Correio de Carajás

A Unimed, as cooperativas, a grave crise, a falência às portas, os clientes e a incerteza

O sistema Unimed é formado por várias cooperativas regionais, não é uma operadora só (muito embora elas tentem se vender ao cliente assim). A maiorias está em dificuldades. Costumava ser muito forte, especialmente no Nordeste, onde a capilaridade de atendimento é mais necessária. Mas, há não muito tempo, assistimos o tombo da Unimed Paulistana.

Há pouco tempo, a Unimed Rio. Agora, a Central Nacional Unimed suspende vendas, para se reequilibrar. E não esqueçamos dos problemas já enfrentados com a Federação do Amazonas, a Unimed Manaus, a Unimed Belém, entre várias outras.

E qual será a próxima?

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A cooperativa de Natal se esforça para evitar o pior. A de Fortaleza se encolhe e se protege como pode. A de Recife não sabe mais o que fazer. A única que não apresenta sinais evidentes de fraqueza é a de Belo Horizonte. Mas sozinha, com o sistema de intercâmbio de atendimento falido, subsistiria?

Estudando números das regiões em que atuo, chamou atenção o fracasso da Unimed Norte/Nordeste após assumir a carteira da antiga CAMED. Deu vexame, tentou liminar contra a ANS, e hoje possui raros clientes, com um passivo de R$ 300 milhões.

De outro lado, a sala de situação da ANS informa que a Unimed Recife tem passivo de R$ 1.3 bilhões. Ela reúne 189.000 consumidores. O valor do passivo apontado no balanço é superior à receita anual da entidade. Ou seja, para pagar suas dívidas, a cooperativa teria que passar um ano recebendo as mensalidades, sem atender ninguém e nem gastar nada.

Todavia, há pelo menos 2 (dois) anos, a Unimed Recife acumula prejuízos, com custos maiores que as receitas. Em 2022 o rombo foi de R$ 50 milhões; em 2023 foi de R$ 25 milhões. Numa situação dessas, o ativo indicado no balanço ajudaria? Parece que não, segundo as notas explicativas do preocupante relatório de auditoria independente sobre o ano de 2023. Ainda mais, ela apresenta insuficiência dos índices de saúde financeira exigidos pelo regulador. Tudo está disponível no sítio eletrônico da própria operadora e no da ANS.

Em algumas dessas Unimeds verificamos presidentes há cerca de 30 anos no poder. Isso mesmo. Ainda que haja eleições, a mesma pessoa comanda tais cooperativas durante todo esse tempo, sem possibilitar a oxigenação da gestão. Pode até ser que esse fator não seja o único motivo da crise, mas que é uma baita coincidência certamente não dá para negar.

Já em São Paulo, outra região na qual atuo, a situação não é tão melhor. A Unimed Ribeirão Preto se esforçou para reverter o prejuízo de 2022 e ter algum resultado em 2023. O parecer dos auditores independentes prevê ressalva.

Em conclusão, posso dizer que a crise é generalizada entre as referidas cooperativas; salvo raríssimas exceções. Como um entusiasta da saúde, tento fazer meu papel, de discutir, orientar e apontar caminhos. A Central Nacional também. Os gestores de algumas Unimeds até têm se esforçado, valendo menção à Unimed Ceará.

Mas a grande maioria continua errando. Então, qual a solução? Desta vez eu não arriscarei palpitar, porque se a “mãe” dessas cooperativas está em frangalhos, como esperar recuperação no futuro das “filhas”?

* Elano Figueiredo

* O autor ex-diretor da ANS, advogado, especialista em sistemas de saúde e health speaker. / Artigo extraído de O Antagônico.

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.