Há muitos anos, o hábito de escrever cartas para entes queridos foi praticamente perdido, principalmente por causa da internet e das redes sociais. Mas alunas de três turmas de 9º ano de uma escola marabaense resgataram a prática e foram responsáveis por um gesto de amor, conforto e empatia com mulheres que são pacientes oncológicos no Hospital Regional de Marabá.
Coincidentemente, a casa de saúde e a instituição de ensino foram batizadas em homenagem à mesma pessoa: Dr. Geraldo Veloso.
O projeto ‘Elas por Elas’, liderado por Ulisses Pompeu, professor de Língua Portuguesa, muito além de ensinar um gênero textual para as estudantes, é um exemplo sobre como celebrar, de maneira sensível, o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março.
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Os abraços aconchegantes, materializados nas cartas, foram entregues na manhã de quinta-feira (6), pela aluna Thainá de Oliveira Naves, 14 anos. Acompanhada da equipe do Correio de Carajás e funcionários do Hospital Regional, a adolescente conheceu quatro pacientes que realizavam sessões de quimioterapia naquele momento: Conceição dos Reis Silva, 37 anos; Claudineide Batista de Araújo, 34 anos; Rosely Alves de Lemos, 54 anos e Andréia Costa Feitosa, 33 anos.

Foi Thainá quem recebeu a incumbência de ler algumas das cartas para as mulheres. A ocasião despertou a emoção em todos que presenciaram a cena, principalmente nas pacientes.
Inclusive, uma delas, Conceição, faz aniversário nesta sexta-feira (7), véspera do Dia Internacional da Mulher e a casualidade tornou o momento ainda mais especial para ela.
Moradora do núcleo São Félix, ela emocionou a todos quando revelou que foi sua filha de apenas 12 anos quem raspou seus cabelos no início da quimioterapia (agora ela está no quinto e último mês do tratamento).
“Eu não sei de onde ela tirou tanta força para fazer isso. Quando eu falei que ia ‘pelar’ minha cabeça, ela ficou com medo e disse que ia fazer. Em nenhum momento minha filha chorou”, relembra com lágrimas nos olhos e voz embargada.
O esposo de Conceição também participou do momento porque, assim como a filha, temia a reação da mulher ao perder os cabelos. “Que Deus abençoe minha filha grandemente”, pede a paciente. E grata pela carta que recebeu, ela deseja que a remetente também seja abençoada por Deus.
“Eu vou guardar ela para sempre, eu fiquei muito feliz por receber essa carta”.

MAIS QUE UM DIAGNÓSTICO
Daiane Uszynski, analista de humanização do HR, reflete que mulheres possuem um pacto de entendimento no amor e na dor, gerando uma sensibilização e acolhimento das pacientes oncológicas.
“É uma forma de levar para elas um acalanto, de mostrar que não estão sozinhas”, compartilha a analista. Ela afirma que se sentiu feliz com a entrega das cartas – ação realizada pela primeira vez no hospital – pois a humanização é um ato feito por um conjunto de diversas pessoas.
“A gente sempre trabalha para sensibilizar as pessoas para enxergar esse paciente além do diagnóstico, além do protocolo. Olhar para ele como um ser humano naquele momento de fragilidade”, pontua Daiane.
Por sua vez, Íris Pena vice-diretor da Escola Municipal Geraldo Veloso, exalta a realização do projeto ‘Elas por Elas’. “Nós estamos desenvolvendo essa parte social e humanitária com os alunos”, destaca.

Thainá de Oliveira Naves, 14 anos, cursa o 9º ano C na Escola Geraldo Veloso e compartilhou seus sentimentos sobre a experiência de escrever e entregar as cartas para as pacientes.
“Foi uma experiência muito emocionante porque é uma situação em que a pessoa fica muito debilitada e a gente acaba se comovendo com a situação. Eu fiquei muito feliz e emocionada em participar disso”, testemunhou.

Com a escrita da carta ela e as colegas desejam passar mensagens de motivação, para que as pacientes se sintam acolhidas e felizes com as palavras da missiva.
“Eu me senti muito feliz e realizada em saber que estou levando um pouco de conforto e aconchego para elas”, comemora a adolescente.
(Luciana Araújo)