📅 Publicado em 06/10/2025 09h18
Você provavelmente já se deparou, em algum ponto de Marabá, com uma das telas gigantes assinadas por Bino Souza. O artista visual tem marcado a cidade com seu talento característico e, durante as celebrações do Círio de Nazaré, não poderia ser diferente. Desta vez, os muros da Escola Salomé Carvalho, na Folha 16, receberam a sensibilidade de sua arte. A escolha do local não foi por acaso: a escola é próxima ao Santuário de Nossa Senhora de Nazaré, ponto de encontro entre os devotos e a Rainha da Amazônia ao final da grande festa da fé no próximo dia 19.
Ao longo de 70 metros, o mural reúne sete pinturas que contam a história do Círio marabaense. Em entrevista ao Correio de Carajás, Bino detalhou o processo criativo e a mensagem que deseja transmitir. “Quem me convidou foi o padre Denir, atual pároco, e essa ação é uma parceria entre a Prefeitura e o Santuário de Nossa Senhora de Nazaré”, explica.
“Quero fazer algo que seja significativo”
Leia mais:O primeiro painel de Bino homenageia a Irmã Neves, uma das idealizadoras da procissão. Ela é retratada segurando a imagem de Nossa Senhora de Nazaré ao lado de outras mulheres que ajudaram a construir a festa da fé no município. Já no segundo, o artista celebra o Círio Fluvial, com o belo pôr do sol marabaense sendo regido pela proteção da padroeira do Pará.

“O Círio Fluvial, para mim, é algo fora do normal. Eu sou apaixonado pelo rio, pelas canoas, pela pesca. O percurso é sempre emocionante”, revela.

Na sequência, é a vez da Virgem com o Menino Jesus no colo aparecerem de forma grandiosa, sendo ela representada como “Rainha da Amazônia”. O cenário é acompanhado por uma mão que segura um terço, com destaque para a técnica de hachura (que usa linhas paralelas ou cruzadas para criar efeitos nos desenhos), simbolizando a devoção popular.
Já a corda, outro elemento essencial do Círio, é usada para separar os painéis. Ela também antecede a grande atração do mural: a berlinda. Desta vez, Bino ousou ao planejar uma versão em 3D, projetada cerca de 20 centímetros para fora da parede. A estrutura permitirá que o público interaja amarrando fitinhas coloridas, transformando a obra em um espaço vivo de fé e participação.
O conjunto ainda traz uma pomba branca em voo; a imagem de um promesseiro em agradecimento pelas graças alcançadas e uma homenagem ao empresário Leonildo Borges Rocha, da emblemática Leolar, falecido em 2013, que foi um dos grandes incentivadores do Círio de Marabá.

Com jornadas de até oito horas diárias, o artista trabalha ao lado de familiares para concluir a obra-prima, que deve ser entregue na semana anterior à romaria.
“Tem coisa que eu já apaguei, já fiz de novo. Outras que eu já passei, estou lá na frente, mas acho que talvez vou voltar para refazer. Eu me dei esse tempo, me doei por ele porque eu quero fazer algo que realmente vai ser significativo”, confidencia.
Mesmo antes de finalizada, a pintura já atrai olhares curiosos e emocionados de quem passa pelas ruas próximas ao muro da escola. Todos impressionados com a grandiosidade do trabalho de Bino.

O artista e a Santa
“Eu morava aqui na 16 e fiz desenhos para o Círio durante muito tempo da minha vida”, relembra Bino. No início dos anos 2000, antes de ser um artista renomado, ele e seus pinceis deslizavam pelas tradicionais faixas de homenagem à Nossa Senhora. Seu vínculo e devoção nasceram aí.
Ao acessar suas memórias mais antigas sobre a grande festa da fé, ele conta de um trabalho realizado em seus primeiros anos: ilustrações da Via Sacra feitas em painéis de madeira compensada. As obras foram colocadas ao longo do percurso do Círio e a ideia inicial era que, após a romaria, os painéis fossem posicionados em volta do Santuário de Nossa Senhora de Nazaré. “Quando terminou o Círio e a gente foi recolher, já tinham levado os desenhos”, conta sorrindo.
Como todo bom devoto, Bino coleciona momentos marcantes vivenciados aos pés da ‘Nazinha’. Entre os pedidos feitos com fé, a casa própria foi um dos mais importantes.
“Hoje eu moro no local onde eu fiz o meu primeiro mural, quando ela ainda não era minha. Só depois que eu consegui comprá-la, então é algo muito significativo, que a gente não consegue descrever”, compartilha o artista. Com tranquilidade e transparecendo emoção, Bino agradece pela intercessão de Nossa Senhora na pintura da grande obra atual.
Como reflexo dessa devoção, ele confirma que fará a caminhada marabaense este ano e que também pretende ir para Belém, para atender ao antigo desejo de vivenciar o Círio da capital.
“Eu tenho algo para conversar com ela nesse percurso de lá para cá, principalmente tendo esse mural aqui”, finaliza.