Alvo de críticas e grande polêmica nas redes sociais, além de publicações em diferentes veículos de comunicação, o cartaz de divulgação do Salão do Livro da Região do Sul e Sudeste do Pará, parte da programação da 22ª Feira Pan-Amazônica do Livro, organizada pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará, foi modificado.
Um dos posts com maior número de compartilhamentos e comentários no Facebook – também repercutido em postagens de blogs e veículos fora da rede social – é da autora paraense Paloma Franca Amorim, que criticou a falta de representatividade de mulheres no evento, apesar de uma mulher negra estar retratada no material de divulgação.
“Põem uma mulher negra com livros na cabeça no cartaz e não tem uma mulher negra na programação principal da feira pan amazônica do livro. Não vou ficar calada, não. A feira pan amazônica do livro quer mulheres pretas pra carregarem na cabeça os livros dos sinhozinhos, porque na programação mesmo da feira não tem uma mulher preta, amazônida, fazendo mesa ou fala”, diz o texto publicado na última semana. “Aplausos pro racismo institucional do dia, dessa vez no meu estado, o Pará, na feira onde cresci e me fiz leitora. Estou enojada.”, acrescentou.
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O cartaz em questão é o que divulga as atividades que irão acontecer a partir desta sexta (27) no Carajás Centro de Convenções e Eventos de Marabá. A primeira versão trazia a representação de uma palenquera, mulher colombiana que tradicionalmente carrega cestos de frutas na cabeça. No entanto, na imagem, as frutas eram substituídas por livros.
A escolha se deu por a Colômbia ser o país homenageado pela feira deste ano. A imagem foi substituída, agora, por uma escultura do colombiano Fernando Botero. Também pelo Facebook, a Secult-PA anunciou a mudança e justificou o primeiro cartaz:
“O cartaz anterior buscava representar um dos símbolos culturais mais tradicionais da Colômbia, país homenageado: as Palenqueras, mulheres que podem ser vistas em diversos cenários do país, particularmente em Cartagena, cidade escolhida pela Unesco como patrimônio da humanidade. As palenqueras tradicionalmente usam roupas multicoloridas com bacias de frutas encimando as cabeças.
A imagem também é comum em países da África e onde as raízes da cultura africana também possuem seus fortes traços, e mesmo no Brasil, onde a Bahia, por exemplo, tem como um dos seus ícones urbanos as vendedoras de acarajé e abará em seus tabuleiros ou ainda as tacacazeiras que se paramentavam para a venda numa Belém de outrora. Ao escolher uma dessas mulheres do cenário urbano da Colômbia, com seus trajes típicos, substituíram-se as frutas por livros, numa metáfora para divulgar uma feira… de livros.
No entanto, sem esta devida contextualização e apenas com a ativação do imaginário brasileiro, a imagem pode gerar diversas interpretações. E, assim, remeter à um passado que só deve ser lembrado para que não volte a ser jamais reproduzido, como os tempos da escravidão. Aliás, o respeito a todas as diversidades, incluindo a racial e de gênero, é uma das marcas da gestão do Governo do Estado, não apenas com campanhas educativas e de conscientização, mas especialmente com políticas públicas.
A própria Feira Pan-Amazônica do Livro, que possui mais de duas décadas de existência, tornou-se mais que um evento literário: é uma celebração humana, da diversidade e da riqueza da produção cultural de todos os povos, participando de suas edições, indistintamente, escritores, poetas, palestrantes e artistas de diferentes raças, gêneros e orientações. A celebração é da cultura, de todas as culturas.
E, justamente por ter esse intuito e não tolerar qualquer vertente que não seja a do respeito, a organização optou por efetuar a devida troca da arte do cartaz, encontrando outra forma de referência, mantendo a justa e devida menção à Colômbia, país homenageado nesta edição e lamenta que a referida imagem tenha causado leituras diferentes do que pretendíamos, o que jamais foi o intuito, conforme devidamente esclarecido”.
Apesar de anunciar a mudança do cartaz, a Secult-PA não explicou a ausência de mulheres negras na programação principal, alvo das reclamações, tampouco anunciou, até o momento, alterações no evento para inclusão destas. (Luciana Marschall)
Alvo de críticas e grande polêmica nas redes sociais, além de publicações em diferentes veículos de comunicação, o cartaz de divulgação do Salão do Livro da Região do Sul e Sudeste do Pará, parte da programação da 22ª Feira Pan-Amazônica do Livro, organizada pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará, foi modificado.
Um dos posts com maior número de compartilhamentos e comentários no Facebook – também repercutido em postagens de blogs e veículos fora da rede social – é da autora paraense Paloma Franca Amorim, que criticou a falta de representatividade de mulheres no evento, apesar de uma mulher negra estar retratada no material de divulgação.
“Põem uma mulher negra com livros na cabeça no cartaz e não tem uma mulher negra na programação principal da feira pan amazônica do livro. Não vou ficar calada, não. A feira pan amazônica do livro quer mulheres pretas pra carregarem na cabeça os livros dos sinhozinhos, porque na programação mesmo da feira não tem uma mulher preta, amazônida, fazendo mesa ou fala”, diz o texto publicado na última semana. “Aplausos pro racismo institucional do dia, dessa vez no meu estado, o Pará, na feira onde cresci e me fiz leitora. Estou enojada.”, acrescentou.
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O cartaz em questão é o que divulga as atividades que irão acontecer a partir desta sexta (27) no Carajás Centro de Convenções e Eventos de Marabá. A primeira versão trazia a representação de uma palenquera, mulher colombiana que tradicionalmente carrega cestos de frutas na cabeça. No entanto, na imagem, as frutas eram substituídas por livros.
A escolha se deu por a Colômbia ser o país homenageado pela feira deste ano. A imagem foi substituída, agora, por uma escultura do colombiano Fernando Botero. Também pelo Facebook, a Secult-PA anunciou a mudança e justificou o primeiro cartaz:
“O cartaz anterior buscava representar um dos símbolos culturais mais tradicionais da Colômbia, país homenageado: as Palenqueras, mulheres que podem ser vistas em diversos cenários do país, particularmente em Cartagena, cidade escolhida pela Unesco como patrimônio da humanidade. As palenqueras tradicionalmente usam roupas multicoloridas com bacias de frutas encimando as cabeças.
A imagem também é comum em países da África e onde as raízes da cultura africana também possuem seus fortes traços, e mesmo no Brasil, onde a Bahia, por exemplo, tem como um dos seus ícones urbanos as vendedoras de acarajé e abará em seus tabuleiros ou ainda as tacacazeiras que se paramentavam para a venda numa Belém de outrora. Ao escolher uma dessas mulheres do cenário urbano da Colômbia, com seus trajes típicos, substituíram-se as frutas por livros, numa metáfora para divulgar uma feira… de livros.
No entanto, sem esta devida contextualização e apenas com a ativação do imaginário brasileiro, a imagem pode gerar diversas interpretações. E, assim, remeter à um passado que só deve ser lembrado para que não volte a ser jamais reproduzido, como os tempos da escravidão. Aliás, o respeito a todas as diversidades, incluindo a racial e de gênero, é uma das marcas da gestão do Governo do Estado, não apenas com campanhas educativas e de conscientização, mas especialmente com políticas públicas.
A própria Feira Pan-Amazônica do Livro, que possui mais de duas décadas de existência, tornou-se mais que um evento literário: é uma celebração humana, da diversidade e da riqueza da produção cultural de todos os povos, participando de suas edições, indistintamente, escritores, poetas, palestrantes e artistas de diferentes raças, gêneros e orientações. A celebração é da cultura, de todas as culturas.
E, justamente por ter esse intuito e não tolerar qualquer vertente que não seja a do respeito, a organização optou por efetuar a devida troca da arte do cartaz, encontrando outra forma de referência, mantendo a justa e devida menção à Colômbia, país homenageado nesta edição e lamenta que a referida imagem tenha causado leituras diferentes do que pretendíamos, o que jamais foi o intuito, conforme devidamente esclarecido”.
Apesar de anunciar a mudança do cartaz, a Secult-PA não explicou a ausência de mulheres negras na programação principal, alvo das reclamações, tampouco anunciou, até o momento, alterações no evento para inclusão destas. (Luciana Marschall)