Em 2016 foi entregue à população de Canaã dos Carajás a Feira do Produtor e Mercado Municipal, que comporta comerciantes de ervas, frutas, legumes, peixe, farinhas, comidas prontas e dos mais variados produtos. A construção do prédio foi executada por meio de convênio com a mineradora Vale e a empresa investiu R$ 3,9 milhões na obra de levantamento dos 166 boxes, além de banheiros coletivos, auditórios, salas de reunião, administração e recepção.
O anúncio do investimento aconteceu em 2014, mas em 2015 a Prefeitura Municipal de Canaã dos Carajás, administrada por Jeová Andrade, abriu Processo Licitatório (162/2015/PMCC-CPL) alegando ter havido erros na concepção dos projetos e planilha orçamentária iniciais da edificação e afirmava necessitar de mais recursos para a finalização.
O novo projeto licitado previa não apenas o término da feira, mas também a construção do restaurante popular, no segundo piso, composto de salão de refeição, cozinha industrial, sala de escritório, sala de sanitários, depósitos, câmara fria e expurgo.
Leia mais:Em decorrência deste processo, em 03 de novembro de 2015 o prefeito Jeová Andrade assinou o contrato Nº 20151790 com a Construtora Belmonte Ltda, no valor de R$ 2.984.885,70, ou seja, a obra total chegou a R$ 6.884.885,70.
Acontece que passados cinco anos nem a população, nem os visitantes e nem os feirantes sentiram o sabor da comida preparada no restaurante de quase R$ 3 milhões, isso porque ele nunca serviu um único prato de refeição.
REVOLTA
A feirante Marcela Santos vende ervas medicinais na feira há três anos, desde a inauguração. Ela conta que desde quando chegou existe a construção destinada ao restaurante existe e que sempre se falou sobre o assunto, mas o projeto nunca foi colocado em ação. “Todo o prédio foi entregue pronto, somente vi funcionar (restaurante) para pequenos eventos feitos pela Prefeitura, não enquanto restaurante popular”, conta.
Para ela, o funcionamento atrairia clientes para a feira e traria mais praticidade e economia aos próprios feirantes, acrescentando ser inaceitável o recurso investido não ter sido revertido em melhorias para a comunidade. “É uma calamidade, né? Uma tristeza muito grande porque a alimentação tá muito cara, ainda mais agora na época de pandemia. É revoltante porque a população precisa de benefícios e quando há benefícios que a gente não recebe é preocupante demais, ainda mais sabendo que o dinheiro foi gasto”, desabafa.
Vanildo Alves Martins mantém a família com a venda de frutas e verduras e uma renda mensal de aproximadamente R$ 1 mil. Deste valor, se vê obrigado a tirar de R$ 10 a R$ 15 diariamente para almoçar em alguma das bancas que servem refeições no espaço. Quando a grana aperta, gasta combustível para comer em casa. Acredita que o restaurante popular poderia ser fonte de comida mais saudável e nutritiva e de economia para ele.
“Foi construído exatamente para isso, né? Tem muita gente que trabalha aqui e às vezes pensam que as pessoas ganham muito dinheiro, mas tem vez que tem deles aqui que não conseguem arrumar nem o dinheiro de almoçar”, explica, acrescentando que o funcionamento ajudaria bastante quem trabalha no local. “Se eles fizessem o restaurante aí eu mesmo eu ia almoçar lá, porque fica mais barato pra gente, né?”.
POSICIONAMENTO
Procurada pela Reportagem do Correio de Carajás, a assessoria de comunicação da Prefeitura Municipal de Canaã dos Carajás encaminhou posicionamento afirmando haver burocracia para instalação do restaurante popular e que, provavelmente, o espaço não servirá para esse fim. Segue a nota, na íntegra:
“O Restaurante Popular funciona com verba federal. Para seu funcionamento é necessária a contratação de uma empresa especializada para administrar o restaurante. A burocracia no recebimento da medição leva dois ou três meses para ser concluída, inviabilizando a contratação.
Além disso, com a inauguração da feira e a instalação de 22 boxes de alimentação no piso térreo, o funcionamento do Restaurante Popular inviabilizaria a atividade no ramo alimentício, prejudicando 22 famílias que têm em seus boxes de alimentação a sua principal atividade econômica.
Com isso, o espaço foi destinado a realização de eventos governamentais e para a comunidade em geral como, por exemplo, a Feira Multimarcas que está em seu quarto ano, eventos de entidades como Lions Club e outras.
Atualmente, o espaço também tem sido utilizado como Cozinha Show, viabilizando o treinamento de centenas de pessoas com cursos de doceria e salgados, preparando os pequenos, médios empreendedores, bem como, autônomos do município.
Sobre a previsão de funcionamento do Restaurante Popular, tudo depende de um novo estudo de viabilidade econômica. As informações atuais apontam para a utilização como espaço para eventos atendendo o governo municipal e entidades não governamentais”. (Luciana Marschall)