A Polícia Civil de Marabá está diante de um crime extremamente complexo, digno de um roteiro de filme policial, e terá de usar todos os seus métodos investigativos para descobrir quem matou Diogão. Mais que isso: quem mandou matar. Diogo Sampaio de Souza, de 38 anos, foi vítima de um dos mais espetaculares assassinatos ocorridos na cidade. O crime aconteceu às 18h16 de domingo (20), na Avenida Getúlio Vargas, pertinho da orla, em frente a uma tradicional empresa da Marabá Pioneira, num horário onde o fluxo de pessoas e de veículos era imenso. Mas não foi só isso que chamou a atenção.
Diferente do modus operandi que já virou uma espécie de lugar comum em Marabá, os criminosos não estavam de moto. O pistoleiro estava em um Fiat Way branco, parado do outro lado da rua, entre 12 e 14 metros de distância do alvo. As câmeras de segurança mostram o momento exato do crime, mas não há registro de estampido, não há sinal de faísca produzida pelo disparo e tampouco o cano da arma é vislumbrado. Os detalhes não param por aí.
O pistoleiro executa a ação em um momento muito crítico, pois um carro está passando pela rua quase se posicionando entre ele e Diogão. Aliado a isso, um lavador de carros também cruza o percurso da bala com um balde em mãos, sem saber o que estava por vir.
Leia mais:Não bastasse isso, a vítima estava conversando com um casal de idosos, a poucos metros da casa do seu sogro. Ele em pé ao lado do ancião, enquanto a senhora está sentada em uma cadeira de praia. Diante de todos esses elementos, apenas Diogão foi atingido. Tudo muito rápido. Ele foi baleado às 18h16min. e 23 segundos. Cinco segundos depois o Fiat com o pistoleiro arranca do local, para nunca mais ser visto pelas autoridades policiais.
Outro fator também impressiona: informação de uma fonte do Instituto Médico Legal (IML) revela que foram dois tiros disparados, e não apenas um, que atingiram as costas da vítima, praticamente no mesmo ponto. Segundo o delegado Thiago Carneiro Rodrigues, superintendente regional de Polícia Civil, somente com o resultado do laudo necroscópico será possível afirmar se foi um ou se foram mesmo dois tiros.
De todo modo, a julgar por todo esse cenário, a Polícia Civil está diante de um sniper profissional certamente contratado a peso de ouro, que veio a Marabá com a missão de não falhar e não falhou. Além de ser bom de mira e não ter zelo nenhum pela vida de ninguém, o criminoso estudou a vítima, sabia que Diogão estaria em Marabá para o aniversário de seu filho. Certamente auxiliado por comparsas, o seguiu de uma náutica na Transmangueiras até o ponto onde decidiu matá-lo.
Atentado
Em 5 de setembro de 2011, Diogão já tinha sofrido um atentado a bala. Naquela ocasião, ele estava cortando o cabelo em uma barbearia da Folha 16, na Nova Marabá, quando foi alvejado com nada menos de cinco tiros, um deles atingiu o pulmão. Mas ele sobreviveu, após um período internado no Hospital Regional. Na época, disse à polícia que não tinha inimigos e, por isso, não sabia de onde partiu a tentativa de assassinato.
Mas, desde que sofrera esse atentado justamente no mês de setembro, como agora, Diogão vinha tomando medidas de precaução. Ele tinha porte de arma e andava armado, um carro blindado e nada menos de três seguranças. Não teve jeito.
No momento em que foi morto havia pego um Uber da náutica até aquele local da orla; dois dos seguranças de Diogão estavam de férias e o outro não estava por perto. Além disso, a pistola na cintura não lhe valeu de nada, pois nem teve tempo para sacá-la. Morreu sem nem saber de onde veio o tiro.
Logo após o assassinato, policiais militares que estavam fazendo patrulhamento na Marabá Pioneira chegaram ao local, mas naquele momento ninguém sabia dizer com certeza de onde o tiro (ou os tiros) tinha partido. Somente depois com as imagens das câmeras de segurança foi possível entender um pouco mais sobre a dinâmica do crime.
Peritos do Instituto Médico Legal (IML) e policiais civis do Departamento de Homicídios estiveram no local colhendo evidências, informações preliminares e também imagens de câmeras de segurança que podem ajudar a elucidar o assassinato. “A Polícia Civil está trabalhando de forma intensa na solução desse crime”, assegura o delegado Vinícius Cardoso das Neves, diretor da 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil.
Diogo minerava ouro em suas terras em Pacajá
Desde o primeiro atentado a tiros que sofreu em 2011, Diogo Sampaio prosperou ainda mais no ramo da mineração, que já explorava. Em junho de 2017, em entrevista ao site Notícias de Mineração Brasil, ele anunciava que estava pronto para lavrar um depósito gigante, com 5 milhões de onças de ouro no Pará, com a sua empresa DC Mineração.
Naquela época a mina, em uma área em Pacajá, estava em fase de sondagem.
Diogo disse que até aquele momento já havia investido R$ 22 milhões no projeto de ouro, com a previsão de serem aportados mais R$ 20 milhões. Segundo ele, a empresa trabalhava com capital próprio, “sem depender do capital de outras grandes empresas”. A área do projeto possui 90 mil hectares.
“Essa mina foi invadida por 5 mil pessoas em 2013, por isso o trabalho deu uma atrasada. Mas o Ibama, junto com o DNPM, fez as operações [para desocupar a área]. Os trabalhos só não estão mais avançados por conta disso”, afirmou o empresário, na ocasião.
Naquela época, dados do jazidas.com davam conta de que Sampaio tinha 20 processos junto ao Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão que balizava o setor naquele ano. Desses, 19 eram pedidos de autorização de pesquisa em áreas de Pacajá e Portel.
O site colocava como empresas também pertencentes a Diogo a Mineração Peterli, Mineração Vale do Itacaiúnas e a DC Holding. (Da Redação, com NMB)