Na próxima segunda-feira (15) será completo o período de três meses desde que bares e restaurantes tiveram de paralisar o seu atendimento presencial por força do Decreto Estadual nº 609/2020, como medida de enfrentamento ao novo coronavírus (covid-19). Nesse período, muitos empresários começam a sentir o aperto de não conseguirem mais manter seus estabelecimentos, caso não haja uma retomada dos serviços. O desemprego de diversos profissionais que trabalham no setor já é uma realidade e os empreendedores sonham com o retorno o mais breve possível de suas atividades, mesmo que condicionadas.
O presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares (Sindhotel), Dauro Remor, demonstra grande preocupação com esse ramo da economia, já que diversos bares e restaurantes começaram a sentir perdas grandes, principalmente para manter o quadro de funcionários. Eles convidaram a reportagem ontem (12) para acompanhar um encontro entre alguns desses empresários, que discutem possíveis soluções.
“Há pessoas muito bem qualificadas que antes tinham seus empregos e agora não estão mais no mercado. Nos grandes hotéis e restaurantes as demissões atingiram desde os garçons, até cozinheiros renomados que vêm de outras localidades para atuar na cidade”, estima Dauro.
Leia mais:O SindHotel possui 42 afiliados que já passam por algum tipo de dificuldade, por conta do seu fechamento. O lucro de muitos desses negócios depende diretamente da frequência dos clientes dentro do estabelecimento, consumindo os produtos, justamente o que está proibido no atual momento. No entanto, para o presidente, pode haver muito mais empresas do segmento que não são afiliadas ao sindicado em situação financeira delicada.
Griego Duarte é proprietário do restaurante Tertúlia Gourmet, e tem se mantido até agora com os serviços de delivery, porém, ele relata que somente nessa modalidade não consegue se manter por muito tempo. “Somos 36 colaboradores, e devido à situação eu dispensei seis, e provavelmente vou ter que dispensar mais 15 se esse cenário não mudar. Então, acho que o poder público poderia se sensibilizar com nosso segmento, pois muitos não conseguirão se manter como estão por muito tempo”, lamenta Griego.
E os prejuízos em quase três meses de fechamento são incalculáveis. Samuel Tomé, proprietário do Espeto Express, revela só um dos aspectos do seu prejuízo que é o de produtos perdendo a validade. É o caso de R$ 3 mil que perdeu em bebidas que passaram do prazo.
“O nosso prejuízo maior foi nas bebidas, pois muitas ficaram sem ser consumidas, como refrigerantes e cervejas. Conseguimos aproveitar os alimentos, pois fizemos doações para nossos funcionários que passaram por alguma necessidade, como carne, peixe, arroz, feijão, e outros”, diz Samuel.
E mesmo com delivery, a situação não ficou muito melhor. Samuel conta que antes da pandemia, eram servidos de 250 a 300 refeições por dia, mas, agora com o delivery, esse número caiu para 70 e 80. “Infelizmente não consigo manter todo o quadro de funcionários com um número de vendas tão reduzido”, confessa.
Se os números de Samuel são preocupantes, os de Mônica Almeida, proprietária do Bar Santo Gole e da Pizzaria Paulista, são ainda mais alarmantes. Somente levando em conta o que costuma faturar com vendas de bebidas, o prejuízo foi de R$ 80 mil em todo o período.
“Tivemos que fechar o bar antes da publicação do decreto, no inicio de março, pois as cheias dos rios acabaram por invadir a parte de trás do local. Com o passar do tempo, a situação foi ficando insustentável, pois na pizzaria perdemos R$ 30 mil de alimentos que passaram do prazo de validade”, relata Mônica.
Além dos insumos dos estabelecimentos, Mônica ainda paga as demais despesas, que mesmo com o não funcionamento dos locais, continuaram sendo cobradas, como aluguel e conta de energia. “Somando todas essas despesas, temos um prejuízo de 500 mil reais, e mesmo assim não demitidos nenhum de nossos funcionários”, diz a empresária.
ALÉM DOS NÚMEROS
Os incalculáveis prejuízos que os empresários do ramo passam são chocantes, no entanto, o decreto impede algo que vai além das despesas. Para Beatriz Barros, proprietária do Rio Bar e Restaurante, somente serviços de delivery não sustentam a necessidade da população.
“As pessoas tem a necessidade de socializar, de estar no ambiente, de poder conversar, e acho que isso deveria ser levado em consideração. Eu mesma sinto falta de poder atender pessoalmente os meus clientes, de recebê-los bem. Acho que um delivery não satisfaz por completo as vontades das pessoas”, comenta Beatriz.
A Orla de Marabá é o cenário de Beatriz, que anseia para que tudo volte ao normal o quanto antes e ela possa proporcionar mais experiências aos marabaenses. “Todo o investimento que trouxemos está parado, e me refiro, principalmente, a experiência que proporcionamos aos cidadãos”, diz Beatriz.
A CONTA NÃO FECHA
Segundo Dauro, diversas propostas já estão sendo pensadas para reverter à situação. Uma delas são pedidos ao Poder Público para flexibilizar o funcionamento dos bares e restaurantes, seguindo medidas recomendadas pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
“Queremos solicitar a flexibilização do decreto que nos impede de funcionarmos normalmente. Pois o que há em vigência, permitiria atuar com capacidade de apenas 30%, o que é pouco para a situação que estamos. Muitos não conseguirão se recuperar apenas com essa quantidade, tendo em vista todas as despesas que temos. Ou seja, essa conta não fecha”, explica Dauro.
Na cartilha proposta pela Abrasel, há uma série de instruções sobre como os bares e restaurantes devem funcionar. Desde adequação nas instalações, até orientações para equipes e clientes são repassados.
Para a equipe, por exemplo, o uso da máscara e o afastamento caso contraia alguma enfermidade são algumas das recomendações. Os clientes, o foco seria na conscientização máxima, desde orientações verbais até de forma visual em placas espalhadas por recepção e banheiros.
O SindHotel espera que com as propostas de reabertura dos estabelecimentos, Marabá possa voltar aos poucos a sua normalidade, levando em consideração que muitos empresários podem não voltar à ativa junto, caso, por um milagre, a pandemia passasse. (Zeus Bandeira)