Pelo segundo ano consecutivo, o escritor marabaense Airton Souza irá participar de um dos maiores eventos literários do Brasil, a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que acontece entre 9 e 13 de outubro em Paraty, no Rio de Janeiro.
Mas o retorno só foi possível graças a uma iniciativa da Editora Record, responsável pela publicação do livro “Outono de Carne Estranha”. Além de estar presente na feira, ele também vai participar de uma programação paralela da editora.
“Essa participação representa mais um passo na divulgação da literatura, sobretudo da região Norte e do sudeste do Pará, para todo o Brasil”, sintetiza o autor.
Leia mais:A presença de Airton está confirmada em duas mesas, ambas no dia 11, sexta-feira. Na primeira delas, o marabaense vai dividir o palco da Casa Record com o romancista Henrique Rodrigues e com o poeta Renan Silva. Batizado como “A literatura democrática dos prêmios”, o painel será mediado por Rodrigo Lacerda e inicia às 10 horas.
Em entrevista ao CORREIO, Airton detalha que este é uma roda de conversa estratégica para aqueles escritores que ambicionam a inscrição em prêmios literários. O diálogo vai abordar a importância dos certames para que autores e suas obras ganhem não apenas visibilidade, mas para que ocupem lugares que jamais imaginaram.
Como Airton, homem preto que saiu do interior do Pará e ganhou o país com a sua obra, vencedora do Prêmio Sesc de Literatura 2023.
A segunda mesa que ele irá participar é justamente para falar sobre o romance, que quebra paradigmas ao abordar de maneira visceral a realidade – muitas vezes mascarada – do garimpo de Serra Pelada, tendo como pano de fundo um romance homossexual.
“Essa é uma oportunidade de falar sobre o que o livro representa para na literatura brasileira, principalmente na questão da denúncia e sobre as histórias (do garimpo) que foram invisibilizadas (ao longo do tempo)”, reflete o escritor. A segunda roda de conversa acontece também na sexta-feira, a partir das 20 horas e será mediada por Pedro Gontijo.
Para a reportagem, o multipremiado escritor reforça que prêmios literários são uma oportunidade para aqueles que raramente teriam chances em um universo tão gigantesco quanto o da literatura nacional. Lugar pouco ocupado por autores do norte do país, cuja escrita é muitas vezes invisibilizada.
NOVO BOICOTE?
“Esse ano houve um boicote do Sesc em relação aos vencedores do prêmio do ano passado”, desabafa Airton Souza. Ao contrário do que era tradição, este ano o Serviço Social do Comércio (Sesc) não levará os vencedores do Prêmio Sesc de Literatura de 2023 para “passarem o bastão” aos premiados de 2024.
“Tanto eu, quanto a Betânia Pires Amaro fomos cortados da programação do Sesc. Eles tomaram essa decisão por conta de problemas que a própria diretoria criou”, detalha.
Em meados de março deste ano, em uma entrevista para o CORREIO , Airton abriu o coração e contou sobre um possível caso de homofobia e censura por parte do alto escalão do Prêmio Sesc de Literatura. O centro da controvérsia é o romance “Outono de Carne Estranha”.
Na época, um texto minucioso do Estadão apontou que o estopim desse cenário aconteceu em novembro do ano passado, em um evento comemorativo dos 20 anos do prêmio, durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip). Na ocasião, Airton leu os primeiros parágrafos do livro, com teor sexual, e teria gerado desconforto entre dirigentes do Departamento Nacional do Sesc.
Desde então ele e outros vencedores daquela edição vem sofrendo boicotes em eventos liderados pelo Sesc.
Mas, assim como no passado, a Editora Record reafirmou seu compromisso com Airton e o convidou para participar da Flip e falar de seu livro em um evento de alcance internacional.
REGIÃO NORTE PRESENTE
“A região norte enfrenta um problema de ser invisível para o resto do país”, exprime Airton Souza ao ser questionado sobre a relevância de sua presença na Flip.
Ele pondera que nos últimos anos a literatura nortista vem mostrando muita força, principalmente através dos prêmios literários. Com essa ocupação, autores e autoras da região encontram brechas para expor não só seus trabalhos, mas para contar para o Brasil uma parte desconhecida de sua história.
“Nós estamos aqui. Fazemos parte disso, mesmo que muitas vezes vocês tentem silenciar nossa participação”, finaliza.
(Luciana Araújo)