Correio de Carajás

Acampamento da Juventude do MST recebe sessões do FIA CineFront

Foto/Divulgação

O Acampamento Pedagógico da Juventude do MST na Curva do S, em Eldorado do Carajás, sudeste do Pará, recebe desde ontem, domingo (13), sessões especiais de filmes com curadoria do Festival Internacional Amazônida de Cinema de Fronteira – FIA CineFront, que completa 10 anos de existência em 2025.

Abertas ao público em geral, as sessões continuam hoje (14) e amanhã (15), às 19h. O festival se associa às atividades pedagógicas e culturais do acampamento para celebrar a memória e luta pela terra dos camponeses mortos ali, em 1996.

Organizado de forma colaborativa, envolvendo produtoras culturais, universidades e movimentos sociais, o FIA CineFront nasceu em Marabá-Pará, em 2015, fruto de um desejo de realizadores por um festival que valorizasse obras cinematográficas com conteúdo crítico, que trouxesse às telas as lutas sociais contra a violência e degradação da Amazônia e de seus povos.

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No primeiro ano do festival, o cartaz inaugural trazia uma arma feita a partir de equipamentos de produção audiovisual: tripé, lente e câmera. Segundo Alexandra Duarte, documentarista, curadora e uma das fundadoras do festival, “o CineFront acredita que o cinema é uma arma, um instrumento de luta, às vezes um dos poucos aos quais temos acesso.

Uma arma de denúncia, um meio poderoso de publicizar as vozes daqueles que têm esse direito negado. Uma arma cortante ao revelar realidades marginalizadas, distorcidas, invisibilizadas. Poderosa por sensibilizar, emocionar, indignar, mas também por inspirar.”

Ao longo desses 10 anos, muitas obras cinematográficas apresentadas no festival abordaram as consequências da frente de expansão de empreendimentos do capitalismo sobre a Amazônia, como as atividades empresariais do agronegócio, da mineração, comércio madeireiro, hidrelétricas etc, que provocaram a transformação da região em um território de conflitos, em que populações indígenas, ribeirinhas, camponesas etc, buscam resistir a situações que impactam suas comunidades e suas vidas, gerando um front de batalhas contra a degradação da natureza, a contaminação dos rios, a escravização pessoas, o assassinato de defensores de direitos humanos e lideranças populares.

Como afirma Alexandra Duarte, nas últimas décadas, “a Amazônia se transformou na periferia do mundo, o lugar onde se pode explorar em nome de uma economia que incrementa o PIB, mas não alimenta a população, afinal, ninguém come ferro, ninguém come ouro, ninguém come carvão. Uma economia pungente para a parte do globo que lucra com a extração de seus recursos, mas que adoece e mata povos indígenas com contaminação de mercúrio, transformando a Amazônia numa nova Minamata, em pleno século XXI.”

FILMES

Defendendo a arte cinematográfica como um instrumento de transformação dos modos de ver o mundo e provocador de reflexões críticas sobre a realidade que vivemos na Amazônia, novamente o FIA CINEFRONT traz grandes lançamentos do cinema documental nacional para apresentar ao público paraense, entre eles temos os filmes ‘Hutumosi Kerayuwi – A Queda do Céu’ dirigido por Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha e o filme ‘Pau D’arco’ dirigido por Ana Aranha, filme que conta a história da chacina de dez trabalhadores sem-terra ocorrida no sudeste do Pará, em maio de 2017.

Legado de Glauber Rocha em Eryk Rocha

Eryk Rocha, é filho do grande cineasta brasileiro Glauber Rocha, ícone do Cinema Novo e tem realizado diálogos ultimamente com o time de produtores executivos do CineFront. Nascido em Brasília, em 1978, já viveu em vários países da América Latina, estudou cinema na Escola San Antônio de Los Baños, em Cuba onde realizou “Rocha que voa” (2002), seu primeiro longa selecionado para os festivais internacionais de Veneza, Locarno, Montreal, Rotterdam e Havana.

Também já foi premiado no Festival Internacional É Tudo Verdade, no Festival CineSul em 2002, no Festival do Novo Cinema Latino-Americano, em Havana (2002) e o Prêmio de Melhor Ópera Prima no Festival de Rosário, na Argentina (2003). A sua filmografia é composta por obras como Cinema Novo (2016), Campo de Jogo (2015), Jards (2012), Quimera (2004) e Rocha que voa (2002), todos documentários.

A Queda do Céu (2024) é baseado no livro homônimo fruto de 30 anos de trabalho do xamã Davi Kopenawa Yanomami, um dos principais líderes indígenas do mundo, e do antropólogo francês Bruce Albert. O filme é falado principalmente na língua Yanomami, além de trazer uma reflexão contundente sobre o modelo de depredação generalizada dos povos e do planeta, gerada por aqueles que Davi chama de “povo da mercadoria”, ou seja, os Brancos.

O filme traz imagens inéditas da importante festa Reahu realizada em homenagem ao grande xamã e sogro de Davi Kopenawa. A partir dessa cerimônia, Davi Kopenawa faz seu diagnóstico, seu aviso e seu convite para uma urgente transformação.

O documentário “Pau D’arco”, presente na programação do 10º CineFront em 2025 é uma coprodução da Repórter Brasil com a Amana Cine, tendo feito sua estreia no último sábado (5), em São Paulo (SP), no É Tudo Verdade, considerado um dos mais importantes festivais do gênero da América Latina. Dirigido por Ana Aranha, o filme documentário tem como contexto central a chacina de trabalhadores sem-terra ocorrida no município que dá nome à obra, no sudeste do Pará.

No dia 24 de maio de 2017, nove homens e uma mulher foram mortos em uma operação de forças policiais na fazenda Santa Lúcia, no município de Pau D’arco. Desde o massacre, uma equipe comandada por Ana Aranha vem pesquisando e se desdobrando no caso, o que acabou por gerar a produção de um documentário. Toda a história começa a partir de um sobrevivente e o advogado dos trabalhadores rurais. Inclusive, Ana Aranha estará na curva do S durante a programação do Abril Vermelho junto a equipe do MST regional e integrantes do CineFront com bate-papo após a exibição do filme no

O 10º FIA CINEFRONT é uma organização da TramaTeia Produções, em parceria com movimentos sociais, universidade pública e produtoras culturais locais. (Divulgação/Fia Cinefront)