Correio de Carajás

A dura rotina de quem lida com enterros em Marabá durante a pandemia

Trabalho de abertura de covas nos cemitérios tem sido constante / Foto: Josseli Carvalho

Profissionais que não podem estar na tranquilidade do lar neste período de pandemia e que, ao contrário, estão lidando de maneira ininterrupta com o problema do novo coronavírus, tentam se proteger como podem. É o caso de quem trabalha em funerárias e também nos cemitérios da cidade. Alguns dos corpos transportados para sepultamento nos últimos dias são de pessoas que morreram em decorrência da covid-19 ou cuja suspeita de infecção persistiu. Desde abril, um decreto municipal regulamenta os enterros, limita a quantidade de pessoas presentes, veta velórios e prevê cuidados para estes profissionais.

Lidar com a dor das familiares das vítimas da covid-19, entretanto, é um ingrediente a mais com velórios rápidos e caixões fechados, sem a possibilidade de se despedirem dos parentes. De acordo com Samuel Gama Menezes, gerente de funerária, os corpos de infectados ou de possíveis portadores da doença devem ser levados direto do hospital para o cemitério, sem escalas.

Samuel Menezes salienta ordem de urna lacrada em enterro / Foto: Josseli Carvalho

Além disso, frisa Samuel, o enterro deve acontecer de modo breve para toda e qualquer natureza de morte, sem que haja velório na hipótese de o paciente haver contraído o vírus, cuja taxa de letalidade está calculada na ordem de 13% em Marabá. “Não pode ser velado”, ratifica o gerente.

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Franceilson da Vila dos Reis, responsável por outra funerária, chama a atenção para a mudança do ritual de sepultamento com o advento de uma portaria editada pela Superintendência de Desenvolvimento Urbano (SDU) e pelo Serviço de Saneamento Ambiental de Marabá (SSAM). “Apenas dez pessoas podem comparecer ao enterro, mesmo que o morto não tenha sido confirmado com o coronavírus”, pondera ele. Urna lacrada é outra diretriz que consta no documento.

Sobre o número de enterros realizados pela funerária nos últimos dias, em cálculo que parte do fim do mês passado, Franceilson expõe que a demanda se expandiu a título considerável. “Do dia 30 de abril para cá, a quantidade de atendimentos na funerária aumentou muito, com média de três a quatro enterros por dia”, revela.

Ainda de acordo com Franceilson, a preocupação urgente dos estabelecimentos funerários é com espaço para abertura de novas covas nos cemitérios públicos da cidade. Para ele, se a prefeitura não cumprir com o acordado nas reuniões e não providenciar mais espaços para sepultamentos, Marabá pode colapsar quanto ao serviço funerário e passar a viver a mesma situação de Belém, com corpos amontoados nos hospitais.

Franceilson dos Reis revela demanda crescente no serviço / Foto: Josseli Carvalho

Procurado pelo CORREIO, o gestor do Cemitério da Saudade, na Folha 29, José de Ribamar Pereira Aragão, manifestou apreensão com aglomerações de familiares na porta da necrópole, visto que algumas famílias, como forma de driblar os decretos que impossibilitam reuniões de mais de dez pessoas, continuam indo em grupo, mesmo sendo barradas na porta.

“Ficou acordado que apenas dez pessoas, no máximo, poderão acessar o local para fazer o sepultamento dos seus entes queridos. O que acontece é que, às vezes, a família vem com uma comitiva de mais de dez, gerando aglomeração na porta do cemitério”, expressa José de Ribamar.

Tal iniciativa de algumas famílias, além de contrariar a determinação estadual, vai de encontro ao que ficou decidido na esfera municipal entre os poderes público e moderador, os responsáveis pelas funerárias e os gerentes dos cemitérios. “Se houve restrição, era para que os ajuntamentos de mais de dez pessoas não mais ocorressem”, reitera ele.

Só em 48 horas, confidenciou o gerente à Reportagem, 17 enterros foram realizados naquele cemitério, que, mesmo sendo um dos maiores e mais solicitados do município, está vendo o seu espaço livre para novos túmulos desaparecer progressivamente. “E não é de hoje”, sintetizou o gerente. (Da Redação)