Uma operação militar contra membros de um grupo separatista que sequestraram um trem com mais de 400 de passageiros no sudoeste do Paquistão chegou ao fim no início da tarde desta quarta-feira (12), no horário de Brasília —noite no horário local—, informou o Exército paquistanês.
Segundo um porta-voz do Exército, 33 separatistas e 21 reféns foram mortos. O Exército de Libertação do Baluchistão (ELB) assumiu a autoria do ataque.
O impasse entre os separatistas e as forças de segurança durou mais de 24 horas, porque o sequestro ocorreu em uma região remota do estado do Baluchistão, no sudoeste do país, e o grupo tinha homens-bomba entre os passageiros e ameaçou realizar execuções.
Leia mais:Um grupo separatista do Paquistão sequestrou um trem de passageiros na terça-feira (11) e mais de 24 horas depois ainda faz 250 reféns entre os mais de 400 passageiros que inicialmente estavam no trem. Os separatistas afirmaram nesta quarta-feira (12) que mataram 50 reféns.
Forças de segurança paquistanesas tentam libertar os passageiros nesta quarta, mas travam um impasse com os sequestradores, que têm homens-bomba e ameaçaram executar cinco reféns por hora até o governo cumprir suas exigências.
O Exército de Libertação do Baluchistão (ELB) assumiu a autoria do ataque, ocorrido no Baluchistão, no sudeste do país. Pelo menos 30 militantes do grupo foram mortos em confrontos com as forças do governo desde terça-feira. Até o final da quarta-feira, as forças de segurança haviam resgatado 190 dos 450 passageiros que estavam inicialmente no trem, de acordo com autoridades de segurança.
O grupo separatista afirmou que executou os 50 reféns em uma hora nesta quarta-feira por conta da “retaliação direta” das forças de segurança paquistanesas ao sequestro. O ELB também publicou um vídeo com o momento do ataque ao trem.
O número de reféns mortos deve ser maior, porque o momento do ataque na terça também causou mortes. No final da manhã desta quarta-feira, autoridades do Paquistão afirmaram à agência de notícias Associated Press que os sequestradores mataram “alguns” dos reféns, mas não haviam especificado quantos.
As forças de segurança estão evitando um confronto direto com os sequestradores, entrincheirados dentro do trem, por conta de preocupações com a segurança dos passageiros. Segundo o governo, a área remota e de difícil acesso em que o sequestro aconteceu também dificulta e estende o processo de resgate. O Exército paquistanês está participando da operação.
O ataque ocorreu perto de um túnel no distrito de Bolan, na província do Baluchistão. O trem viajava de Quetta para a cidade de Peshawar, no norte do país, quando foi atacado. Entre 70 e 80 militantes atuaram no sequestro, segundo uma fonte de segurança da agência de notícias Reuters.
Os militantes do grupo explodiram os trilhos e abriram fogo contra o trem, chamado Jafer Express, para forçar a locomotiva de nove vagões a parar. O maquinista ficou ferido, e os guardas a bordo foram atacados, mas não há detalhes sobre quantos eram ou o que aconteceu com eles. Segundo a Reuters, o maquinista e outras pessoas foram mortas no trem.
O porta-voz do ELB, Jeeyand Baloch, exigiu a libertação em até 48 horas de prisioneiros políticos Baloches, ativistas e pessoas desaparecidas que, segundo o grupo, foram sequestradas pelo Exército paquistanês. Se isso acontecesse, os militantes libertariam os passageiros, segundo Baloch. Até o momento, o governo não se pronunciou oficialmente sobre a exigência, mas já rejeitou demandas semelhantes no passado.
O primeiro-ministro paquistanês, Shehbaz Sharif, condenou o ataque e disse que os oficiais de segurança estão “rechaçando” os militantes. O ministro do Interior, Mohsin Naqvi, chamou os sequestradores de “inimigos” do Paquistão e o ataque de uma conspiração para desestabilizar o país.
Helicópteros estavam apoiando as forças paquistanesas na região montanhosa, disse o porta-voz do governo Shahid Rind, que descreveu o ataque como “um ato de terrorismo”.
As autoridades informaram que há mulheres e crianças entre os resgatados. Agentes de segurança foram mortos em confrontos com os sequestradores, mas o número de mortes não foi revelado. Os passageiros resgatados estão sendo enviados para suas cidades de origem, enquanto os feridos recebem tratamento em hospitais no distrito de Mach. Outros foram levados para Quetta, a capital provincial, a cerca de 100 km de distância.
Esta foi a primeira vez que os separatistas do ELB sequestraram um trem, embora o grupo já tenha atacado ferrovias no passado. O grupo regularmente ataca forças de segurança paquistanesas e também já alvejou civis, incluindo cidadãos chineses que trabalham em projetos bilionários ligados ao Corredor Econômico China-Paquistão. Estima-se que o ELB tenha cerca de três mil combatentes.
O Paquistão abriga milhares de trabalhadores chineses como parte da Iniciativa do Cinturão e Rota da China, que financia grandes projetos de infraestrutura, incluindo portos e aeroportos no Baluchistão. A China condenou o ataque e a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, afirmou que Pequim “continuará a apoiar firmemente o Paquistão no avanço de seus esforços de combate ao terrorismo”.
O que os sequestradores querem?
O grupo separatista alertou que a vida dos reféns estaria em risco caso o governo não aceitasse negociar e afirmou nesta quarta-feira que os reféns estavam sendo vigiados por homens-bomba.
Os trens no Baluchistão geralmente viajam com agentes de segurança a bordo, porque militares frequentemente utilizam a ferrovia para se deslocar de Quetta, uma cidade no oeste perto da fronteira com o Afeganistão, para outras partes do país. Em novembro, o ELB realizou um ataque suicida em uma estação ferroviária de Quetta que matou 26 pessoas.
Analistas alertam que o ataque ao trem e o foco em civis podem ter um efeito negativo para o ELB.
“Após falhar em causar danos significativos ao Exército do Paquistão dentro do Baluchistão, o ELB mudou seus alvos de militares para civis desarmados. Isso pode dar a eles atenção imediata da mídia e do público, mas enfraquecerá sua base de apoio entre a população civil, que deveria ser seu principal objetivo”, disse Syed Muhammad Ali, analista de segurança independente baseado em Islamabad.
Rico em petróleo e minerais, o Baluchistão é a maior e menos populosa província do Paquistão. A região é o centro da minoria étnica balúchi, cujos membros afirmam sofrer discriminação e exploração por parte do governo central.
Região marcada pelo separatismo
O Baluchistão, que faz fronteira com o Irã e o Afeganistão, há muito tempo é palco de insurgências separatistas que exigem maior autonomia do governo central em Islamabad e uma parcela maior dos recursos naturais da região.
Além disso, insurgências dos dois lados da fronteira entre Irã e Paquistão têm gerado tensões entre os países, que suspeitam mutuamente de apoio ou tolerância a grupos militantes do lado oposto.
No Irã, o grupo militante Jaish al-Adl realizou diversos ataques nos últimos anos. Teerã pediu ajuda ao Paquistão para conter essa ameaça, enquanto Islamabad quer que o Irã negue refúgio a combatentes do ELB.
Em janeiro de 2024, os dois países realizaram ataques aéreos em áreas fronteiriças um do outro, matando pelo menos 11 pessoas, mas rapidamente amenizaram a situação por meio de negociações.
(Fonte:G1)