A estrada é de terra, a poeira faz parte do cenário de abandono. Na Comunidade Monte Sião, a realidade tem nome: pobreza. O ambiente parece zona rural, mas não é. As famílias que moram no local estão a pouco mais de sete quilômetros do centro de Canaã dos Carajás, no sudeste do Pará, considerada a quinta cidade mais rica do Estado do Pará.
Marinalva de Souza está doente. Tem que ir até Parauapebas, município vizinho, em busca do tratamento que não conseguiu aqui. “O prefeito nunca nos ajudou em nada”, lamenta a agricultora.
Sem emprego, Antônio Souza vive de trabalhos informais e se vira como pode para sustentar a família. ”A gente trabalha no centro da cidade fazendo bico de pedreiro para ganhar umas diárias, mas nem sempre conseguimos”, desabafa o morador.
Leia mais:Na comunidade, falta praticamente tudo. Não há água encanada, muito menos tratada. A energia é clandestina. Saneamento básico também não existe no local.
Rosana Martins mora com o marido e os seis filhos pequenos em um casebre de palha de dois cômodos. O sofrimento faz parte da rotina. A comida está acabando. “O que resta é a esperança de dias melhores” diz a dona de casa.
E esse não é o único drama vivido na comunidade. Oitenta e seis famílias vivem abaixo da linha da pobreza, em condições sub-humanas. Elas sofrem com o fantasma do despejo. Dizem que em dois anos já foram expulsas duas vezes da terra a mando do prefeito Jeová Andrade e temem sair novamente a qualquer momento. “Ele diz que isso aqui é dele, e não quer abrir mão para nós. Um pedacinho de terra que não vale nada pra ele, um homem rico daquele não quer dar um pedacinho de terra para a gente trabalhar e sobreviver,” desabafa a agricultora Maria Silva.
Um laudo da prefeitura, conseguido com exclusividade pela nossa equipe de reportagem do Portal Correio, mostra que o prefeito de Canaã dos Carajás, Jeová Andrade, autorizou através de lei, a cobertura de um crédito adicional de quase dois milhões de reais para a compra da área, com a finalidade de transformar o local em um lixão municipal.
A área de 830 mil metros quadrados, comprada pela Prefeitura de Canaã em 2013, aparece em nome de Aleixo Nunes Pimenta, suposto proprietário da terra. Mas uma certidão negativa do cartório de segundo ofício da cidade mostra que o terreno não pertence a ele. “O prefeito comprou tudo ilegal, até que o INCRA e o Ministério Público Federal provaram para nós que a área é da União”, relata o presidente da comunidade Monte Sião, Nivaldo Batista.
Para o Ministério Público Federal, o procedimento feito pela prefeitura foi ilegal e o gestor do município deve responder na justiça por isso.
Em uma parte dos 83 hectares, o lixão municipal funcionou por mais de um ano. Quando o Incra descobriu as irregularidades, mandou cessar imediatamente a utilização do espaço, acusando a Prefeitura de outro crime, desta vez, ambiental. “Esses que estão no poder aqui em Canaã têm que sair. Não podem continuar, tem que mudar a história”, conclui Nivaldo Batista.
A equipe do Portal Correio procurou a prefeitura para obter explicações e até o fechamento desta reportagem não houve resposta.
O Ministério Público Federal já pediu a reintegração de posse da área de 83 hectares para assentamento de pelo menos 500 pessoas que não têm onde morar. Enquanto a justiça não toma uma decisão, mais de oitenta famílias vivem em condições de pobreza extrema. (Nyelsen Martins – TV Correio)