Para quem vive em Belém (PA), a COP30 já começou há cerca de dois anos, com tantos eventos e debates pela cidade. Para outros, a agenda teve início na semana passada, com a Cúpula do Clima. Mas, oficialmente, a COP30 é aberta hoje (10/11), com a expectativa de que seja uma conferência mais para colocar em prática os compromissos já assumidos do que para criar outros.
A COP30 inicia já sob o embalo da Cúpula do Clima, quinta e sexta-feira passada (06 e 07/11), que gerou resultados concretos. U$ 5,5 bilhões foram aportados para o Fundo Florestas Tropicais para Sempre e o Fundo Amazônia recebeu doação de R$ 33 milhões da Suíça. Pelo menos 28 países entregaram novas metas climáticas, 24 países endossaram a Declaração de Belém sobre Fome, Pobreza e Ação Climática Centrada nas Pessoas, 19 países assinaram embaixo no Compromisso Belém 4X sobre Combustíveis Sustentáveis, e 11 concordaram com a Declaração sobre a Coalizão Aberta de Mercados de Carbono Regulatório. Foi ainda lançado o texto da Declaração de Belém sobre o Combate ao Racismo Ambiental.
Mas o que as próximas duas semanas podem trazer de positivo para a Amazônia, que sedia essa discussão?
Leia mais:O Amazônia Vox conversou com Yanê Amoras, diretora de pesquisa jurídica da Amazon Investor Coalition (AIC) e membro da Rede Amazônidas pelo Clima (RAC). Amoras ressaltou cinco pontos importantes:
1. Mais recursos e investimentos internacionais
Amoras enxerga que, se o Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF, na sigla em inglês) conseguir o financiamento mínimo para funcionar no primeiro ano, “certamente a Amazônia vai ter muitos benefícios e muito a ganhar”. O reforço do financiamento climático pode canalizar bilhões de dólares para projetos amazônicos em diversas áreas, como prevenção de queimadas, proteção de comunidades tradicionais, pagamento por serviços ambientais, recuperação de áreas degradadas, bioeconomia e cadeias produtivas sustentáveis, além de adaptação climática, dentre outras necessidades.
2. Fortalecimento da bioeconomia e da inovação amazônica
Os financiamentos podem impulsionar cadeias produtivas sustentáveis, estimular pesquisa e inovação em soluções baseadas na natureza e ampliar o pagamento por serviços ambientais, valorizando o conhecimento local e as práticas tradicionais.
3. Avanços em governança e adaptação climática
Apesar de considerar que as últimas COPs foram “decepcionantes em relação aos resultados alcançados pós-negociações”, Amoras diz que esta edição carrega uma expectativa de ser uma COP de implementação. “A gente sabe que vive um contexto geopolítico não tão favorável para as demandas de mudanças climáticas, para esses temas. De todo modo, se espera NDCs [compromissos climáticos dos países] mais ambiciosas”, ressalta. A COP pode consolidar planos de adaptação às mudanças do clima, com foco em infraestrutura resiliente, segurança hídrica e alimentar, além de melhor governança territorial e inclusão social nas políticas públicas amazônicas.
4. Compromissos climáticos mais ambiciosos do Brasil
“O próprio Brasil deve anunciar metas mais reforçadas vinculadas ao desmatamento zero até 2030, com maior participação de energia renovável. Isso é extremamente importante para a Amazônia”, aponta. Os anúncios podem ajudar a reduzir pressões sobre a floresta e fortalecer a transição ecológica na região.
5. Protagonismo global da Amazônia
“Também acho que não dá para deixar de falar sobre o protagonismo a partir daqui que a Amazônia pode ter de forma mais concreta e consolidada globalmente”, conclui Amoras. Sediar a COP30 em Belém coloca a região no centro das decisões climáticas, consolidando a Amazônia como voz ativa nas negociações internacionais e referência mundial em soluções socioambientais.
(Fonte: Amazônia Vox/texto: Alice Martins Morais)
