Correio de Carajás

A dor e a delícia de cada momento na maternidade solo

Mãe solo é uma expressão que vem para substituir a mãe solteira, uma vez que ser mãe não tem nada a ver com estado civil. A maternidade solo não é mais um tabu em nossa sociedade, mas isso não significa que a tarefa de assumir integralmente a criação do filho tenha ficado mais fácil.

Tirando ou colocando algumas atividades, a tarefa de cuidar do filho sozinha – sem a presença do pai – é a realidade de 11,6 milhões de brasileiras, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é o caso de Jessyca Carneiro, mãe solo e marabaense.

O despertador toca. São 7 horas. Jessyca, Valentina e Melinda precisam levantar para começarem o dia. Às 8 horas, Valentina, de 4 anos, já está na escola e enquanto isso a mãe, Jessyca, segue para o trabalho acompanhada de Melinda, elas se encontram na hora do almoço, quando Valentina vai para casa e aí começa a segunda parte da rotina das três. Com o fim do expediente da mãe solo, às 18 horas, começa a terceira parte do dia, com o jantar, as atividades da escola e as brincadeiras. Às 22 horas. Prontas pra dormir.

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A vida da gerente administrativa e dona de casa mudou significamente depois do nascimento da segunda filha, Melinda. “Três dias após minha separação eu descobri que estava grávida pela segunda vez. Coincidentemente, estávamos no período de pandemia e além de ter de lidar com o luto do fim de um casamento, também tive que passar pelo período da gestação nesse momento tão turbulento e grandes riscos da covid-19”, explica ela.

“Ter duas filhas pequenas é um turbilhão de sentimentos. Felicidade, gratidão, cansaço e orgulho. Mas com certeza, a alegria se sobressai, por estar criando dois seres humanos para o mundo, da melhor forma possível”, conta Jessyca Carneiro que se desdobrou até mesmo durante a entrevista ao CORREIO, com a presença das duas filhas entre as gravações e as perguntas com muita graciosidade e paciência.

Ela também articulou acerca do medo que sente como mãe e como mulher solteira, ao se tratar de relacionamentos: “Existem tantas pessoas ruins, má intencionadas que eu, como mãe de duas meninas, fico com medo de colocar dentro de casa alguém que possa ser um perigo para elas”. A mãe solo coloca Valentina e Melinda em primeiro lugar sempre, mas como todo e qualquer outro ser humano, também precisa e tem seus momentos de lazer. Para ela, a maternidade não é, atualmente, um impedimento para que durante algumas horas na semana possa descansar e desfrutar de bons momentos com seus amigos.

É importante frisar que ser uma mãe solo nem sempre é sinônimo de ser uma mãe solteira.  Uma mulher que se torna mãe pode estar casada, mas ter de assumir integralmente as responsabilidades pelos filhos. Mesmo com um companheiro ao lado dela, no fundo, essa experiência também é de ser uma mãe solo.

De fato, é possível que o ser uma mãe solteira seja sinônimo de ser mãe solo quando a mulher não conta com qualquer ajuda do pai e ainda tem um rompimento afetivo com ele. E essa história é muito comum no país. Essas atitudes, tão comuns no cotidiano, mostram o quanto a cultura sexista se faz presente na sociedade. Isso porque os homens têm o “direito” de se eximirem da responsabilidade de pais, eles têm o “direito” de agir com indiferença.

Jessyca, se considera privilegiada, já que tem uma rede de apoio presente. “Sempre que preciso, e até quando não preciso, tenho minha família se oferecendo para nos ajudar em todos os sentidos. Minhas filhas são muito amadas pelos meus pais e amigos. Todos ao meu redor se mostram compreensivos quanto a sobrecarga que vivo constantemente e me dão um grande suporte.

Dependendo da dinâmica da rotina materna, muitas mães precisam contar com a ajuda de pessoas para que possam dar “conta” de todas as funções que ela exerce no decorrer do dia. É comum, em um determinado período da maternidade, familiares como os avós serem estas pessoas que ajudam com os netos.

De acordo com a comerciária, a força que ela encontra para conciliar o emprego de segunda a sábado em horário comercial, os serviços diários de casa (já que não possui empregada), a maternidade e a vida social, são descritas por ela mesma como “sobrenatural”, pois a mesma não compreende como se desdobra para dar conta de tudo.

Para finalizar, a mãe deixou um recado para muitas que, assim como ela, não recebem ajuda do progenitor para criar: “Minha mensagem é que não desistam e nem achem que não serão capazes, pois apesar dos desafios, nada se sobressai à grande felicidade de saber que tenho o poder de transformar e fazer ser magnifica a vida de duas pessoas que são parte de mim. Apesar dos pesares, o amor que é recíproco, a satisfação de poder prover suas necessidades e de participar de cada etapa de suas vidas paga em dobro tudo.” (Thays Araujo)