Correio de Carajás

“À diretora com o meu carinho”

Muitos cidadãos e cidadãs marabaenses, e até mesmo de outros lugares, que aqui já viveram e frequentaram o ensino elementar, poderiam ou podem falar muito de Maria Aparecida Noceti. Paranaense de nascimento e marabaense por adoção, essa senhora escreveu sua história no Livro de Ouro que constam os nomes daqueles que deram sua juventude e sua vida para que muitas pessoas alcançassem o degrau mais alto que é a capacidade e a possibilidade de ter como patrimônio a sua formação educacional.

Aqui me atenho, como milhares de pessoas que tiveram o privilégio de terem seus ensinamentos, dentre elas, a minha família e a nossa relação com Aparecida Noceti.

Somos retirantes nordestinos e aqui fincamos residência nos idos de 1975. Meus irmãos mais velhos não tiveram a mesma sorte que os menores nos estudos, pois tinham que trabalhar para garantir o sustento da prole, haja vista, nosso pai não ter isso como prioridade. Alguns ainda aprenderam a assinar o nome e “soletrar” algumas palavras, graças ao MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização, programa do governo militar da época que era um paliativo para quem tinha o interesse em estudar no horário noturno. O “Municipal” era sede desse projeto nacional em Marabá.

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Eu e meus irmãos mais novos tivemos acesso as primeiras letras na Escola José Mendonça Vergolino. Colégio onde estudaram muitas personalidades desta terra. Há época, início dos anos 1980, já era diretora a querida e renomada aparecida Noceti. Querida, porque sempre foi preocupada com o aprendizado de todos e, renomada, porque naquele período eram poucas escolas em Marabá e o “Municipal” era o mais famoso e procurado pela comunidade marabaense.

Aparecida Noceti era daquelas professoras atentas a tudo, estava o tempo todo na escola. Cuidava de todos os detalhes do até hoje imponente prédio escolar. Mesmo considerada linha dura por muitos, era conselheira e sempre nos dizia que éramos privilegiados por estar tendo a oportunidade de estudar. Isso é certo, porque naquela época não era fácil o acesso à educação para as classes menos abastadas. Nunca vou me esquecer de quando ela passava na minha sala da 4ª série, as vezes para dar sermão, porque a turma era “barra pesada”, as vezes para conversar conosco mostrando sempre que o caminho dos estudos era o melhor e que não desistíssemos dos nossos sonhos! Confesso que o fato de hoje ser professor teve sem dúvida a digital daquela senhora branca com olhar meigo nas horas que merecíamos seu carinho. Lembro bem que minha irmã estudava na mesma sala que eu, acho que também por isso eu era tido como um aluno dedicado e pacato.

No último dia 14 de dezembro, a educação de Marabá perdeu essa grande educadora. Quão triste foi essa notícia para mim, meus irmãos e toda a sociedade marabaense, principalmente os militantes da educação. Marabá perde uma grande mulher, uma educadora dedicada e comprometida. O que sinto é o que sente tantas outras pessoas que viram suas vidas melhorarem pelos seus esforços, mas com o incentivo desta que nos deixa um grande legado de amor e carinho como voluntária que foi na construção da educação em nossa querida Marabá.

O Poder superior a receba com todas as honras e glórias a qual Maria Aparecida Noceti merece. Deus é bom e com certeza a acolherá no Paraíso.

Aos familiares, amigos, ex alunos e todos que a conheceram fica a saudade, a lembrança e o seu exemplo para ser seguido.  Marabá, 14 de dezembro de 2020.

*Prof. LUIZ GONZAGA OLIVEIRA DE ALMEIDA.

*Pedagogo, Pós Graduado em Gestão Escolar, Pós Graduando em Sociologia e Filosofia. É Diretor da E.M.E.F. Profª Josineide da Silva Tavares.