macho e a fêmea são idênticos e formam casais fiéis por toda vida.

Na natureza, a ararajuba costuma reproduzir-se em buracos de árvores e fazer a postura de cerca de até nove ovos, que são incubados por 29 dias. “Além desse primeiro casal, um segundo depositou ovos e a expectativa é que alcancem sucesso, também, com uma nova ninhada. Todo ano procuramos aproveitar ao máximo o ciclo reprodutivo dos animais”, informa Tarcísio Rodrigues, biólogo do Bioparque Vale Amazônia.

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Filhotes recém-nascidos de ararajubas nasceram há poucas semanas no Bioparque Vale | Créditos: Dina Mara Marques

Com expectativa de vida de aproximadamente 35 anos, a ararajuba é uma das 25 espécies prioritárias para a conservação ex situ (fora da natureza) do Instituto Chico Mendes para Conservação da Biodiversidade (ICMBio/MMA) e da Associação de Zoológicos e Aquários do Brasil (AZAB). Há também studbook keeper nacional para a espécie, que tem um papel muito importante na conservação. Tarcísio explica que os livros de registros genealógicos são responsáveis por controlar a população de indivíduos em cativeiro e em assegurar tamanho suficiente, estabilidade demográfica e alto nível de diversidade genética.

Um dos pilares do Bioparque Vale Amazônia é promover a conservação de animais em especial os ameaçados. “Recebemos animais oriundos do tráfico, apreensões, de maus tratos, criação ilegal etc. Esses têm poucas chances de voltar para natureza devido as condições que apresentam. Quando chegam, passam por um período de tratamento em quarentena separados dos demais animais e, se possível, formamos os casais na tentativa de reproduzir”, explica Tarcísio.

As ararajubas nascidas na instituição podem permanecer no local, que oferece um habitat bem próximo do natural para o seu desenvolvimento, ou integram programas de reintrodução. Como conta Tarcísio, em 2019 foram destinados três filhotes nascidos no Bioparque para o programa de reintrodução de ararajubas na capital das Mangueiras, como a cidade Belém é conhecida.

“As ararajubas desapareceram de Belém nos anos de 1950, devido ao tráfico e expansão urbana. Hoje, há um esforço grande do governo estadual com programa chamado Belém Mais Linda, desenvolvido pela Fundação Lymington e Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), para reintrodução das aves na região”, conta o biólogo.

Além das ararajubas, o Bioparque Vale Amazônia abriga, estimula e acompanha a procriação de outras espécies ameaçadas de extinção como a onça-pintada, cachorro-vinagre, macaco-aranha-da-testa-branca, harpia, entre outras. “Todos os animas mantidos vieram de ações antrópicas, ou seja, pelas mãos dos homens. Muitas vezes chegam bem machucados, aves com asas cortadas, por exemplo, ou são animais domesticados e têm dificuldade de sobreviver em meio a outros que são selvagens. Para eles, a volta para natureza é bem difícil porque precisam de cuidados. Mas, tentamos ao máximo formar casais e reproduzir para tentar dar para as novas gerações nascidas sob cuidados humanos uma segunda chance na natureza”, conclui Tarcísio.

Foto: Vanessa Bento Teixeira