O lockdown (bloqueio total) decretado pelo Governo do Pará em Belém e mais 9 cidades está previsto para encerrar no dia 24 de maio. Mas, pesquisadores alertam que antes de flexibilizar as medidas de isolamento é preciso ter a real informação sobre a curva da Covid-19, ou seja, se os casos aumentaram ou diminuíram de fato nos últimos dias.
“Os casos que aparecem nas publicações da Sespa (Secretaria de Saúde do Pará), confirmados e publicados no dia, a maior parte ainda são de testes laboratoriais. Esses testes são frutos de exames coletados aproximadamente 20 dias atrás. Ou seja, há 20 dias essa pessoa estava apresentando sintomas, mas hoje essa pessoa não está mais lotando UPAs e hospitais. Por isso verifica-se redução nas buscas a esses locais e os números da Sespa estão diferentes“, explica o professor Elias Castro, da Universidade Federal Rural da Amazônia.
“Os números de casos e óbitos refletem o que estava ocorrendo em semanas anteriores. Outro parâmetro é o número de internações, de ocupações de leitos de UTI. Todas essas variáveis tem que ser consideradas na permanência ou não de lockdown”, explica o Dr. Pedro Vasconcelos, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical e ex-diretor do Instituto Evandro Chagas.
Leia mais:Na terça-feira (19), o prefeito de Belém, Zenaldo Coutinho anunciou nas redes sociais que está planejando o retorno às atividades e a flexibilização para abertura do comércio não essencial a partir do dia 25 de maio. De acordo com Coutinho, a decisão de reabrir o comércio se deu diante da queda da concentração de casos na capital. Zenaldo defende que “a doença está se expandindo para o interior, infelizmente”.
Vasconcelos explica que é preciso cautela na tomada de decisões individuais. “A prefeitura não pode tomar uma decisão individual, lembrando que Governo do Estado é responsável por todos os municípios. Se o Governo do Estado, em função das ocorrências da Covid-19, seja de casos, seja de óbitos, decidir permanecer com lockdown, seria catastrófico fazer abertura do comércio nesse período. Se por outro lado, o governo decidir que não vai prorrogar e vai finalizar com alguma ação, sem abrir mão de uso de máscaras, talvez possa a prefeitura estar respaldada para também, de modo bastante rígido, ir liberando comércio”, pontua Vasconcelos.
Já o pesquisador Elias Castro acredita que a pior fase de contaminação já passou. “Isso mostra que de fato o pico ocorreu e estamos em descendência nessa curva, por isso, provavelmente reforça a decisão do fim do lockdown”, afirma o professor.
Subnotificações
Para o médico Pedro Vasconcelos, as subnotificações prejudicam uma análise dos números para saber se os casos e óbitos estão diminuindo de fato ou aumentando.
“Difícil dizer se diminuiu. Se não tivermos esses dados computados pelo dia de ocorrência do óbito, fica difícil, porque há uma espécie de gangorra. Segunda foram anunciados 50 óbitos, já ontem passou pra 172. Se considerarmos esse número absoluto, esse óbito é enorme, mas tem óbitos de 10 dias atrás, do passado, quando a situação era pior do que talvez seja hoje”, explica Vasconcelos.
A Secretaria de Saúde do Pará (Sespa) informou que identificou subnotificação de casos e óbitos em diversos municípios em que somente agora as prefeituras alimentaram o sistema do Estado. Mas, a secretaria afirma que esses casos ocorridos no passado e subnotificados não alteram a avaliação de tendência de queda no número de óbitos.
Interiorização da Covid-19
O pesquisador alerta para o problema da interiorização da Covid-19. “Aparentemente, o que está sendo sinalizado é da interiorização da doença, para os interiores. Inicialmente, mais de 90% dos casos estariam na Região Metropolitana e em Breves. Hoje parece que a coisa está caminhando para agravamento no interior”, detalha o ex-diretor do IEC.
Ele alerta ainda para a possibilidade de uma segunda onda de contaminação em Belém se os casos do interior não forem controlados. Como temos limitações de atendimento, a vinda desses casos para capital deve ocorrer com frequência e trazer novas infecções, fazer a segunda onda de transmissão”, afirma ainda Vasconcelos.
(Fonte:G1)