Correio de Carajás

A volta de Tião do Cupu ao mercado da piscicultura

Com três represas e cinco tanques, ele quer mergulhar novamente no mercado e aproveitar a crescente demanda de pescado na região

Alto custo da ração para peixes é um dos motivos que dificultam a criação de peixes em Marabá

Em Marabá e região, Sebastião Felizardo de Souza, o Tião do Cupu, é um dos agricultores familiares mais badalados e apontados como grande referência na diversificação da produção em pequenas propriedades. Órgãos como Embrapa e Emater são aliados que ajudam a impulsionar ainda mais a produção dele por meio de formações e conhecimento técnicos sobre várias culturas.

Ele investiu em sistema agroflorestal com a plantação de diversas árvores frutíferas, como açaí, bacuri, banana, castanha-do-pará, pecuária, meliponicultura e, claro, o cupuaçu. Este último, o maior de todos, alcançando a expressiva marca de 80 toneladas de polpas retiradas em uma única safra. E foi exatamente essa última cultura que lhe rendeu o apelido de Tião do Cupu.

Mas há também investimentos na piscicultura ao longo de duas décadas. E foi para conhecer esse negócio que a equipe de Reportagem do CORREIO visitou a chácara da família de Tião do Cupu – que fica a 5 Km da Vila Sororó, que por sua vez fica distante 35 km do centro de Marabá.

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Ele mantém uma estrutura contendo 5 tanques e 3 represas e relembra que começou a criar peixes há mais ou menos 20 anos. Com investimentos altos na infraestrutura do local, o produtor observa que tudo foi construído aos poucos, ao longo das duas décadas, já que o custo é alto.

Em sua propriedade ele demonstra um profundo respeito pela biodiversidade amazônica e luta para conservar as tradições e seus conhecimentos adquiridos por sua vivência e, também, através de estudos, cursos e parcerias realizadas com empresas como Embrapa e Emater, por exemplo, que fornecem apoio técnico nas mais diversas áreas, inclusive com a experimentação de novas tecnologias.

Com o alto custo dos insumos, ele paralisou a produção de peixes por um tempo e agora está reativando suas represas e tanques, retomando as atividades de piscicultura. Tião mira em atender à crescente demanda por pescado fresco na região de Marabá. Ele espera não apenas fortalecer sua renda, mas também contribuir para o desenvolvimento sustentável da região. Segundo o agricultor, com sua estrutura ele consegue produzir 50 toneladas de peixes por ano.

Tião do Cupu conta com cinco tanques e três represas para criação de peixes que começou há 20 anos

“Fui construindo primeiro as represas, depois os tanques. O investimento é muito alto. Se fosse pra iniciar tudo isso nos dias atuais, um milhão de reais não daria pra fazer não”, calcula.

No auge do trabalho com a piscicultura, Tião afirma que 50% da sua renda chegou a ser da comercialização de peixes. Questionado pela Reportagem se ganhou muito dinheiro, ele sorri e diz que não muito. “Não ganhei muito, mas ganhei. O retorno já foi muito bom. Agora estamos tentando retornar para a atividade. Vamos ver como está o preço no mercado e recomeçar, aos poucos”.

Dentre todas as atividades que possui na chácara, a primeira delas inicia logo cedo: dar ração aos peixes. Tião separa dois sacos, coloca na carroceria do carro e segue para a maior represa que possui em sua área, construída há mais de dez anos. Por lá, segundo ele, devem ter aproximadamente 10 mil peixes, o que é considerado pouco para o piscicultor, que afirma já ter retirado 20 toneladas de pescado das represas e tanques, somente no período da Semana Santa.

Mesmo com tantos peixes, ele conta que a represa virou uma espécie de reservatório de água para irrigar o plantio de açaí, que ultrapassa os 20 hectares. “Essa foi a última represa que construí. Depois de uns anos, não comercializamos mais peixes, o mercado deu uma parada e o preço caiu. A comida, eu mesmo me encarrego de dar, todos os dias, sempre fiz esse trabalho. Esses peixes que ainda estão aqui foi o que restou da época que eu estava vendendo. Além do tambaqui e tambatinga há outras espécies, como curimatã. Mas, não vendemos. Por enquanto, apenas para consumo da família. A minha mulher mesmo pesca, peixe de 3kg a 4kg”, revela, deixando claro que a esposa é seu braço forte e fiel companheira.

Tião e sua companheira Socorro trabalham duro na diversificação da produção em sua propriedade

Essa represa – a maior delas – já foi visitada por muita gente. Isso porque piscicultores da região souberam do curral (uma armadilha fixada no solo que serve para capturar os peixes. É um engenho eficiente que funciona com base no aprisionamento do pescado. Construído de estacas de madeira e uma esteira de taquara que se fixa no fundo) construído por Tião para facilitar na hora de pegar os peixes.

“Esse curral fui bolando sozinho, eu e minhas ideias. Sou antenado com as mudanças, gosto de inovar senão fico para trás. Pouca gente sabe sobre o curral em uma represa, por isso já vieram aqui olhar”.

Ao CORREIO, Tião do Cupu ressalta que é preciso aliar água boa e ração de qualidade para haja um retorno num período de 8 a 10 meses, já que o consumidor prefere pescado entre 1,5kg e no máximo 3kg.

PRODUÇÃO DIVERSIFICADA

A paralisação da produção e venda de peixes, no entanto, não abalou Tião, que tem renda garantida com a diversificação nas atividades produtivas da chácara. “Já pensou se eu não tivesse outra fonte de renda encaminhada? Nunca deixei de plantar milho, feijão, mandioca. Temos renda em um pouquinho de cada coisa. Já cheguei a vender dez mil espigas de milho por final de semana. Dos pequenos, acredito que sou o maior. Somos agricultura familiar. Tem gente que trabalha muito mais que eu e não administra bem a propriedade. Aí não dá certo”, avalia.

Em um espaço amplo e com muitas atividades, Tião conta que tudo o que foi “tirado” da sua terra, voltou pra lá em forma de investimento e mais trabalho. “Não tenho patrimônio em lugar nenhum. Tudo o que tirei daqui, voltou pra cá. Minha renda é toda daqui. Comecei a trabalhar com 24 anos, essa terra aqui significa mais da metade da minha vida”.

Mesmo fora do mercado da piscicultura há alguns anos, Tião do Cupu continua sendo referência na região por seu trabalho exemplar, sua estrutura e seu conhecimento na área. O agricultor afirma que ainda no primeiro semestre vai regularizar sua situação junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente para voltar à comercialização de pescado em Marabá.

(Ana Mangas)