Ontem (27), a jornalista Júlia Freitas protocolou queixa no Ministério Público do Pará (MPPA), com pedido de providências contra a Prefeitura Municipal de Rondon do Pará. O pedido se deve ao fato de que a jornalista viu negligência por parte da Secretaria Municipal de Saúde em relação à pandemia do coronavírus que acabou vitimando a mãe dela, Alice Freitas, de 78 anos.
Alice morreu no Hospital Regional de Marabá, no último dia 24. Mas os eventos que antecederam sua morte revelam um possível descaso não apenas com a idosa, mas também com outros pacientes.
Segundo Julia, tudo começou quando o irmão dela, José Roberto Freitas, de 52 anos, que é paciente renal crônico, cardiopata e hipertenso, foi acometido de coronavírus. Ele faz tratamento de hemodiálise três vezes por semana no Instituto São Francisco, em Ulianópolis, e é justamente aí que a cadeia de transmissão começou.
Leia mais:De acordo com a denúncia, Roberto Freitas viaja para Ulianópolis junto com outros 17 pacientes, todos no mesmo transporte, que é fornecido pelo município de Rondon do Pará. Acontece que entre os pacientes que fazem a hemodiálise alguns apresentavam sintomas de covid-19.
Ao ver o perigo que essa situação representava, Júlia Freitas solicitou à prefeitura que todos os 18 pacientes renais fossem submetidos aos testes de covid-19, mas a prefeitura não atendeu ao pedido. Mas não foi só isso. Segundo Júlia, os responsáveis pela Enfermagem do Hemocentro, em Ulianópolis, enviaram ofício à Secretaria de Saúde de Rondon, para que providenciasse, com urgência, a testagem dos pacientes transportados no mesmo veículo para as sessões de hemodiálise. “Nenhuma resposta foi dada”, denuncia.
Ela precisou ameaçar procurar o MPPA para que a prefeitura providenciasse a testagem. O resultado confirmou o temor de Júlia: seu irmão, Roberto, que morava junto com a mãe Alice, havia sido infectado e transmitiu para sua mãe, que estava em isolamento.
O primeiro a sentir os sintomas na forma grave foi Roberto, que teve de ser transferido para Marabá, sendo internado na UTI do Hospital Regional. Naquele mesmo momento, Alice Freitas também passou e sofrer com a doença e ficou quatro dias internada no Hospital São Francisco, em Rondon.
O quadro de saúde da anciã se agravava, de modo que ela precisava ser removida imediatamente para Marabá. Júlia Freitas solicitou uma ambulância à prefeitura, mas não foi atendida. Por isso, dona Alice, já com quase 80 anos e doente, viajou 150 km de Rondon a Marabá em carro particular, sem o suporte de atendimento de urgência.
Ela ainda ficou seis dias internada no Hospital Municipal de Marabá (HMM), até ser transferida para o Hospital Regional, onde morreu depois de passar nove dias lutando pela vida. E quando Roberto saiu da UTI já recebeu a notícia de que sua mãe havia morrido.
Prefeitura assegura que prestou atendimento adequado
Em nota, a Prefeitura de Rondon esclarece que distribuiu máscaras e álcool gel aos renais crônicos e acompanhantes. Diz também que os pacientes suspeitos para covid-19 são transportados forma individual para Ulianópolis, chegando a utilizar quatro ambulâncias, com quatro viagens diárias (ida e volta).
Sobre José Roberto, irmão de Júlia Freitas, a nota diz que o acompanhamento com a equipe de Monitoramento da Secretaria de Saúde foi iniciado assim que ele apresentou os primeiros sintomas.
Ainda segundo a SMS, foi dada ajuda de custo para realizar exame de tomografia de tórax de José Roberto, solicitada ainda no Hospital de Ulianópolis, realizando transferência bancária, além de disponibilizar ambulância, motorista, técnico de enfermagem e dois balões de oxigênio, para translado (ida e volta) para realização do exame em Paragominas. Depois ele recebeu alta médica da UTI, sendo posteriormente encaminhado para continuar recuperação e tratamento em domicílio.
Em relação a Alice, a prefeitura esclarece que no dia 2 foi entregue medicação e solicitado exame de tomografia de tórax, sendo realizado mais uma vez, pela Secretaria de Saúde, a transferência bancária para realização do exame.
No dia 10, a equipe foi informada por Júlia Freitas que sua mãe estava internada no Hospital da Rede Privada Maternidade São José, de Rondon, e que o município não foi notificado pelo Hospital Privado para realizar a transferência e que a paciente foi removida do Hospital por conta própria, ainda sem liberação de leito na cidade de Marabá, colocando por conta própria a paciente em um veículo de passeio particular, de propriedade de Edilson Oliveira Pereira, ex-prefeito de Rondon.
“A Prefeitura de Rondon se solidariza e entende o sofrimento da família, mas em hipótese alguma pode deixar que uma mentira se espalhe tirando a credibilidade de um trabalho sério que vem sendo realizado pela Administração e pelos trabalhadores da Saúde”, diz trecho final da nota. (Chagas Filho)