Correio de Carajás

Amos Oz, escritor israelense, morre aos 79 anos

Amos Oz, escritor israelense e cofundador do movimento pacifista Paz Agora, morreu aos 79 anos, disse sua filha no Twitter nesta sexta-feira (28). Segundo ela, ele sofria de câncer.

“Para aqueles que o amam, obrigado”, escreveu Fania Oz-Salzberger na rede social.

Desde os anos 60, o autor publicou 35 livros, entre romances, histórias infantis e coleções de artigos, críticas e ensaios, além de outros textos.

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Como escritor e ativista político, foi um dos intelectuais mais reconhecidos de seu país. Suas obras foram traduzidas para 42 idiomas em 43 países.

O escritor israelense Amos Oz, o principal convidado da feira anual de livros de Budapeste, posa entre seus livros no salão do Centro Cultural Millenaris. Foto de abril de 2010 — Foto: Gergely Botar/AFP/Arquivo

O escritor israelense Amos Oz, o principal convidado da feira anual de livros de Budapeste, posa entre seus livros no salão do Centro Cultural Millenaris. Foto de abril de 2010 — Foto: Gergely Botar/AFP/Arquivo

Seu livro mais conhecido é o romance autobiográfico “Uma história de amor e trevas” (2002), considerado uma obra-prima da literatura mundial.

Entre seus trabalhos, estão ainda “Meu Michael” (1968), “A caixa preta” (1988), “Conhecer uma mulher” (1991), “Pantera no porão’ (1997), “O mesmo mar” (2002) e “Rimas da vida e da morte” (2007).

Biografia

Nascido em 4 de maio de 1939 em Jerusalém, de uma família de origem russa e polonesa, Amos mudou seu sobrenome em 1954, de Klausner para Oz, uma palavra hebraica que significa “força, coragem”. No mesmo ano, deixou sua cidade natal para trabalhar no kibutz Hulda.

Ele publicou seus primeiros contos com pouco mais de 20 anos, em um periódico local. De volta a Jerusalém, estudou filosofia e literatura na Universidade Hebraica antes de retornar ao kibutz, onde por 25 anos dividiu seu tempo entre escrever e dar aulas.

Amos Oz em 2007 — Foto: Walter Craveiro

Amos Oz em 2007 — Foto: Walter Craveiro

Como soldado de reserva, Amos lutou no Sinai durante a Guerra dos Seis Dias de 1967 e nas Colinas de Golã na Guerra do Yom Kippur, em outubro de 1973.

Desde então, o autor publicou vários artigos e ensaios sobre o conflito árabe-israelense, nos quais fazia campanha por um compromisso israelense e palestino baseado no reconhecimento mútuo e na coexistência entre Israel e um Estado palestino na Cisjordânia e em Gaza. Seus trabalhos sobre o tema foram traduzidos no mundo todo.

Em 2013, o autor foi reconhecido com o prestigiado prêmio literário Franz Kafka, em Praga. Ele também venceu o Prêmio Goethe em 2005, o prêmio Príncipe das Astúrias em 2007, o Prêmio da Paz dos livreiros alemães em 1992 e o Prêmio Israel de Literatura de 1998.

Ativismo

Nos anos 60, o escritor também foi ativo no grupo social-democrata Min Hayesod, que se opunha ao culto à personalidade em torno do então primeiro-ministro israelense David Ben-Gurion.

Tornou-se o principal porta-voz do movimento Paz Agora (também conhecido como Peace Now), fundado em 1977 com sua participação. A organização foi criada com o propósito de alcançar a paz interna e externa para Israel.

O escritor israelense Amos Oz, em foto de 2016 — Foto:  Leonardo Cendamo/Leemage/AFP/Arquivo

O escritor israelense Amos Oz, em foto de 2016 — Foto: Leonardo Cendamo/Leemage/AFP/Arquivo

Em entrevista à GloboNews, em julho de 2017, Amos contou que, por seu ativismo, foi chamado de traidor por alguns grupos extremistas israelenses. Ele considerava o título uma honra:

“Acho que ‘traidor’ pode ser um título honorário. Muitos grandes homens e mulheres da História foram chamados de traidores simplesmente por estarem um pouco à frente de seu tempo.”

Para o escritor, havia uma “radicalização no mundo todo da extrema direita”, assim como uma “certa radicalização da extrema esquerda”. “Muita gente se esquece de que o extremismo produz desastres colossais.”

Na entrevista, o autor também falou sobre o papel político do escrítor. “Quais são as qualificações que um escritor tem para discutir política? Eu não sou especialista em nada. Às vezes gosto de pensar que sou especialista em especialistas, mas eu tenho ouvido para palavras, para a linguagem, porque a linguagem é a minha ferramenta”. Ele acrescentou:

“Sinto que é meu dever ser bombeiro da linguagem ou pelo menos o detector de fumaça. Eu ergo minha voz e grito sempre para combater uma linguagem corrompida.”

Repercussão

Autoridades e artistas usaram as redes sociais para lamentar a morte do escritor. Emmanuel Nahshon, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, disse que Amos foi “uma das vozes literárias mais proeminentes” do país.

“Uma perda para todos nós e para o mundo. Que a sua memória seja abençoada”, escreveu.

“Muitas vezes, em momentos trágicos, quando a certeza parecia vacilar e o chão se esquivar, eu me perguntava: ‘O que pensa Amos Oz? O que diz Amos Oz?'”, disse o escritor francês Bernard-Henri Lévy. (Fonte:G1)