Correio de Carajás

Após polêmica, projeto quer proibir plantio de nim em Marabá

Além dos danos ao meio ambiente, a árvore tem raízes que podem danificar calçadas e tubulações

A árvore Nim indiano pode ser encontrada em locais como a Orla da Marabá Pioneira, como esse exemplar antigo

O Nim ou Neem indiano é uma planta de origem asiática que foi introduzida em Marabá e região há pouco mais de 15 anos. Devido ao seu rápido crescimento e ao fato curioso de permanecer verde durante todo o ano, inclusive na seca, a planta se popularizou e foi amplamente utilizada para a arborização de zonas urbanas e rurais.

Agora, Marabá está prestes a sancionar o Projeto de Lei N° 103/2024, que propõe a proibição do plantio da árvore Nim Indiano (Azadirachta Indica) no município, visando preservar a biodiversidade dos biomas amazônicos. A iniciativa, que também incentiva o plantio de espécies nativas da região, surge em resposta aos impactos ambientais causados pela espécie exótica, amplamente utilizada no Brasil desde os anos 1980.

A árvore Nim foi introduzida no Brasil na década de 1980 para atuar como pesticida em lavouras. Desde então, tem sido amplamente utilizada no paisagismo urbano de várias cidades, incluindo Marabá (a Orla do Rio Tocantins conta com mais de 30 árvores dessa espécie plantada pelo poder público). No entanto, a planta tem gerado preocupações ambientais, devido ao seu impacto negativo na biodiversidade local.

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Também na orla, a Prefeitura de Marabá plantou várias árvores nim recentemente

De acordo com estudos, o Nim possui um princípio ativo chamado Azadiractina, conhecido por suas propriedades inseticidas, que afeta diretamente a fauna local, especialmente insetos nativos. Abelhas, fundamentais para a polinização de plantas nativas, estão entre as espécies mais prejudicadas pela presença do Nim. A substância interfere no ciclo reprodutivo dos insetos, causando um desequilíbrio ambiental que pode afetar outras espécies e o ecossistema de maneira geral.

O Projeto de Lei N° 103/2024, proposto pelo vereador Márcio do São Félix, visa coibir esses efeitos negativos, proibindo o plantio da espécie tanto em áreas urbanas quanto em iniciativas de reflorestamento no município de Marabá. A proposta também incentiva o plantio de espécies vegetais nativas, mais adequadas aos biomas amazônicos, para restaurar e preservar a biodiversidade local.

Caso sancionado pelo prefeito Tião Miranda, o órgão ambiental municipal ficará responsável por criar e divulgar uma lista de espécies nativas recomendadas para substituir o Nim. Essas espécies serão escolhidas com base em suas características ecológicas e paisagísticas, de modo a garantir que atendam às necessidades ambientais da região. Além disso, o projeto prevê a criação de um programa de incentivos para estimular a substituição do Nim por plantas nativas.

Entre as medidas de incentivo propostas estão o fornecimento gratuito ou subsidiado de mudas de plantas nativas e a orientação técnica para o plantio e manejo dessas espécies. Também estão previstas campanhas de conscientização para esclarecer a população sobre os benefícios ambientais das plantas nativas, além de um sistema de certificação e reconhecimento para aqueles que participarem ativamente do programa.

Em Araguaína, no Tocantins, a Prefeitura orientou, no início deste ano, evitar o plantio dessa espécie. Como publicado pelo G1, relatórios indicam que o Nim pode causar intoxicação em insetos, inclusive abelhas, o que agrava o desequilíbrio ambiental. Embora o Nim seja apreciado por seu rápido crescimento e capacidade de adaptação ao clima semiárido, sua presença nos biomas amazônicos pode gerar impactos irreversíveis, como a eliminação de espécies nativas e a alteração dos ciclos ecológicos.

Estudos realizados pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) também apontam que a árvore, ao se adaptar bem às condições brasileiras, torna-se uma ameaça por não pertencer à flora local. Suas raízes profundas, capazes de acessar a água do solo em períodos de seca, e sua copa vistosa fazem com que a árvore seja amplamente plantada em calçadas e ruas, mas os efeitos negativos de sua presença são alarmantes.

O Projeto de Lei busca enfrentar esses desafios e garantir que a vegetação nativa de Marabá continue sendo priorizada, promovendo o equilíbrio ecológico e evitando a descaracterização dos biomas amazônicos.

A Reportagem do CORREIO foi até a Seagri (Secretaria Municipal de Meio Ambiente), onde foi informada que as mudas de Nim não estão mais sendo distribuídas e nem plantadas na cidade desde o início deste ano.

(Thays Araujo)