Correio de Carajás

Após 11 anos, letreiro da Kiss é retirado para obra de memorial

Memorial homenageia 242 vítimas do incêndio que atingiu casa noturna em 27 de janeiro de 2013. Obras devem durar oito meses.

Letreiro da Boate Kiss sendo retirado de fachada de prédio em Santa Maria — Foto: Reprodução/RBS TV

O letreiro da Boate Kiss foi retirado da fachada do prédio, nesta quarta-feira (10), em Santa Maria, na Região Central do Rio Grande do Sul. O ato fez parte do início das obras do memorial em homenagem às 242 vítimas do incêndio que atingiu a casa noturna em 27 de janeiro de 2013.

Sobreviventes e familiares das vítimas participaram do ato e soltaram 242 balões brancos, representando cada um dos mortos.

O presidente da Associação dos Familiares das Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM), Gabriel Rovadoschi, leu uma carta que foi entregue aos moradores vizinhos do prédio falando sobre a construção do memorial. Três ex-presidentes da entidade foram homenageados pelo trabalho realizado desde o incêndio.

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“A gente entende que o memorial, para além de uma construção feita de tijolo e cimento, é uma construção que se inicia na palavra e carrega muito a história consigo”, diz Rovadoschi.

 

Um telão foi colocado na rua, um pouco abaixo da fachada do prédio, exibindo depoimentos sobre a tragédia. A porta da boate e parte dos tapumes também foram retirados do local.

Memorial

 

O projeto vencedor do memorial é do arquiteto paulista Felipe Zene Motta, que propôs a construção de um jardim central e de um único pavimento que seja de fácil construção e manutenção.

O memorial terá uma área de 383,65 metros quadrados. Serão três salas (um auditório com capacidade para 142 pessoas, uma sala multiuso e uma sala que será a sede da AVTSM). Além disso, o espaço contará com um jardim circular ao centro com 242 pilares de madeira em volta – cada um com o nome de uma vítima e um suporte de flores.

“Hoje ficou aquela ruína de boate, aquele monstro que todo mundo passa e remete imediatamente à tragédia. E por mais que o memorial tenha o objetivo de transformar aquele lugar numa coisa que transmita uma paz para os familiares, que dê algum tipo de conforto se é que isso é possível para eles, essa memória da tragédia não pode ser apagada”, afirma o arquiteto.

O prazo para a entrega do memorial é de oito meses. A primeira etapa das obras inclui:

  • Definição dos itens que farão parte do acervo do memorial da AVTSM;
  • Remoção do telhado;
  • Classificação dos resíduos que permanecem no local para retirada de uma empresa especializada;
  • Abertura de um espaço na entrada central para ingresso de máquinas.

 

A empresa responsável pela execução da obra é a INFA Incorporadora Farroupilha, de Triunfo, que venceu a licitação. O custo do projeto é de R$ 4.870.004,68. Parte do valor será custeada com verbas do Fundo para Reconstituição de Bens Lesados (FRBL) do MPRS, que, em maio de 2023, oficializou o repasse de R$ 4 milhões. O restante será pago pela Prefeitura de Santa Maria.

Relembre o caso

 

Na madrugada de 27 de janeiro de 2013, em um domingo, um incêndio atingiu a Boate Kiss, no centro de Santa Maria. 242 pessoas morreram e outras 636 ficaram feridas, após fagulhas de dispositivos pirotécnicos atingirem a espuma acústica que revestia o teto da boate. Uma fumaça tóxica se espalhou pela casa noturna ao pegar fogo.

Em dezembro de 2021, o tribunal do júri condenou quatro réus:

  • Elissandro Callegaro Spohr (empresário e sócio da casa noturna): 22 anos e seis meses de reclusão;
  • Mauro Londero Hoffmann (empresário e sócio da casa noturna): 19 anos e seis meses;
  • Marcelo de Jesus dos Santos (vocalista da banda que levantou o artefato pirotécnico): 18 anos de prisão;
  • Luciano Augusto Bonilha Leão (produtor que comprou e ativou o fogo de artifício): 18 anos de prisão.

 

No entanto, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul anulou o júri em 3 de agosto de 2022 alegando irregularidades na escolha dos jurados, reunião entre o juiz presidente do júri e os jurados, ilegalidades nos quesitos elaborados e suposta mudança da acusação na réplica, o que não é permitido.

Em 5 de setembro de 2023, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a anulação do júri por quatro votos a um. Em 2 de maio deste ano, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu ao Supremo Tribunal Federal o reestabelecimento da condenação dos quatro réus. A Procuradoria alega que as nulidades apontadas pelo Tribunal durante análise do caso pelo tribunal do júri não causaram prejuízo aos acusados.

Os quatro réus aguardam a definição em liberdade.

(Fonte:G1)