Correio de Carajás

A preparação do Círio de Marabá aos olhos de Pe. Denir

Líder espiritual do Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, na Folha 16, lembra de como foi guindado ao posto em tão pouco tempo na Diocese de Marabá

Padre Denir: “O Círio é uma festa que não abrange somente o Santuário, mas que é de toda Marabá”/Fotos: Evangelista Rocha
Por: Kauã Fhillipe
✏️ Atualizado em 13/10/2025 11h40

As mãos nunca estão sozinhas no Círio de Marabá. Elas se entrelaçam na corda, se erguem em oração, se abrem em devoção e esperança. Em meio a tantas mãos que se estendem em fé, há também as do padre Denir Robson Lima de Sousa, responsável por receber a imagem ao final da procissão no Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, na Folha 16. Um gesto simples, mas carregado de tradição e emoção, como se naquele instante ele representasse toda a cidade diante da padroeira.

Natural de Russas, no Ceará, o sacerdote de 47 anos chegou a Marabá em janeiro do ano passado. “Fui destinado já por Dom Vital a assumir o Santuário de Nossa Senhora de Nazaré. Estava em Canaã dos Carajás e aí recebi uma ligação com esta comunicação do bispo me transferindo para cá”, lembra. Foram apenas seis meses na cidade vizinha antes de assumir a missão em Marabá.

A mudança trouxe consigo o peso da responsabilidade de conduzir esta, que é a segunda maior manifestação à Padroeira do Pará. “Confesso que fiquei parado um bom tempo, porque sei a dimensão do Círio de Marabá. Eu tinha acabado de participar do Círio de Nossa Senhora de Nazaré em Canaã dos Carajás, bonito, repleto de fidelidade do povo, de experiência de fé, como todo Círio é. Mas eu tinha dimensão do tamanho que é o Círio aqui em Marabá, e isso assusta a gente no primeiro momento”, admite.

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O reitor faz questão de ressaltar que a festa não é apenas da paróquia, mas da cidade inteira: “É uma festa que não abrange somente o Santuário, mas que é de toda Marabá. Não é à toa que a imagem circula por todas as paróquias. São 11 paróquias que pertencem a este momento de fé, de caminhada com Nossa Senhora.”

A preparação envolve não só a organização litúrgica, mas também a comunicação com a imprensa e o diálogo com a sociedade. “É um trabalho que exige bastante empenho e muita criatividade da parte da gente também. Temos uma equipe grande de pessoas que dão um apoio imenso ao Círio, e isso faz toda a diferença”, explica.

A fé que move uma cidade

Pela segunda vez à frente da festa, Pe. Denir já compreendeu o impacto do Círio na vida marabaense. Ele cita a movimentação econômica que acompanha a devoção: “Vem gente de várias partes. Os hotéis recebem hóspedes, os restaurantes e o aeroporto lotam. Toda a rede de comércio da cidade funciona muito bem nesse período, porque ela se abre para acolher peregrinos que vêm de várias partes do Brasil.”

Essa presença diversa se revela nas histórias pessoais que chegam até o sacerdote. “Nos depoimentos, as pessoas dizem: ‘Olha, eu tô vindo do Tocantins, eu tô vindo do Ceará, tô vindo do Maranhão’. Até mesmo de Belém, que já tem o grande Círio uma semana antes, vem gente para estar conosco. É sempre uma alegria sentir a fé dessas pessoas que saem de lugares tão longe para estar aqui”, relata.

Momentos que marcam

Mais do que números, o que fica para o padre são as experiências vividas durante a peregrinação da imagem da Virgem Santa. Ele recorda, emocionado, as visitas a lugares onde a esperança parecia adormecida. “Nos hospitais, quando eu chegava com a imagem, via pessoas emocionadas, pedindo uma bênção. Nos presídios, os jovens encarcerados… são cenas que tocam muito a gente. Ali eu senti muito forte essa dimensão da fé das pessoas, especialmente daquelas que mais precisam”, descreve.

Para ele, cada gesto é um testemunho da presença de Maria no cotidiano do povo. “Eu costumo dizer nas visitas que Maria é aquela da atenção. Vai lá na cozinha da nossa história para ver se falta alguma coisa no tempero da nossa vida. Então, ela tá lá, chegando para cuidar, para acolher, para olhar por nós”, afirma.

A mãe que volta para casa

O ponto alto, para o sacerdote, é o retorno da imagem ao Santuário. Depois de percorrer instituições, empresas e comunidades, chega o dia da grande procissão. “Quando ela retorna no dia 18, em preparação para a troca do manto e o Círio Fluvial, é motivo de alegria porque ela tá voltando pro espaço que é o coração da cidade, o coração mariano da cidade, que é o Santuário”, destaca.

Pe. Denir descreve com entusiasmo esse momento: “No dia 19, vocês chegam na frente da catedral e não tem mais espaço para caber de tanta gente. Quando a gente sai de lá e vê aquela multidão cantando e louvando ao redor da berlinda, não tem como não se emocionar. É a mãe que volta para casa abraçando os filhos.”

Esse acolhimento se traduz em festa. Após a procissão, inicia-se o Recírio, celebração que prolonga por uma semana o clima de devoção. “À noite começamos a festa oficial do Santuário, em comemoração a esse bonito dia de peregrinação. Queremos que ele prevaleça, perdure por mais tempo, porque é um dia muito importante para nós”, afirma.

Líder espiritual do Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, padre Denir ergue a imagem da Santa com quem peregrina pela cidade

Sinal de esperança

No fim, o que permanece é a certeza de que a fé se multiplica quando é partilhada. Assim como a corda que une milhares de romeiros, a imagem que passa de mão em mão transforma a devoção em gesto coletivo.

Para Pe. Denir, o Círio é um encontro de fé, mas também de esperança. “Nossa Senhora, no seu manto que é todo de Jesus, traz consigo um pouquinho de cada devoto: aqueles que olharam, que pediram a intercessão, que colocaram diante dela suas dores e, também, suas alegrias. Quando chega ao Santuário, chega repleta de consolo, carregando a simplicidade e a fé de um povo inteiro”, resume.

Ele conclui com a mensagem que leva como guia: “Esse é o sinal de esperança que é Maria para nós. Como tão bem nos diz Dom Vital sempre: ‘Maria, sinal de esperança’, porque ela nos apresenta toda a esperança necessária que podemos ter, que é Jesus Cristo.”

 

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