Os últimos anos têm sido marcados pela pandemia da covid-19 e – ainda que tenha havido um avanço no combate à doença com a vacinação – são muito claros os efeitos a longo prazo causados na política e na economia, mas também nas relações interpessoais.
Com as restrições e fechamentos de estabelecimentos como bares e restaurantes, o flerte teve que migrar ainda mais para a tela do celular, por meio das redes sociais e dos aplicativos de relacionamento. Enquanto havia muitas dúvidas se os relacionamentos já estabelecidos sobreviveriam à quarentena, alguns começavam a surgir dentro do isolamento.
É o caso de Kelson Oliveira Batista, de 45 anos, contator técnico administrativo no Hospital Geral de Parauapebas, e Jhoseline Correa Feitosa Oliveira, estudante de 34 anos, que se conheceram no dia 11 de abril de 2020, e naquele mesmo ano começaram a namorar e morar juntos.
Leia mais:A história do casal começou cerca de uma semana antes de um lockdown na cidade de Parauapebas, durante um almoço promovido por um casal em comum de ambos. Segundo eles, a paixão foi à primeira vista, e naquele mesmo dia já começaram a demonstrar o interesse um pelo outro.
Com o passar dos dias – e conversando pelas redes sociais – eles resolveram jantar na casa de Kelson, já que os restaurantes e bares estavam sob restrições. O casal relembra que, pouco antes daquele primeiro encontro, Jhoesline quebrou o dedo enquanto ensinava o sobrinho a ‘plantar bananeira’ para gravar um TikTok, e a noite de encontro iniciou no hospital.
Foi a partir daí que o relacionamento começou a avançar. Isolados, os dois se restringiam aos poucos encontros um na casa do outro e, com o tempo, começaram a se afeiçoar pela companhia mútua – algo novo para Kelson, habituado aos tempos livres a sós após o divórcio, que costumava dedicar às suas leituras.
Passados alguns meses, por volta de setembro daquele ano, eles decidiram unir as famílias. Ele com uma filha e ela levou dois sobrinhos para morar juntos. Quinze dias depois, no entanto, algo aconteceu: Jhoseline sofreu um acidente no trabalho, onde caiu de uma escada.
O acidente a deixou 21 dias internada, chegando a ir para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) e ficar paraplégica por algum tempo. De acordo com o casal, alguns médicos temiam que ela não recuperasse o movimento das pernas, mas com o suporte de profissionais, da fisioterapia e também de seu parceiro, acabou conseguindo se recuperar completamente, num processo que durou cerca de quatro meses.
Eles relatam, bem-humoradamente, que a longevidade do relacionamento contrariou as expectativas dos amigos próximos, que não acreditavam que duraria a união de um calmo pisciano e uma energética ariana, mas eles conseguiram se acertar.
Desde então, o casal segue unido e feliz, com uma grande família. O noivado logo chegou e eles pretendem se casar em breve. Para todos os efeitos, ainda são jovens namorados que pretendem comemorar juntos o Dia dos Namorados, que eles unem à sua tradicional comemoração mensal do dia 11, data em que se conheceram.
O isolamento – aquele que geraria dúvida quanto à integridade dos relacionamentos – acabou sendo, para estes dois e para muitos outros, uma forma de se aproximar e conhecer, em meio às várias dificuldades, novas formas de amar, amar nos tempos de pandemia, como analogia ao Amor nos tempos do Cólera, de Gabriel García Márquez.
(Clein Ferreira)