Após a ameaça de ataque sofrida por professores da escola Walquise Viana da Silva, localizada no Núcleo São Félix, na manhã de segunda-feira, 11, a sensação de insegurança e vulnerabilidade tomou conta da rede de ensino marabaense.
O sentimento é compartilhado por pais de alunos, que com um instinto de proteção aflorado, em alguns casos estão mantendo os filhos em casa, longe do ambiente escolar e de possíveis ameaças.
A Reportagem do CORREIO visitou quatro escolas da região do São Félix e uma na Nova Marabá, na manhã desta terça-feira e observou que o número de alunos faltantes é maior nas instituições onde a faixa etária dos estudantes é de 6 a 10 anos, como é o caso da EMEF Pequeno Pajé e também da EMEF Jarbas Gonçalves Passarinho.
Leia mais:Em uma outra escola, a EMEF São Félix, que possui turmas do 6º ao 9º ano, poucas faltas foram registradas. Já na Walquise Viana, escola alvo das ameaças na segunda-feira, a quantidade de alunos surpreendeu a Reportagem, que chegou ao local na hora do intervalo, pouco depois da aplicação de provas. Por lá, não houve faltas acima do normal e o clima entre os estudantes era de tranquilidade.
Localizada a uma curta distância da Walquise Viana, a EMEF Pequeno Pajé atua com alunos do 1º ao 5º ano, e dentre as quatro escolas visitadas pela Reportagem, esta foi a que relatou o maior número de alunos ausentes. Menos de 50% dos estudantes compareceram às aulas, e foram as turmas dos anos iniciais (1º, 2º e 3º), que tiveram o maior número de ausências. “É bem assustador o que tem ocorrido em nossa comunidade. Quando acontece essas coisas distantes, na verdade já é uma preocupação, e quando chega nas nossas proximidades, a preocupação aumenta mais ainda”, frisa Valdivina Oliveira da Silva, coordenadora pedagógica.
Ela destaca o sentimento de vulnerabilidade que cerca não apenas pais e alunos, mas todo o corpo escolar. “Nós trabalhamos com vidas, as das crianças e as nossas, que também somos vulneráveis diante de todo esse cenário que está acontecendo. É bem preocupante, os servidores também estão muito alarmados, mas nós temos procurado conversar, acalmar os ânimos, falando a eles que a nossa principal segurança é Deus. E estamos aqui trabalhando porque é preciso, nós temos que continuar, e a vida segue”, reflete.
Perto dali, na escola Walquise da Silveira Viana, Roberto da Cruz Costa, diretor, ressalta que não houve nenhum ataque à escola. Segundo ele, o que ocorreu foi um “fator extra escola”: “Houve uma ameaça, como as forças de segurança já detectaram. Levaram os dois ou três menores para serem ouvidos, ouvir os familiares, tudo fora dos muros da escola. Porque não foi um fator aqui dentro, houve, talvez, nas redes sociais”.
Para o gestor, esse tipo de situação mancha o nome da instituição e afirma que a rotina no local está normal, com aulas nos três turnos e nenhum problema foi registrado até o momento. Além disso, Roberto destaca a atuação da polícia nas rondas escolares, e ressalta as palestras aplicadas na escola, voltadas para a conscientização no que diz respeito à violência.
Entre os entrevistados, um ponto em comum foi destacado, as rondas que a Polícia Militar tem realizado pelas escolas. Para os profissionais, a ação colabora para a sensação de segurança de profissionais, pais e alunos. Além disso, nas escolas visitadas, a informação é de que conversas e palestras de conscientização estão sendo realizadas, principalmente no sentido de conter a propagação de informações inverídicas sobre ameaças e ataques.
DEMAIS INSTITUIÇÕES
“Ontem à tarde veio uma guarnição da Polícia Militar e nos falou que eles haviam prendido alguns meliantes que eram suspeitos de estar organizando uma matança entre professores”, conta Maria do Socorro Gomes de Sousa, vice-diretora da EMEF Jarbas Gonçalves Passarinho. A educadora detalha que recebeu uma enxurrada de mensagens de pais preocupados com a segurança de seus filhos na manhã desta terça-feira. Segundo ela, os genitores estão apavorados e alguns se recusam a mandar os filhos para as escolas sem medidas de segurança mais concretas.
“Eles estão vindo até a porta da escola saber o que estamos fazendo, se realizamos revista. Explicamos que não trabalhamos com revista, porque quem faz esse trabalho é a polícia”, complementa detalhando que as medidas adotadas pela escola, que são as mesmas de sempre: disciplina e cuidado. “Alunos nossos chegaram hoje falando ‘olha, vai ter um massacre, vai ter um massacre’. Aí já chamamos as crianças, conversamos para elas não disseminarem isso”, frisa Maria do Socorro, lembrando que notícias falsas acabam se espalhando, aumentando o alvoroço entre pais e alunos.
Josélia Barbosa, vice-diretora da EMEF São Félix, diz muitas pessoas usam isso para tentar aterrorizar as escolas e conta que uma aluna da instituição fez uma brincadeira de mau gosto, escrevendo na parede do banheiro a palavra “massacre”. “Uma pessoa vem, tira foto e posta e o negócio causa uma bola de neve. Dizem que é um massacre que vai acontecer, que tá marcado”, ela complementa refletindo que a maneira que a informação é divulgada, não corresponde com a realidade do que aconteceu, condição que gera terror entre os pais.
A Escola Municipal Tio Ming, localizada no Bairro KM-07, atualmente passa por uma reforma e parte de sua fachada está aberta, aumentando a sensação de vulnerabilidade do corpo docente, alunos e pais. “Estamos totalmente expostos, então é algo que também nos causa insegurança. Se nas outras escolas, que estão com portão, com muro, tudo certinho, está causando medo, imagine aqui que está exposto”, desabafa Adriana da Silva das Neves, coordenadora pedagógica.
Ela conta que apesar do clima de insegurança que paira sobre a instituição, a situação por lá ainda é de tranquilidade. Até o momento nenhuma ameaça foi feita para o corpo escolar da instituição.
A Tio Ming recebe alunos na faixa etária de 6 a 10 anos, e a quantidade de faltas ainda é baixa: “A gente percebeu que diminuiu a quantidade de alunos, mas a maioria veio estudar”, garante.
Assim como está acontecendo em outras instituições de ensino desde a segunda-feira, uma guarnição de Polícia Militar fez ronda na Tio Ming, conversando com os profissionais do local e visitando as dependências da escola, fator que colabora para acalmar os ânimos do corpo escolar.
Os profissionais das escolas visitadas, apesar do sentimento de inquietação, não abandonaram seus postos de trabalho e frisam que estão ali fazendo o que podem, principalmente na missão de tranquilizar – na medida do possível – os pais que durante algumas horas do dia confiam a vida de seus filhos à instituição de ensino. (Luciana Araújo)
Fotos: Evangelista Rocha