Correio de Carajás

Aneel reduz valor das bandeiras tarifárias amarela e vermelha

Taxa extra cobrada quando termelétricas forem acionadas vai pesar menos na conta de luz. Especialistas contestam

Segundo Aneel, níveis dos reservatórios das hidrelétricas favorece redução da tarifa cobrada nas bandeiras amarela e vermelha - (crédito: Copel/Divulgação)

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou, ontem, uma redução de até 37% nos valores das bandeiras tarifárias das contas de luz. Tratam-se dos valores extras para acionamento das bandeiras amarela e vermelha — patamar 1 ou 2 — usadas em cenários menos favoráveis de geração de energia.

Os novos valores valem a partir de 1º de abril de 2024. A bandeira amarela teve a maior redução. O valor adicional caiu dos atuais R$ 2,99 para R$ 1,88 a cada 100 KWh (quilowatt-hora) consumidos, uma retração de 36,9%. A cobrança da bandeira vermelha, patamar 1, cairá de R$ 6,50 para R$ 4,463 a cada 100 kWh consumidos, enquanto a vermelha, patamar 2, diminuirá de R$ 9,795 para 7,877 a cada 100 kWh registrados no mês. A bandeira verde seguirá sem cobrança adicional na fatura.

O patamar está em vigor desde abril de 2022. Segundo a agência, a redução nos valores das bandeiras é justificada pelo cenário favorável para a geração de energia elétrica, por causa da elevação nos níveis dos reservatórios das hidrelétricas ao longo dos últimos dois anos.

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O reajuste acontece em um momento controverso, enquanto o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) estima aumento na carga de energia do do Sistema Interligado Nacional (SIN). O órgão alertou, ainda, que os níveis das principais hidrelétricas do país podem chegar à metade em abril, no fim do período seco, e atingir 36,1% em julho. A estimativa considera um cenário pessimista na previsão de chuvas, provocado pelo El Niño, e outros fatores, como a baixa afluência dos rios.

A exemplo do pico causado na onda de calor que ocorreu no fim de 2023, o professor de engenharia elétrica Ivan Camargo, ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB), alertou que “sem dúvidas” a carga do sistema elétrico brasileiro continuará crescendo. “O que é mais preocupante, no meu modo de ver, é a estimativa de térmicas que nós teremos que usar durante este ano para compensar o uso das novas renováveis. Tanto a eólica quanto a solar são fontes de energia intermitentes, portanto, é preciso reserva de termelétricas”, ponderou.

A Aneel também alterou a metodologia usada para o acionamento das bandeiras tarifárias, os chamados “gatilhos”. A partir de agora, além das hidrelétricas, o ONS também passará a utilizar usinas termelétricas de forma extraordinária para garantir o funcionamento do sistema e o custo dessa medida definirá a cor da bandeira. No modelo anterior, esse custo entrava nos Encargos de Serviço de Sistema (ESS) — outra tarifa que compõe o custo das faturas de energia.

“O objetivo é evitar que em um cenário extremo, que não seja possível dimensionar previamente os impactos, ocorra o acionamento original sinalizando inadequadamente uma bandeira, e por isso a proposta prevê que ocorra o acionamento complementar a depender do despacho do parque termelétrico”, informou a agência reguladora, em nota.

Ivan Camargo destacou ainda a importância da “previsibilidade” das bandeiras tarifárias. “Antes, quando faltava energia das hidrelétricas, as térmicas eram selecionadas e você só descobria que estava pagando mais caro quando vinha a fatura. Com a implementação da bandeira tarifária já é possível que o consumidor saiba que a energia estará mais cara, portanto, é um grande avanço”, comentou o especialista e ex-reitor da UnB.

Alívio

De acordo com o economista Otto Nogami, professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), essa medida pode ter repercussões significativas na economia. “A redução das bandeiras tarifárias significa que os consumidores pagarão menos nas contas de energia elétrica. Isso pode aliviar o orçamento doméstico das famílias e das empresas”, afirmou.

Para o professor, as empresas e indústrias também se beneficiarão com a redução dos custos de energia. “Isso pode estimular a produção e a competitividade no mercado. Setores intensivos em energia, como metalurgia, siderurgia e química, podem ver seus custos operacionais diminuírem, o que é positivo para a economia como um todo”, observou.

“Com tarifas mais baixas, há maior atratividade para investimentos em setores que dependem de energia elétrica. Isso pode impulsionar o crescimento econômico e a geração de empregos. Empresas que consideravam investir em expansão ou novos projetos podem ser incentivadas pela redução dos custos energéticos”, completou Nogami.

(Correio Braziliense)