Muitas tradições são celebradas durante a festa da fé brasileira. O Círio de Nazaré, evento que reúne milhares de pessoas e aproxima até mesmo famílias e amigos, ocorre este ano em um momento delicado de saúde pública, provocado pelo novo coronavírus. Mesmo assim, segundo muitas famílias católicas consultadas pelo Correio, o tradicional almoço pós-procissão está confirmadíssimo. Usualmente, é nessa parte em que há mais uma aglomeração, porém, neste ano, as residências marabaenses terão menos membros familiares reunidos, devido à pandemia.
Há quem diga que as aglomerações serão inevitáveis, uma vez que cada família, na intimidade de suas residências, poderão secretamente receber outros convidados para a confraternização privada que encerra a solenidade. Em contrapartida, há famílias que respeitarão as medidas de proteção, para evitar o contágio da Covid-19, como a família Lameira, que deixará de cumprir uma tradição para preservar a saúde dos demais membros.
O patriarca da família, Welton Lameira, é belenense, mas reside em Marabá há muitos anos, onde atuou como engenheiro eletricista da concessionária de energia da cidade, estando hoje aposentado e pai de três filhos. Ele conta que celebrar o Círio de Nazaré é um costume da parentada, sendo comum se reunirem após a procissão para almoçar todos juntos, e nesse momento, aglomerar todos os membros e agregados.
Leia mais:“Temos dois Círios, na verdade. Primeiro nos reunimos com a família em Belém, no segundo domingo do mês e lá sempre revezamos, uma vez na minha casa, outras, na de minha irmã. A maioria das vezes reunimos na dela, pois a minha é um pouco menor, e lá cabe mais pessoas”, explica Welton.
Em Belém, o roteiro da família já começa no sábado à noite na procissão de Trasladação, e no domingo, às 5 horas da manhã, todos já estão de pé para a procissão, repetindo tudo em Marabá também. Após o encerramento, todos se reúnem, conforme Welton, para o almoço do Círio, regado a muitos pratos típicos. “Preparamos vatapá, pato no tucupi e a maniçoba que não pode faltar. É um cardápio bem paraense, gostamos muito”, confessa.
A diferença deste ano será a ausência dos demais membros da família, que farão o almoço cada um em sua residência, respeitando o isolamento domiciliar, além de acompanhar as transmissões da passagem da imagem de Nossa Senhora de Nazaré pelos veículos de comunicação, e pelas redes sociais, se comunicarem através de vídeo-chamadas e aplicativos de mensagem.
A filha de Welton, Isabela Lameira, é engenheira de produção e reside em São Luís/MA. Por conta disso, todos os anos ela se programa, desde janeiro, para sair de férias no período do Círio e ficar próxima de sua família. “É como se fosse o primeiro Natal para nós, por conta dessa confraternização que temos após a passagem de Nossa Senhora, durante o almoço”, conta.
A engenheira lamentou a restrição inesperada causada pela pandemia, porém, afirma que isso não mudará a fé, devoção, e principalmente a fraternidade que os almoços em família proporcionam. “Me tocou muito imaginar que neste ano não finalizaremos o Círio com a família completa, mas, o sentimento permanece em nossos corações. Inclusive, eu procuro levar a nossa culinária, clássica dos nossos almoços, para São Luís, para sempre trazer as recordações desses momentos”, finaliza Isabela, com um brilho no olhar.(Zeus Bandeira)