Correio de Carajás

Pandemia não abateu humor do brasileiro, diz ‘ranking da felicidade’

Apesar de tudo, a pandemia do novo coronavírus não conseguiu derrubar o humor do brasileiro — ou, pelo menos, não conseguiu piorar ainda mais a forma como a população se sente em 2020, em relação a 2019.

O achado é da pesquisa Global Happiness 2020, do instituto de pesquisas Ipsos.

Na edição deste ano, 63% dos brasileiros se disseram felizes. O número oscilou positivamente, dentro da margem de erro, em relação ao ano passado. Em 2019, 61% dos brasileiros disseram estar felizes.

Leia mais:

No entanto, não é como se o humor nacional estivesse no pico: o ano mais alegre para os brasileiros, segundo o Ipsos, foi em 2013, quando 81% se diziam contentes.

Embora o número total tenha mudado pouco, os motivos que levam os brasileiros a se considerarem felizes mudaram em 2020, em relação ao ano passado.

Interpessoal

Durante a pandemia, o brasileiro parece ter passado a dar mais importância para as relações interpessoais.

Menos pessoas mencionaram como fonte de felicidade a situação da economia (-9%) e a própria situação financeira (-2%). Em compensação, mais brasileiros citaram a relação com o cônjuge ou namorado (+5%) e com os amigos (+4%).

Também ganharam importância as doações aos necessitados ou o trabalho voluntário (+6%) e até o fato de ter sido perdoado por alguma falta contra outra pessoa (+6%).

Este ano, a pesquisa da Ipsos foi aplicada em 27 países, entre os dias 24 de julho e 7 de agosto. Ao todo, foram ouvidas 19.516 pessoas, usando uma plataforma online desenvolvida pela empresa.

No Brasil, foram ouvidos 1.000 moradores, e a margem de erro nos dados relativos ao país foi estimada em 3,5 pontos percentuais, para mais ou para menos.

Desde a primeira edição da pesquisa, em 2011, o índice de felicidade no Brasil caiu 14 pontos percentuais. Naquele ano, 77% dos moradores do país se diziam felizes.

Segundo o levantamento, o ápice da satisfação dos brasileiros com a vida foi em 2013, quando 81% se disseram felizes. Por outro lado, o ano mais triste foi 2017, quando apenas 56% responderam positivamente.

Segundo a diretora de comunicação da Ipsos no Brasil, Sandra Zlotagora Pessini, é possível que o fato da pesquisa ter sido conduzida por meio virtual tenha diminuído a representação de pessoas mais pobres na amostra, integrantes da chamada Classe E. No entanto, diz ela, a internet tem hoje grande penetração no país, e alcança algo como 74% dos brasileiros.

Entre os brasileiros com mais de dez anos de idade, o acesso à internet é de 74,7%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua — Tecnologia da Informação e Comunicação (Pnad Contínua — TIC), de 2018.

China passa a liderar o ranking

Pessoas de várias idades tiram fotos, sorriem e observam em grande pátio repleto de pessoas e com iluminação especial
Comemoração da Semana de Ouro chinesa; país asiático apareceu na liderança do Global Happiness 2020 / Foto: EPA – Wu Hong

No mundo, a surpresa foi a China — o país asiático lidera esta edição do ranking, com 93% dos cidadãos se considerando felizes.

É um crescimento expressivo em relação a 2019, quando 83% dos chineses que responderam ao questionário disseram estar de bem com a vida.

Na edição deste ano, completam o “top 5” das nações mais satisfeitas os Países Baixos (onde 87% se dizem felizes); a Arábia Saudita (80%); a França (78%); e o Canadá (78%).

Golpeada pela crise do novo coronavírus, a Austrália deixou o topo do ranking, que dividiu com o Canadá no ano passado.

Na outra ponta do espectro, entre os países com menor nível de felicidade, há vários vizinhos latinoamericanos. O Peru está na lanterna, com meros 32% de cidadãos que se dizem felizes. Em seguida vem o Chile (35%) e a Argentina (43%).

Quando comparado aos demais países, o Brasil está exatamente em cima da média global em 2020: os mesmos 63%.

Em relação ao ano passado, a média de todos os países pouco mudou: em 2019, o percentual das pessoas que se consideravam felizes era de 64%.

A nível global, a pesquisa Ipsos também mostra uma redução dos níveis de felicidade. Em 2011, 77% das pessoas que responderam à pesquisa se diziam felizes. Hoje, este número é de 63%, ou 14 pontos percentuais a menos.

Brasileiros buscam felicidade em mais lugares, diz diretora do Ipsos

Além de perguntar sobre o quão feliz a pessoa estava, a pesquisa Ipsos também investigou quais fatores eram mais ou menos importantes para cada entrevistado.

A pesquisa listou 29 possíveis motivações para a felicidade, e pedia aos participantes para que indicassem o quanto cada uma delas poderia trazer “mais felicidade”, “alguma felicidade” ou felicidade nenhuma para suas vidas.

No caso dos brasileiros, chamou a atenção a diversidade de motivos que foram considerados importantes para ter uma vida feliz, diz Sandra Zlotagora Pessini, Diretora da Comunicação na Ipsos no Brasil.

Pernas de pessoas enfileiradas na rua
Fila para recebimento do auxílio emergencial no Rio durante pandemia de coronavírus; em pesquisa, menos pessoas mencionaram como fonte de felicidade a situação da economia geral ou própria/Foto: Ricardo Moraes-Reuters

Os fatores mais citados pelos brasileiros, em ordem de importância, foram a saúde / bem estar físico (68%); sentir que a vida tem um significado (62%); ter um bom emprego (62%); ter controle sobre a própria vida (60%) e a segurança e proteção pessoais (59%).

“Se olharmos o ‘top 10’ das fontes de felicidade dos brasileiros, em primeiro lugar aparece a saúde física e mental, o que faz ainda mais sentido num contexto de pandemia. Depois, já na sexta posição, aparece a espiritualidade, que é uma dimensão que tem muita importância para os brasileiros, junto com alguns outros países, como a Arábia Saudita e a Malásia”, comenta Pessini.

“No caso brasileiro, chama a atenção o fato de que a felicidade é composta por muitas dimensões além da questão econômica. Os amigos, o tempo livre ou de lazer; a vida afetiva. Tudo isso impacta na percepção de felicidade”, diz a diretora da Ipsos. (Fonte:BBC)