No Brasil, estima-se que existam cerca de 1,2 milhão de pessoas com Alzheimer – são cerca de 100 mil novos casos por ano. Não se sabe a causa da doença, mas o modo de ação dela vem normalmente de uma proteína chamada betamiloide, que se deposita no cérebro em algumas áreas específicas, vai formando placas e causando danos na comunicação dos neurônios.
Ela age impedindo as sinapses e interfere na capacidade cognitiva. “As pessoas acham sempre que não vai acontecer, porque como o paciente tem muitas funções preservadas, está ‘bem’, a família pensa: vou deixar ele aqui e já volto. Mas isso é suficiente para o paciente se encontrar num ambiente que ele não sabe onde é e sair andando. Não precisa de muito tempo, precisa de um minuto. Então, quando o familiar pergunta: mas ele ainda pode ficar sozinho? Eu digo: nunca, depois que tem demência”, explicou à BBC Brasil Rose Souza Lima, psicóloga e gerontóloga que atua há mais de 25 anos no tratamento de pessoas com demência.
Dona Jacira Carvalho, que mora na Nova Marabá, cuida dos pais com Alzheimer desde 2010. Primeiro, foi a mãe que começou a apresentar os sintomas. Cerca de três anos depois, o pai também passou a se comportar do mesmo jeito e a família suspeitou que ele também estivesse com a doença.
Leia mais:“Minha mãe foi diagnosticada em Goiânia, depois que levamos ela pra fazer alguns exames devido a mudanças no comportamento. Por exemplo, ela fazia pães caseiros e começamos a perceber que, do nada, ela estava errando a receita e ficava impaciente por isso. Teve um dia que eu fui na cozinha e vi várias formas cheias de massa, mas o trabalho estava pela metade e ela havia deixado tudo por fazer”, conta Jacira.
Como o pai passou a ter as mesmas atitudes que a mãe, Jacira e a família deduziram que ele também havia contraído a doença. “É muito difícil lidar com essa situação. Às vezes, minha mãe age com agressividade e se refere a todos da família nos chamando pelo nome de um dos meus filhos. Ela também chama palavrões, coisa impensável antes do Alzheimer. E o pior que isso tem afetado a minha saúde. Preciso fazer uma cirurgia em julho e não tenho com quem deixar os dois”, explica a dona de casa aposentada.
Ela ainda disse que tanto a mãe quanto o pai recebem cuidados de um médico do Posto de Saúde Enfermeira Zezinha, na Folha 23, por meio do programa Saúde da Família. “Eles tomam vários medicamentos para tratar a doença e um médico do postinho faz visitas regulares aqui em casa para acompanhar a saúde dos dois”, acrescenta Jacira.
Característica
A primeira característica mais forte do Alzheimer é a perda da memória recente. “Basicamente, você diz algo para uma pessoa com Alzheimer e, em questão de minutos, ela pode não mais se lembrar do que foi dito. A pessoa perde a capacidade de fixar a informação nova. É como se ele tivesse um caderno cheio de informações só do passado, que também vão se deteriorar com o passar do tempo”, explicou Rose.
Diagnóstico
O diagnóstico de Alzheimer não é preciso e pode causar muita confusão no início. Não existe um exame específico que traga um resultado positivo ou negativo para a doença. O que se faz é uma análise completa com exames físicos e psicológicos para o que se chama de “diagnóstico diferencial” – nele, eliminam-se outras possibilidades de doenças para aí então concluir que é Alzheimer.
“O diagnóstico de certeza é só pós-morte. Em vida, a gente tem critérios de probabilidade: muito provável, provável, possível ou não provável. Então você pede exames para descartar outros problemas e ver se tem indícios de que é Alzheimer”, afirmou à BBC Brasil Renata Areza-Fegyveres, neurologista e pesquisadora do Grupo de Neurologia Cognitiva e do Comportamento do Hospital das Clínicas.
“Existe um consenso mundial que dá diretrizes para os médicos investigarem. Você analisa o histórico da pessoa, o exame clínico, neurológico, avaliação cognitiva breve, testes de rastreamento. Quando você faz toda a avaliação e é um médico com experiência, você consegue atingir um grau de certeza de 95%”, ressalta ela.
Atenção
Os primeiros sinais para se atentar segundo as especialistas são a perda de memória recente e a mudança repentina no comportamento. “Muitas vezes, o diagnóstico inicial vem como depressão, mas era Alzheimer, porque os sintomas são semelhantes na questão do distúrbio de comportamento”, explicou Rose.
Uma vez confirmado o quadro de demência, é importante iniciar de imediato dois tratamentos: o medicamentoso e o não medicamentoso. “É importante estimular essa pessoa sempre. A pessoa tem que continuar fazendo tudo enquanto puder, só que com supervisão”, disse Renata. (com informações da BBC Brasil)