Correio de Carajás

“A minha missão é voar, levar esperança e servir meu estado”

Tenente Suzane Patrícia é destaque entre pilotos do Graesp do Pará

Tenente Suzane Patrícia na cabine do Caravan do Grupamento Aéreo

O efetivo do Grupamento Aéreo de Segurança Pública do Pará (Graesp) já não é mais predominantemente masculino. Atualmente, com 250 horas de voo, pilotando aeronaves do tipo Caravan 208, Cessna 152 e Cessna 206, a 1ª tenente Suzane Patrícia Gomes da Silva, de 37 anos, é um exemplo de determinação, força e dedicação. Ela foi a primeira mulher piloto a integrar o Graesp. Hoje, ela já ganhou seu espaço na corporação, respeito e apoio dos colegas.

O sonho da aviação começou em 2009, à época, Suzane era soldado da Polícia Militar do Pará e estava trabalhando na segurança no Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém. O helicóptero do Graer (à época) fez uma homenagem para a imagem da santa, jogando pétalas de rosa, foi quando despertou o desejo de voar em Suzane.

“Vi aquilo e achei fascinante. Desejei estar ali para prestar a homenagem. Eu quero ser piloto, falei na ocasião. Um colega que estava na hora comigo sorriu e disse que era impossível eu ser piloto, porque só era oficial e só podia ser homem. E eu falei para ele que eu iria ser piloto. Fui atrás de escolas de aviação, confirmar valores, como faria para me tornar piloto”, conta a oficial.

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Suzane pesquisou sobre cursos de aviação, mas não tinha condições financeiras de custear os estudos. Foi quando aliou o útil ao agradável e como já era militar, decidiu estudar para ser oficial da Polícia Militar e assim poder fazer os cursos de aviação e entrar para o Graesp. Aos 27 anos, Suzane conseguiu a tão sonhada aprovação para o concurso e estudou no Instituto de Segurança Pública do Pará (IESP), em Marituba.

“Vendi minha casa para custear meu curso de piloto, para assim conseguir realizar meu sonho, que é pilotar. Tive o apoio da minha família. Eu amo demais voar. Ali, para mim é o melhor lugar do mundo. Tive o apoio da minha família, em missão conheci o diretor do Grupamento Aéreo, que ao saber da minha história foi um dos meus incentivadores, perguntou se era realmente isso que eu queria. Fizemos um voo com ele, eu e o tenente Benjamim, que hoje é também piloto pelo grupamento aéreo”, detalha a piloto.

Ao chegar no Graesp, Suzane foi a primeira mulher a estar em um espaço predominantemente masculino. Hoje, além de Suzane, o Graesp conta também com a policial Civil Cybelle Mota, que pilota helicóptero. “O Graesp é um local de trabalho muito bom.  Fiz amigos, irmãos que me ajudam, me apoiam e incentivam, então eu cresço cada dia mais. O sucesso é uma conquista coletiva, porque graças a nossa harmonia e dedicação a aviação em nos qualificar e dividir o conhecimento, cada dia a gente aprende um pouco mais, para mim é um presente ser uma aviadora e voar para servir o meu estado”, comemora ela.

A militar com a jornalista Emilly Coelho, a quem deu entrevista

VOOS

Sobre os voos que mais marcaram, Suzane conta que foram os voos que fez para levar vacinas e insumos médicos para população, como oxigênio. “Porque cheguei no Grupamento no período da pandemia e consegui levar esperança para população. Isso foi gratificante demais. No momento turbulento eu consegui voar e salvar vidas, foi a coisa mais importante para mim”, expressa.

A maior altura que a tenente já voou foi no Caravan, à 10500 pés. Como os manuais da aviação são em inglês, a tenente destaca que é uma espécie de autodidata no idioma. “Eu tenho facilidade em ler o inglês e em relação a fala do checklist de verificações de instrumentos antes de voar, para segurança de voo, de tanta prática acabamos que sabemos de cor e salteado”.

A oficial lembrou que seu sonho demorou 12 anos para acontecer. “É importante não deixar nossos sonhos morrerem e não achar que eles têm prazo de validade. O importante é estudar, se qualificar e focar no que quer, abraçar a profissão, estudando e se qualificando. É importante fazer o que ama”, aconselha Suzane.

Para o futuro, ela pretende fazer mais cursos para pilotar aviões de porte cada vez maiores, além de melhorar o inglês. O primeiro voo dela aconteceu em 2021 e teve como destino a cidade de Capanema, no nordeste paraense e durou 50 minutos no avião Cessna 206, conhecido como Guardião 08. Ontem, sexta-feira (27), Suzane pilotou um Caravan 208, o Guardião 09 do Graesp, de Redenção para Belém.

Por fim, sobre aliar as tarefas familiares e de casa com a rotina de viagens a trabalho, Suzane fala que é preciso descontruir que a mulher tem de dar conta de tudo. “Muitas mulheres estão adoecendo porque tem a ilusão de ser 100% em tudo é algo alcançável. Não ser mãe, dona de casa, não nos faz menos mulher. São apenas decisões diferentes”, relatou. (Emilly Coelho)