Um grupo internacional de cientistas descobriu uma ligação entre as bactérias do intestino e a ocorrência do Alzheimer. Para chegar à conclusão, os estudiosos transplantaram a microbiota fecal de pessoas com a doença neurodegenerativa em ratos adultos. Ao observar os animais, descobriram que eles tinham deficiências em comportamentos dependentes da neurogênese, um tipo de plasticidade cerebral essencial para certas funções de memória e humor.
O estudo publicado, nesta quarta-feira (18/10), na revista Brain, também revela que os sintomas apresentados pelos ratos eram semelhantes a questões cognitivas enfrentadas pelos voluntários com Alzheimer. Segundo os autores, esses pacientes apresentavam níveis mais elevados de mediadores inflamatórios na corrente sanguínea. Também tinham maiores quantidades de calprotectina — um marcador de inflamação intestinal — o que revela uma grande abundância de bactérias promotoras de inflamação e uma redução na quantidade de bactérias anti-inflamatórias nas amostras de fezes.
“Uma composição microbiana alterada e seus metabólitos têm sido observados em pacientes com Alzheimer. Um estado inflamatório no intestino pode levar à quebra da barreira intestinal, ao aumento de produtos inflamatórios e de derivados de bactérias circulando no corpo. Como consequência, há a inflamação no cérebro”, relatam os autores. O experimento indica, ainda, que o sangue dos pacientes afetou negativamente a criação de neurônios, chamada neurogênese, em células humanas cultivadas em laboratório.
Leia mais:Conforme o grupo, essas descobertas podem abrir caminho para novos métodos de diagnóstico e tratamento. “As pessoas com Alzheimer são, normalmente, diagnosticadas durante ou após o início dos sintomas cognitivos, o que pode ser tarde demais, pelo menos para as abordagens terapêuticas atuais. Compreender o papel dos micróbios intestinais (…) antes do potencial início dos sintomas pode abrir caminhos para o desenvolvimento de novas terapias ou mesmo intervenção individualizada”, indica, em nota, Yvonne Nolan.
Meia-idade
O próximo passo é estudar essa relação em pessoas de meia-idade. “Ao pesquisar o papel do eixo microbiota-intestino-cérebro na moldagem das mudanças de memória e na regulação da inflamação durante a meia-idade, podemos obter informações sobre uma assinatura da microbiota intestinal que pode ser preditiva de declínio cognitivo mais tarde na vida”, cogitam os autores.
Haroldo Chagas, chefe de neurocirurgia do Hospital Federal da Lagoa, no Rio de Janeiro, sublinha ser necessário descobrir novas informações sobre a doença. “É importante continuar estudando os mecanismos do Alzheimer. Trata-se de uma doença muito complexa. Compreender melhor seus mecanismos, pode levar ao desenvolvimento de tratamentos mais eficazes”, diz. “Outro ponto relevante é que o Alzheimer não afeta apenas o indivíduo diagnosticado, mas também as famílias e a sociedade. Pesquisas nessa área são essenciais para melhorar a qualidade de vida e reduzir o ônus da doença”
(Correio Braziliense)