Os professores da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Rigler Aragão e Edma Moreira, divulgaram um texto na rede social, no qual fazem uma reflexão sobre a nova realidade do ensino remoto em razão da pandemia do coronavírus. Para eles, qualquer forma de implementação de ensino remoto nas universidades públicas é aprofundar a desigualdade.
A afirmativa dos professores está ancorada em pesquisa feita pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES), em 2019, que traçava o perfil socioeconômico dos estudantes das universidades federais. A constatação foi de que 70% dos estudantes são oriundos de famílias de baixa renda. Muitos dos estudantes não têm acesso a internet e computador em casa.
Essa realidade mostra que só terão um bom acesso ao ensino remoto os estudantes que dispõem maior poder aquisitivo, o que intensifica o abismo social já existente. A maioria terá dificuldades na absorção dos conteúdos. Mas não é só isso. Outro ângulo desse objeto é a precarização do serviço público, pois a forma de ensino remoto que o governo tentar impor para as universidades é transferir a responsabilidade para os professores.
Leia mais:“O docente é que terá de arcar com os custos dos insumos (energia, plano de internet, computador e espaço físico) necessários para preparar e ministrar as aulas online. O lar do docente será uma extensão do trabalho no momento que muitos professores/as estão com seus os/as filhos/as sem aula, ou com ensino a distância, ocasionando maior atenção e tempo com as tarefas domésticas. Essa realidade atinge muito mais as professoras, já que as mulheres são responsáveis pela maioria dos trabalhos domésticos”, diz trecho do artigo.
Segundo o artigo, no início da pandemia com a paralisação das aulas presenciais prefeitos, governadores e secretários de educação tentaram implantar o ensino remoto. “Muitos de forma romântica colocavam que com a pandemia o ensino a distância seria solução, como se abrisse uma porta de oportunidades e novidades em meio a pandemia. Não demorou muito para a realidade se impor, a minoria da população tem acesso a internet, a desigualdade e exclusão são traços fortes e marcantes da sociedade brasileira. O adiamento do Enem só reafirmou que milhares de jovens não tem acesso a internet para estudar, a juventude universitária carece com a mesma limitação”, explicam os professores.
Outra reflexão sobre o cenário atual é que estudantes, professores e trabalhadores prestadores de serviços da educação pública são pressionados a retornar às atividades. “A pressão ao retorno ocorre de diversas maneiras, uma delas é a adesão ao ensino remoto de forma aligeirada, sem formação e suporte técnico adequado aos professores e estudantes”.
Eles alertam que existe o discurso de fazer e despois avaliar o que deu errado e que está na hora dos professores saírem da “zona de conforto das aulas tradicionais”, sem discussão mais profunda. O mais provável com isso é o aumento da exclusão social de estudantes de famílias pobres, que foram duramente afetadas pela pandemia.
Geração de lucro
Os professores observam que ser contra o ensino remoto, não significa ser contra o desenvolvimento tecnológico e sua utilização na educação. A tecnologia é capaz de proporcionar inúmeros benefícios à sociedade. Mas da forma como vem sendo pensada sua implementação apenas para a geração de lucro, intensificação da exploração de trabalhadores e trabalhadoras tem servido para aumentar o abismo da desigualdade e exclusão social.
Por isso, eles entendem que é importante a luta coletiva de estudantes, técnicos e professores contra qualquer forma de exploração do trabalhador e exclusão dos alunos dentro das universidades. (Chagas Filho)