Correio de Carajás

Após 23 anos, boi-bumbá Aroeira retorna à arena e se consagra campeão

Fotos: Ulisses Pompeu

Campeão entre os bois-bumbás, o Aroeira retornou à arena do Festejo Junino de Marabá após 23 anos de afastamento. Na 36ª edição da festividade, o grupo fez o resgate de uma tradição que foi perdida há muito tempo: a narração da lenda do boi com simplicidade. Ao contrário de seus adversários, o Aroeira não ostentou alegorias tecnológicas e nem fantasias com grandes transformações. Apostaram no simples, e deu certo.

O Aroeira se apresentou na segunda-feira, 26, na quarta noite do Festejo Junino. A marcação entoada pelos tocadores de tambor favoreceu a evolução dos personagens, que pouco a pouco foram apresentados ao público. Antônio Sebastião de Souza, conhecido como Naldo Souza, domou o microfone e durante toda a apresentação, foi o narrador da performance e principal interprete das músicas que deram ritmo à história contada em um teatro ao vivo.

Naldo Souza

Não é de praxe que os grupos de bois exibam encenações na arena, e acabam optando por um desfile dos personagens e pela dança das brincantes caracterizadas como indígenas. Quando chegou sua vez, o Aroeira seguiu na contramão desse costume. Para além de exibir os personagens da história, ele de fato a contou.

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Por alguns minutos a arena se transformou em palco, durante o teatro do boi. Pai Francisco, Mãe Catirina e o Pajé ganharam vozes – entoadas ao vivo e não a partir de gravações – e encenaram a morte e ressureição do boi Aroeira, o preferido da Sinházinha.

Ainda que as indumentárias não tenham sido as mais luxuosas, nem as mais elogiadas, não dá para negar que o Aroeira deixou sua impressão visual muito bem destacada, pois levou à arena, integrantes caracterizados com suas principais cores: o azul e branco.

E indo na direção contrária das juninas ganhadoras das categorias A e B (que apostaram no moderno e estilizado), o boi-bumbá Aroeira optou por resgatar suas raízes, desde a sua temática, “Contando nossa infância nas ruas”, passando por sua singela apresentação, e indo até a história contada em sua essência.

O GRUPO

O boi-bumbá Aroeira foi criado em 1996, por jovens que trabalhavam lavando carros pelas ruas de Marabá. Quatro anos antes, em 1992, eles eram conhecidos como Pingo de Gente, que integrava o Espaço de Convivência da Criança e Adolescente (Econ), localizado proximo a orla do Rio Tocantins.

O projeto fechou as portas em 1995 e o boi passou para as mãos de Antônio Sebastião de Souza, conhecido como Naldo Souza, do Bairro da Santa Rosa. Em 1996 o grupo mudou de nome e passou a se chamar Aroeira. No ano 2000, o grupo suspendeu as atividades por questões financeiras, retornando apenas em 2023, com aproximadamente 80 integrantes.

A HISTÓRIA

O Bumba meu boi, que também é conhecido como Boi Bumbá, é famoso nas comemorações juninas no Norte e Nordeste, sendo ele o personagem principal por seu costume de diversão nas arenas. Por ter se tornado uma das festas mais queridas, ganhou um dia nacional só pra ele, comemorado em 30 de junho.

A tradição nasceu na Europa e foi trazida para o Brasil no século XVI. Ao chega aqui, a celebração foi moldada e inserida em raízes africanas e indígenas, e o que era bom ficou ainda melhor.

Atualmente o boi-bumbá é celebrado em todo o Brasil, com determinadas particularidades em alguns estados, como é o caso do Maranhão. Na capital São Luís, o destaque vai para o sotaque, as batidas e maneiras de vestir.

A história conta sobre um casal de escravos, que esperavam um filho, e a mulher desejava comer língua de boi. Para atender ao desejo da esposa, o marido roubou um boi, justamente o favorito do fazendeiro, que ao descobrir sobre a morte, prendeu o culpado e ordenou que um pajé ressuscitasse seu boi. Assim foi feito, e para comemorar a volta do tão amado animal, foi realizada uma festa com muita música, dança e animação, em forma de agradecimento a saúde do boi.

A representação do boi-bumbá celebra a passagem da morte para a ressurreição, é a comemoração do milagre, onde o homem representa o boi, vestindo uma armação de madeira e pano, em que utiliza uma cabeça do animal, geralmente feita à mão.

Ao longo do tempo as apresentações tornaram-se diversas em suas cores e batidas. Toda a encenação lúdica, também representa o drama, o humor, e a tragédia do boi, refletindo sobre a fragilidade do humano, diante da força da força do animal. O enredo é seguido através das batucadas de pandeiros, chocalhos e tambores, e a característica principal é toada, formada por estrofes e rimas. (Luciana Araújo e Milla Andrade)