Correio de Carajás

Alunos do EJA realizam exposição cultural na Praça São Félix de Valois

Objetivo é potencializar o trabalho da educação de jovens e adultos, ofertada em dezenas de escolas de Marabá

Discentes do EJA realizam mostra cultural na Praça São Félix de Valois com a apresentação de trabalhos

Alunos de onze escolas do projeto de Educação de Jovens e Adultos em Marabá realizaram na última sexta-feira, 24, na Praça São Félix de Valois, na Velha Marabá, uma exposição cultural com a apresentação dos trabalhos realizados pelos discentes durante o semestre.

Com o tema “Saberes literários da EJA”, os estudantes levaram em consideração sua trajetória de vida e seu cotidiano para produzir o material exposto. Dentre os temas apresentados teve: folclore paraense, educação e trabalho, histórias de vida, colcha de retalhos, entre outros.

“A nossa prática pedagógica partiu dos saberes, de ouvir os alunos e construir coletivamente. É importante que eles aprendam a partir da sua própria realidade. Costumo dizer que hoje estamos vivendo aqui uma pororoca de multiculturalidade”, disse Adriana Machado, coordenadora do EJA na Secretaria Municipal de Educação de Marabá, ressaltando que o objetivo central do evento foi potencializar o trabalho da educação de jovens e adultos, mostrando para a sociedade marabaense que o projeto está pronto para atender quem precisa.

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O EJA funciona de forma flexível, com turmas regulares e aulas diárias, mas há também modalidade em que os alunos vão à escola entre duas e três vezes na semana. No entanto, um dos pontos principais levados em consideração pela coordenação do EJA é a emancipação do aluno.

“A educação é para além do ler e escrever. É uma libertação para o mundo. Atualmente, a rede possui 2.500 alunos matriculados com uma faixa etária diversa. Na verdade, o público do EJA mudou muito nos últimos anos e estamos tendo cada vez mais jovens procurando essa modalidade de educação”, revela Adriana, enfatizando que muitos desses jovens ainda não estão alfabetizados e letrados.

Casal se encoraja

Com o apoio do marido e filhos, Jordane Rocha decidiu entrar no início de 2023 na EJA da Escola Pedro Peres Fontenelle, em Morada Nova, bairro onde mora.

Ela conta que ficou muito tempo parada, sem ir à escola, relembrando que parou de estudar na oitava séria. “Eu levei um choque de realidade e decidi que não queria ficar assim, então resolvi retornar aos estudos porque tenho muita vontade de fazer faculdade. Nunca é tarde. Estou com 36 anos e acredito que ainda tem chance de eu dar essa volta por cima”, diz a aluna.

Aliás, o grande incentivador foi o marido, que também voltou à sala de aula junto com ela. “Resolvemos voltar a estudar juntos. Um dando força para o outro. Agora quero continuar. Depois fazer o ensino médio e fazer faculdade de pedagogia”.

Juntamente com os demais colegas da EJA, Jordane contou um pouco da apresentação que a escola levou à praça, que teve como tema “colcha de retalhos”.

Jordane Rocha foi incentivada pelo marido, que juntos voltaram a estudar

Para ela, o tema foi uma volta ao passado. Ela fala que todos os alunos assistiram ao filme Colcha de Retalhos, debateram o tema em uma roda de conversa, quando falaram um pouco das memórias do passado. “Cada um foi falando sua vivência. E eu falei da minha infância, que foi muito difícil, mas foi muito boa. Apesar das dificuldades meus pais se esforçaram muito e nós éramos muito felizes e unidos”, recorda.

Com 182 alunos no EJA da Escola Pedro Peres Fontenelle, Nilza Helena de Jesus, coordenadora do local, conta que a ideia do tema da exposição foi costurar as narrativas dos alunos. “Esse projeto traz as vivências e memórias dos nossos estudantes, umas boas e outras não tão boas, mas que muitos estão superando por meio da educação. O projeto é focado na leitura, mas tem um lado social e cultural. Foi a partir dessas histórias que decidimos fazer uma grande colcha de retalhos, que traz uma representatividade do que é mais forte na história de cada um”, conta.

Nilza Helena e a colcha de retalhos feita pelos alunos da Escola Pedro Peres, de Morada Nova

Educação

Para Fábio Rogério Rodrigues Gomes, diretor geral de ensino da Secretaria Municipal de Educação, a exposição dos trabalhos realizados pelos alunos do EJA tem o objetivo de dar visibilidade para a política de educação de adultos, que na verdade envolve de jovens a idosos.

Fábio Rogério e os alunos vestidos de cangaceiros na temática sobre o Cordel Encantado

“Outro ponto importante é o de valorização do trabalho dessas pessoas que, historicamente, por razões diversas, deixaram de frequentar a escola e foram de alguma forma mobilizadas depois de um tempo para retornar para sala de aula e que tiveram uma vida de muita riqueza, seja no ambiente familiar, no mercado de trabalho formal e informal, e em suas vivências do cotidiano. Esse momento é de reunir e valorizar essas pessoas e mostrar para a sociedade o que elas produzem para além da escola, incentivando para a permanência deles em sala de aula”. (Ana Mangas)