O Programa “Alfabetiza Pará”, lançado há pouco mais de dois meses pelo governador Helder Barbalho e pelo secretário de Estado de Educação Rossieli Soares, foi apresentado pela primeira vez em Marabá, na manhã desta segunda-feira, 29, no auditório do Carajás Centro de Convenções (Folha 30, Nova Marabá). A solenidade contou com a presença de profissionais da educação da região sul e sudeste do Pará, e de autoridades políticas do Estado, do município e de sua circunvizinhança. O evento foi realizado no período da manhã e da tarde.
João Chamon Neto, secretário Regional de Governo do Sul e Sudeste do Pará, esteve presente no lançamento ressaltando que o governo do Estado tem entre suas prioridades a pauta da educação. “O governador vem fazendo tudo o possível para diminuir toda essa demanda, esse déficit que ficou para trás”, frisa. Ele complementa refletindo que o “Alfabetiza Pará” intenta suprir o anseio das famílias de verem as crianças alfabetizadas na faixa etária indicada pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que é de oito anos. O processo de alfabetização é um direito fundamental para toda criança”, enfatizou.
Marabá é uma cidade polo com mais de 50 mil alunos, que está localizada em uma região de fácil acesso aos municípios vizinhos, fatores que ensejam a escolha da cidade para sediar a apresentação do programa no sul e sudeste do Pará. É o que explica Marilza de Oliveira Leite, secretária Municipal de Educação. “A gente já tinha algumas dificuldades, mas a pandemia as aumentou. Os alunos não tiveram dois anos de aula, não tiveram professores por perto e isso é extremamente delicado. Então, temos hoje nos terceiros, quartos e até quintos anos, esse letramento deficiente”, reconhece a gestora.
Leia mais:Atualmente, o município possui dois projetos voltados para a alfabetização, um deles em parceria com a Vale e com a Fundação Getúlio Vargas, o “Alfabetização nos Trilhos”, que possui duração de quatro anos, explica Marilza. Ela complementa informando que o projeto visa alfabetizar, de maneira adequada, estudantes que possuem defasagem. O outro projeto é o Núcleo de Alfabetização, criado pela Secretaria Municipal de Educação (Semed) em 2022.
“Agora, o programa ‘Alfabetiza Pará na idade certa’ vai ser uma contribuição valiosa, nós agradecemos muito a iniciativa, ao receber do Estado o apoio técnico, pedagógico e financeiro, somado aos projetos já em andamento”, enaltece, Marilza Leite, que crê que será possível alavancar a alfabetização no município.
Questionada pela reportagem sobre qual a estimativa de crianças de até oito anos que não estão alfabetizadas, ela responde que é complexo fazer um prognóstico neste momento. Apesar disso, a secretária expõe que é observado em alunos de terceiro e quarto ano, uma dificuldade maior do que antes da pandemia de covid-19. “O importante, na minha opinião, é que isso está sendo pensado pelos educadores, pelo governo, tanto municipal, quanto estadual e a gente tem uma expectativa muito positiva em relação ao “Alfabetiza Pará”.
“ALFABETIZA PARÁ”
Lançado no último mês de março, através da Lei Ordinária nº 9867, o “Alfabetiza Pará” foi inspirado em um programa similar, executado no estado do Ceará. Com a iniciativa, 144 municípios paraenses serão beneficiados com ferramentas técnicas, pedagógicas e financeiras, que irão apoiar o desenvolvimento adequado da alfabetização de crianças de até 8 anos.
“A sanção do ‘Alfabetiza Pará’ pelo governador Helder Barbalho é um impulso de esperança e de possibilidades para a retomada do ensino de qualidade em cascata. Alfabetizar as crianças na idade certa possibilita a diminuição da distorção idade-série, do abandono e evasão escolar, ao passo em que potencializa o aprendizado e chances de sucesso do estudante ao longo da vida, especialmente no cotidiano além da escola. Esse é mais um passo importantíssimo. A educação do Pará será a que mais cresce no Brasil e parte considerável desse crescimento será possível com esse programa”, comemorou Rossieli Soares, o secretário de Estado de Educação, quando o programa foi lançado.
Em regime de colaboração, a iniciativa prevê bolsas como incentivo à atuação dos profissionais de alfabetização frente aos recursos, especificidades e materiais didáticos disponibilizados. Além disso, haverá premiação para as instituições de ensino que obtiverem os melhores resultados. Para aquelas que tiverem um menor desempenho, haverá investimento financeiro para dar prosseguimento e potencializar as ações de alfabetização nas escolas.
Dados da última edição da Avaliação Nacional de Alfabetização (ANA) do Ministério da Educação (MEC), revelam que somente 23,6% dos alunos do terceiro ano do ensino fundamental do Pará são considerados alfabetizados, colocando o Estado na 24ª colocação do ranking nacional, o terceiro pior do Brasil.
No Pará, 28 municípios encontram-se no nível elementar (abaixo do básico); 104 municípios no nível básico e nenhum nos níveis adequado (acima do básico) e desejável (nível ideal). Outros 12 municípios não alcançaram dados suficientes para serem ranqueados.
A FOFURA DE MILENA
Milena Araújo Coelho, 7 anos, estudante do 2º ano do ensino fundamental na EMEF Pedro Cavalcante, Folha 12, na Nova Marabá, encantou a todos que estavam presentes na abertura do evento. A pequena realizou a leitura do livro “O Grande Rabanete” (da autora Tatiana Belinky, natural da Rússia e radicada no Brasil).
A menina é filha de pai e mãe surdos, seus avós são ouvintes e acompanham de perto a sua vida escolar. Durante sua participação, Milena soletrou seu nome em Libras (Língua Brasileira de Sinais). Além de surpreender a todos com uma oratória impecável para alguém de sua idade, e de suas habilidades com a linguagem de sinais. Ela também declamou (de memória) o poema “Leilão de jardim”, de Cecília Meireles, poetisa brasileira.
A escola onde Milena estuda, atualmente, a EMEF Pedro Cavalcante, alcançou a nota 6,2 no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2021, ficando em 1º lugar entre as instituições de ensino do município.
Em entrevista concedida ao CORREIO em setembro de 2022, Arionide Rodrigues Martins, diretora da escola, contou que os desafios impostos pela pandemia de covid-19 foram transpostos com muito esforço e dedicação da equipe, que por muitas vezes trabalhou além de sua carga horária.
“Nesse período, nós nos desdobramos em fazer as atividades propostas pela Semed, que apontava para o trabalho em formato de home office. Entretanto a equipe gestora sempre vinha para a escola e promoveu a mobilização dos pais, realizando busca ativa, que foi super importante”, detalhou a diretora na época. (Luciana Araújo)