O Portal Correio de Carajás recebeu, durante esta quinta-feira (23), reclamações de pacientes em tratamento de câncer que aguardavam atendimento na Unidade de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) de Tucuruí. Eles relatavam falta de médicos e aglomeração no local, que é referência na região. Um vídeo registrado por uma paciente mostra pessoas sentadas na calçada do lado de fora da unidade (assista ao fim da matéria).
De acordo com Ivanete Ferreira da Costa Barbosa, uma das pacientes, todos haviam sido agendados pela unidade para o atendimento a partir das 8h. Passaram-se as horas e nada de um médico aparecer. Foi quando ela resolveu questionar a situação. “Estamos [no hospital] desde a madrugada e o médico ainda não apareceu”, denuncia.
Além da falta de profissionais, a paciente relata negligência às medidas de prevenção à covid-19. “Sala de espera lotada, sem condição de distanciamento”, analisa Ivanete. De fato, nas imagens enviadas por ela, é possível perceber que havia pessoas em assentos marcados na recepção, devido ao intenso fluxo no local.
Leia mais:Indagada pelo veículo de comunicação, Ivanete declara que os pacientes aguardam por consultas, coleta de medicamentos e sessões de quimioterapia. Sobre a quimioterapia, a paciente comunicou que um profissional chegou no início da tarde a fim de atender à demanda. “Mesmo assim, o descaso prevaleceu. Ele [o médico] chegou muito tarde”, refere ela.
Viagem longa por uma caixa de comprimidos
Por meio de um vídeo, a jovem Laura Costa narra o caso da própria mãe, que já passou por sessões de tratamento e sofre, em meio à pandemia, para ir buscar medicamentos na unidade. “Minha mãe foi diagnosticada com câncer em 2015. Fez quimioterapia e radioterapia. Todo mês ela precisa ir a Tucuruí de ônibus para buscar um medicamento”, expõe.
A mãe de Laura era uma das pacientes que aguardavam atendimento no local. A única demanda dela era receber uma caixa de comprimidos, que servem como quimioterapia oral. “Ela sai de Marabá à meia-noite e chega por volta das 4h a Tucuruí, onde espera sentada na calçada da Unacon. Triste, não?”, alfineta.
Na gravação, Laura cobra que Marabá também oferte atendimento oncológico pela rede pública de saúde. “Eles [pacientes] não precisariam passar por isso se o atendimento fosse oferecido aqui em Marabá”, avalia ela.
Advogada na linha de frente
Atenta a essa situação, a advogada Roberta Celestino Ferreira intermedeia o caso. Ela representa pacientes com câncer e atua na defesa do direito à saúde e à vida. Conforme a advogada, o tratamento oncológico na rede pública é de responsabilidade do estado.
“Tratamento oncológico é de alta complexidade. Por ser de alta complexidade, o estado tem mais condições que o município. Embora Marabá seja gestão plena, e não básica, o tratamento oncológico demanda medicamentos e insumos que estão na lista do estado”, explica Roberta.
Quanto ao porquê de Marabá não possuir uma unidade que ofereça tratamento oncológico na rede pública, mesmo tendo número de pacientes superior ao de Tucuruí, Roberta é categórica.
“O estado, em sede de defesa, alega que já existe uma Unacon em Tucuruí e que é dispensável neste momento a criação de mais uma em Marabá. Tucuruí ganhou uma unidade em função da hidrelétrica”, argumenta a advogada.
Estado garante atendimento
Procurada pela Reportagem, a Secretaria de Saúde Pública do Pará (Sespa) lamenta o ocorrido e informa que apura a situação. A pasta garante que os atendimentos serão realizados em horário estendido até que todos os pacientes sejam assistidos. (Vinícius Soares)