Correio de Carajás

Após denunciar ex por abuso da enteada, mãe cobra autoridades

Angla Pereira Nunes registrou queixa contra o companheiro e diz ter sido abandonada por órgãos

Há quase um mês, Angla Pereira Nunes denunciou o ex-companheiro, acusando-o de ter abusado sexualmente da filha dela, de apenas dez anos de idade, o que se qualifica como estupro de vulnerável. Após o incidente, Angla e a filha foram amparadas pelo Conselho Tutelar de Parauapebas, mas atualmente a mãe se sente abandonada pelo órgão, além de acreditar não haver celeridade na investigação.

O Portal Correio de Carajás teve acesso ao testemunho de Angla, cedido no dia 10 de setembro na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam). Ela atesta que neste dia, por volta das 16h45, chegou em casa após o trabalho e se deparou com a irmã chorando após ter comparecido à delegacia para denunciar o homem, acusando-o de ter abusado da garota e ameaçado a vida da mãe dela.

Angla, moradora do Bairro Nova Vida, ainda relatou que a menina ficava muito tempo com o padrasto, uma vez que ela saía de casa cedo para trabalhar. Apenas o pai de Angla, um idoso com mais de 80 anos, segundo ela, permanecia com o homem e a criança na casa.

Leia mais:

Ela diz ter sido pega de surpresa, pois sempre confiou no homem, que segundo ela era um “bom companheiro”. Angla diz que no mesmo dia em que realizou denúncia contra ele, a filha foi recebida por um psicólogo do Conselho Tutelar.

CONSELHO PROTELAR?

Na segunda (13), a garota realizou exame sexológico no Instituto Médico Legal (IML) e elas foram encaminhadas ao Centro Referência Especializado de Assistência Social (Creas) para continuar o acompanhamento psicológico e jurídico do caso. Angla também teve uma consulta com o psicólogo naquela semana – o último auxílio que a família recebeu desde então.

“Mando mensagem pra eles, eles dizem para que eu procure o Ministério Público porque não trabalham com a polícia dessa forma. Mando mensagem pro Creas também, mas nada é resolvido. Nem eu, nem minha filha tivemos mais consultas com o psicólogo”, diz Angla, se queixando dos problemas que ela e a menina passaram após a denúncia.

Angla diz que já tinha problemas de ansiedade e insônia, e agora foram potencializados; a filha teve que ir morar fora, e também mudou de comportamento depois do episódio. “Eu só queria que me ajudassem; estou desempregada, não tenho como me locomover porque não tenho carro, e também não tenho como contratar um advogado. Só o que tenho para fazer é procurar ajuda, e não me respondem”.

A mãe da vítima diz que o homem fugiu de Parauapebas assim que soube da denúncia, e não entende como a situação ainda não se tornou processo legal, como alega ter sido informada pela titular da DEAM, delegada Ana Carolina Carneiro. Aos prantos, diz se arrepender de ter colocado “um estuprador” em casa e clama por ajuda da polícia e dos órgãos de assistência social.

Procurado pelo Correio de Carajás, Aldo Serra, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (Comdcap), diz que foram identificadas falhas no acolhimento de Angla e a filha após a denúncia, e que esse eixo de assistência social será revisionado junto do Creas e do Conselho Tutelar. Ainda assim, ele atesta que no eixo criminal o Comdcap não pode fazer nada, pois o caso está nas mãos das autoridades jurídicas após a queixa.

Aldo Serra diz que foram identificadas falhas no acolhimento (Foto: Ronaldo Modesto)

Aldo ainda informa que, legalmente, o crime de estupro de vulnerável só pode gerar prisão em flagrante caso a denúncia seja registrada em até 24 horas depois do fato consumado. O presidente do Comdcap lamenta a situação, que segundo ele, tem causado a sensação de impunidade, o que só aumenta o sofrimento das vítimas.

Procurada pela reportagem do Correio de Carajás, a DEAM informou que não pode dar detalhes sobre o andamento da investigação, pois esta corre em sigilo por envolver menor de 18 anos. O Conselho Tutelar, por sua vez, atesta que o caso foi devidamente atendido, e que as medidas aplicáveis foram realizadas, bem como os encaminhamentos necessários para a rede de atendimento. (Juliano Corrêa – com informações de Ronaldo Modesto)