Vestido em terno branco, gravata desajeitada e um bigode excêntrico. É assim que Manoel Domingues aparece na única foto que chegou até nós, a partir de recorte de um exemplar da Revista da Associação Marabaense de Letras, da qual foi um dos fundadores, em 1925.
Mas sua história na cidade começou bem antes. Ele nasceu em São Luís-MA, em 1890, sendo descendente da família Rabelo Domingues, de cuja linhagem o Estado do Maranhão teve, como governador, o Dr. Luiz Domingues.
Manoel Domingues era prático de farmácia, tendo vindo para Marabá em 1911, como responsável por uma pequena farmácia da firma José de Pádua Costa. Um ano depois, estabeleceu-se por conta própria no mesmo ramo comercial. Em 1912, casou-se com Filomena de Araújo, com quem teve seis filhos: Itália, Redinau, Armando, Getúlio, Cleonice e Antonio Carlos.
Leia mais:Sua primeira contribuição destacada para a história da cidade ocorreu em 1913, quando foi o redator-chefe do primeiro jornal de Marabá, denominado o Itacayúna, e do qual também participaram João Parsondas de Carvalho e Alfredo Monção (que mais tarde viria a ser prefeito de Marabá).
Esse semanário tinha o objetivo principal de lutar pela emancipação da vila Marabá, que era subordinada ao município de Baião. O periódico foi fundado em 20 de fevereiro de 1913.
Em 1925, lá estava ele em posição de destaque em mais um fato marcante de nossa história, como membro da primeira Associação Marabaense de Letras, sendo escolhido por seus colegas como orador oficial da entidade. Mas essa função se estendeu também a eventos públicos organizados como festas cívicas, bodas e batizados, e logo sua fama de grande orador se espalhou pela região.
Ele também apreciava os esportes e foi o presidente do Tocantins Esporte Clube, em 1925, e do Brasil Esporte Clube em 1928.
Como ativista político, Domingues integrou, em 1935, o Partido Liberal do Brasil, e ocupou, em Marabá, diversos cargos públicos, como adjunto de promotor público, suplente de juiz, juiz federal (no governo de Washington Luís), inspetor escolar (por ato do interventor Magalhães Barata), primeiro juiz suplente (na gestão de José Gama Malcher).
E foi no exercício dessa última função que Manoel Domingues veio a falecer em 1939, com a idade de 49 anos.
VIÚVA POBRE
Após a morte de Manoel Domingues, sua esposa passou grandes dificuldades financeiras nos anos seguintes. Em 1955, mais precisamente no mês de setembro, a Câmara Municipal de Marabá aprovou a concessão de uma pensão mensal no valor de 5 mil cruzeiros para a viúva Filomena Araújo Domingues.
Os relatos do vereador Nilo Abbade, naquela época, e registrados em ata da Câmara Municipal, revelam que o filho mais velho de Domingues, Redinau, que também havia herdado a profissão de farmacêutico prático do pai, “não tendo coragem suficiente para encarar as vicissitudes da vida, tentou contra a própria existência, sucumbindo. Isso marcou o fim da independência financeira da família.
Hoje, a viúva de Manoel Domingues, pobre, portadora de incurável moléstia, sem qualquer outro arrimo senão a caridade de Deus e dos corações bem formados das famílias de Marabá, aguarda, resignada, o dia da morte, o fim dos seus sofrimentos”.
PÕE E TIRA
A Prefeitura de Marabá homenageou Manoel Domingues colocando seu nome em um Centro de Saúde que funcionou, por vários anos, em parte do antigo Hospital do Sesp, junto com o Hemocentro Regional, na Marabá Pioneira.
Com a saída do Hemocentro de lá para o novo prédio, na Cidade Nova, o velho prédio foi reformado para abrigar o Hospital Materno Infantil, e o Centro de Saúde foi desmobilizado, dando lugar a outro, no Bairro Cabelo Seco, mas depois denominado de Demósthenes Azevedo (uma homenagem justa, também). Assim, o nome de Manoel Domingues deixou de figurar em espaços relacionados à saúde.
O único órgão público que mantém, até hoje seu nome vivo é a Fundação Casa da Cultura, que denominou o Arquivo Municipal com o nome do velho orador.
Acima, o leitor apreciar uma página da Revista Marabá, da Associação Marabaense de Letras, com uma carta endereçada por Manoel Domingues a Francisco de Souza Ramos, a quem o missivista chama de “Meu caro compadre Ramos”. (Ulisses Pompeu)