Na série “Ilustres Desconhecidos”, navegaremos neste domingo, 27 de junho, sobre a história de Mário Mazzini. Não será bem uma navegação, mas uma reconstrução, já que em Marabá, ele atuou, por várias décadas como uma espécie de arquiteto e engenheiro civil, pois projetava prédios e também conduzia construções, como um mestre de obras.
Mazzini nasceu em 25 de fevereiro de 1910, em Belém e teria chegado a Marabá entre 1939 e 1940. Seu pai, Antônio Mazzini, era italiano e casou-se com Maria Cruz Mazinni. Antônio era arquiteto e trabalhou em projetos na Ferrovia de Igarapé-Açu, bem como na obra da ponte sobre o Rio Maracanã, na ferrovia de Bragança (Ponte do Livramento).
Mário casou-se, pela primeira vez, com Mineri Chaves Mazzini, já em Marabá, mas com ela não teve filhos. Posteriormente, casou-se novamente, desta vez com Neuza Cardoso de Aguiar, com quem teve três filhos: Antônio Carlos, Marineuza e Márcio. A filha fez faculdade de Farmácia e casou-se com Dionísio Nascimento, vivendo atualmente em Belém.
Leia mais:Márcio parece ter nascido com o DNA profissional do pai. Formou-se em Engenharia Civil e vive atualmente em Manaus-AM, onde exerce a profissão.
Mário, o pai, estudou apenas o ensino médio, mas marabaenses antigos, que o conheceram, afirmam que ele possuía profundos conhecimentos de engenharia. Projetou e construiu o antigo Clube de Mães (localizado na Rua 5 de abril e inaugurado em 3 de dezembro de 1967). Também trabalhou, como mestre de obras, na construção do quartel do 52º BIS (Batalhão de Infantaria de Selva), na década de 1970.
Além disso, há relatos de muitos prédios comerciais, residenciais e até casas de fazendas projetadas e construídas por Mário Mazzini em Marabá. Entre os projetos desenvolvidos por ele, o filho, Márcio Mazzini, relembra uma casa na Av. Antonio Maia, ao lado do JP Silva Calçados, bem como a residência de Nelito Almeida, na esquina da Tv. Santa Terezinha com a Norberto de Melo.
Atuou também no Departamento de Urbanismo da Prefeitura de Marabá e na empresa Mendes Júnior. Mas também teve passagens pela LASA e CICOL.
Paralelamente, Mário era maçom, tendo recebido o número 580 no cadastro maçônico em 7 de fevereiro de 1943 e daí em diante foi um robusto defensor da Loja Maçônica Firmeza e Humanidade Marabaense.
Vasculhando jornais e revistas de Marabá, desde a década de 1940, encontramos crônicas, reflexões e até um ensaio de romance escrito por Mário, que era culto e muito estudioso. Em verdade, ele deixou 26 originais de contos, crônicas e artigos diversos, que assinava algumas vezes com o pseudônimo de Tito Caio ou Garibaldi, mas todos impregnados de forte regionalismo.
Os originais de “A Saga da Castanha”, nos levam a inferir de que se trata do início de um romance, o qual, se terminado, resultaria, sem dúvida, num impressionante relato da vida dos castanheiros que, vindos de Imperatriz-MA, enfrentavam os longos e perigosos invernos nas matas da castanha em Marabá.
No Jornal “O Marabá”, de Antônio Sarmento Júnior, Mazzini manteve, durante dois anos, a coluna “Conversa Fiada”, em que escreveu artigos com tons políticos. Ele também cobrou, de forma veemente em seus textos, celeridade na construção da ponte rodoferroviária sobre o Rio Tocantins, de 2.310 metros, cujo projeto se arrastava desde a década de 1970.
Mas, um de seus últimos sonhos, de ver aquela obra construída, não foi realizado. Mário Mazzini faleceu em 28 de maio de 1981, em Marabá, mas a ponte só foi inaugurada em 28 de fevereiro de 1985.
Se tivesse vivo, veria o neto, Mário César, também graduar-se em engenharia civil. O rapaz, atualmente, trabalha tem especialidade em ferrovias e trabalha para a Vale, em Carajás.
Em 6 de fevereiro de 1978, já idoso, Mazzini escreveu uma bela crônica em memória do amigo e ex-prefeito de Marabá, Pedro Marinho de Oliveira, que acabara de falecer. “Como cidadão e pai de família, soubeste cumprir o teu dever. Simbolicamente, foste um verdadeiro obreiro da “pedra bruta”. Marabá, a tua terra adotiva – a qual muito amaste e deste todo o vigor do teu idealismo – chora a perda do grande filho. E reconhece, com eterna gratidão, todos os benefícios que lhe foram propiciados, pelas práticas de tuas virtudes como cidadão, político e administrador”.
Curiosamente, quando o grande escritor Mário Mazzini faleceu, foi um ano praticamente vazio de jornais ou revistas em Marabá. O Vanguarda noticiou sua morte três meses depois, quando voltou a circular. O Correio do Tocantins só começaria a ser editado em 15 de janeiro de 1983. Nesse hiato, o homem das letras dormiu quase no esquecimento.
Todavia, apesar de não ter ganhado nome em rua, prédio público, escola, as digitais de Mário Mazzini ainda estão por aí, espalhadas em casas antigas da Velha Marabá e no quartel do 52º BIS, que ajudou a construir e que são testemunhas de seu legado. (Ulisses Pompeu)
Texto atualizado às 22h30 do dia 28 de junho de 2020, após recebemos mais informações sobre Mário Mazzini repassadas por familiares dele.