A periférica Vila Canaã, mais conhecida como Vila do Rato, localizada no Núcleo Marabá Pioneira, abrigava um talento desconhecido, que ganhou os gramados de estádios brasileiros. Trata-se de Rodrigo Nascimento, um jovem de 18 anos de idade que acaba de assinar contrato recentemente com o time de maior torcida do país, o Flamengo.
A conquista do sonho repercutiu pela cidade e o Correio conversou com o rapaz e sua família sobre a meteórica trajetória, que já conta com passagens por Santa Catarina.
“Desde criança, sempre gostei de jogar bola. Me reunia com os amigos na Vila (do Rato) e batíamos uma pelada, daquelas de subir a poeira, pois a rua não era pavimentada”. É o que Rodrigo diz ao lembrar-se de sua infância. O rapaz cresceu na favela e sente orgulho em levar esse nome, relatando todos os perrengues que passou, desde a falta de dinheiro para comprar o uniforme até as passagens para viajar.
Leia mais:“A maioria das pessoas pensa que tudo de ruim vem da favela, e não é bem assim, tem muita gente com sonhos morando ali. Lá, aprendi a ser homem e o que é certo, o que é errado. É um local de gente honesta, trabalhadora, que não mexe nas coisas de ninguém”, completa Rodrigo.
A Reportagem do Correio conversou com exclusividade com a família de Rodrigo e conheceu a casa provisória onde estão residindo, na Rua Alkindar Contente, enquanto a da Vila do Rato está sendo reformada, devido aos estragos sofridos pela enchente. O pai, Manoel Amaro, é servidor público e conta que sempre soube que seu filho iria longe.
“E nós acreditamos nele, fizemos de tudo, apesar dos poucos recursos. Acompanhamos ele nos treinos, nos campeonatos amadores, tudo que pensar fizemos por ele. Quando completou 10 anos, matriculamos em uma escolinha de futebol, e o professor dele, Gylson Marques, foi quem nos ajudou em meio a todas as dificuldades. Somos muito gratos a ele”, agradeceu Manoel.
E quem pensa que a mãe de Rodrigo foi na contramão da torcida está enganado. A dona de casa, diferente de muitas que soltam o famoso “isso não dá futuro”, apoiou o filho desde os primeiros treinos. “Eu falava para meu esposo que ele [Rodrigo] tinha futuro, e que devíamos investir nele. Foi quando procuramos matriculá-lo em uma escolinha de futebol, para que se preparasse e tivesse chances”, rememora Maria da Conceição.
Entre os 11 e 13, Rodrigo treinou bastante no Estádio Municipal Zinho de Oliveira, pela escolinha de futebol Arena Beira-Rio, enquanto se dividia entre os estudos na Escola Municipal Judith Gomes Leitão, na Travessa Santa Terezinha. Um dia, o Flamengo realizou uma peneirada em Marabá onde Rodrigo fez um teste, com mais de 800 garotos, e o clube carioca escolheu apenas três. Entre eles, o morador da Vila do Rato. “O dinheiro era pouco, não podíamos arcar com passagens para o Rio de Janeiro, nem mesmo com uniforme”, explica Manoel.
Passagem pelo Criciúma antes de ir ao Mengão
Mas isso não abateu o sonho do rapaz, pois mais tarde surgiu uma oportunidade no Criciúma-SC, onde ele fez testes, foi aprovado e jogou durante quatro anos. “Com 16 anos realizei um sonho de assinar meu primeiro contrato como profissional e ano passado fui campeão catarinense Sub-17 como capitão”, conta Rodrigo.
Durante o período em que esteve no Tigre catarinense, Rodrigo ficou na ponte aérea entre o sul e o norte, e a família inteira sentiu falta, principalmente a irmã, Talita Nascimento. “Ele é um rapaz que traz muita alegria. Onde ele chega a energia contagia e nesse período entre idas e vindas, passávamos pouco tempo juntos. Bateu saudade, com certeza!”, confirmou a jovem de 22 anos.
O tempo passou e o Flamengo voltou a cruzar o caminho de Rodrigo. Desta vez, mais bem preparado, ele pôde assinar o sonhado contrato com o Mengão. “Após a troca do meu empresário, tivemos contato novamente com o Flamengo e finalmente conquistei meu sonho. O Mengão é o time da minha família, são todos apaixonados, então, foi uma honra entrar como jogador profissional do Sub+20”, disse Rodrigo.
E para os pais, amigos, inclusive o professor, Gylson Marques, a felicidade pelo sucesso de Rodrigo é de abrir um sorriso de orelha a orelha. “Lembrar de todas as viagens que fizemos para que ele participasse de testes e campeonatos, no Goiás, Tocantins, além dos municípios da região sudeste do Pará, nos dá uma grande satisfação. E temos de destacar de onde ele veio, pois a periferia de Marabá está cheia de jovens determinados e com potencial como de Rodrigo”, finaliza Gylson. (Zeus Bandeira)