Quem vê, hoje, o belo lugar em que Edgar Duarte vive com a esposa France Mary Duarte, numa chácara a 10 km do Aeroporto Marabá, não imagina a trajetória de sofrimento para construir o espaço aconchegante ao longo das últimas décadas. É um Jardim do Éden perto da metrópole que se transformou a cidade, que agora completa 107 anos de história.
Há mais de 50 anos Edgar conhece Marabá e região. Ele chegou a Tucuruí em 1969, vindo do Ceará, e trabalhou na empresa Camargo Corrêa por dez anos. Quando ele saiu de lá, o fez com a decisão de trabalhar com o comércio. Na época, Edgar tinha dois filhos e veio para Marabá tentar uma vida diferente. Ainda nesse período, conta ele, a cidade não tinha as pontes que ligam seus núcleos. Para se ter uma ideia, o trajeto, de caminhão, entre Imperatriz e Marabá, era calculado em cerca de 30 dias, visto que as carretas precisavam atravessar por balsa os três rios que banham a região. “A cidade era cheia de poeira, a locomoção era muito difícil. Quem conheceu Marabá naquele tempo, desconhece nos dias atuais, porque está muito diferente diante daquele cenário caótico”, relembra.
Edgar também recorda que foi a São Paulo em 1989 e conta que tinha vergonha de dizer que morava em Marabá. Quatro ou cinco anos depois, toda aquela visão negativa caiu por terra. Ele passou, então, a ter orgulho do lugar onde vivia. “Aí nós fomos crescendo. A família foi se estruturando, tendo filhos e evoluindo mais e mais. Nós só devemos gratidão a Deus e a esta terra”, afirma.
Leia mais:Mary, explica, por sua vez, que ela e o marido tiveram uma loja de aviamentos e calçados em Marabá, até que decidiram mudar de ramo. Eles começaram a vender artigos para recém-nascidos. Na época, ela teve um filho e o casal uma propriedade na zona rural do município, a qual mantém até hoje. Para se chegar lá, eram inúmeros os desafios. O primeiro, e talvez o mais evidente, era a estrada. “Nós precisávamos percorrer um longo trecho de chão. Naquele tempo não existia asfalto, era tudo na terra mesmo. Quando chagávamos aqui (na casa de campo), era só poeira”, rememora.
Mesmo diante desse cenário de adversidades, Mary relata que não deixava de promover festa. Tinha comemoração até por um novo freezer comprado pelo casal. “Na época que colocaram energia aqui, nós fizemos uma festa danada. Chamamos, certa vez, os amigos para fazer a inauguração de um freezer. Era muito divertido. Isso aqui (o interior), para nós, foi amor à primeira vista”, narra, com os olhos brilhando.
Edgar conta que tem amor pelos animais. “O nordestino – e eu o sou um – tem o sangue roça (roça mesmo). Acho que por isso tenho um amor muito grande pelos animais. Foi isso que fez com que eu adquirisse a terra para cuidar dos bichos. É um amor que vem de berço, é hereditário”, reafirma.
Edgar conta que toda lembrança e memória de coisas do passado têm um propósito. “Aquilo que você passou, que viveu. O importante é viver isso tudo e recuperar aquelas emoções”.
Ele relata, ainda, que é muito feliz por ter vivido tantas emoções. Os dissabores, na visão dele, foram fortificantes necessários na construção do homem e da mulher que o casal se transformou. “A minha felicidade é enorme. Muito grande. Meus filhos, que são minha família, a base de tudo, são o meu maior patrimônio conquistado aqui em Marabá, eu costumo dizer”, alardeia.
Mary afirma que quando chegou a Marabá, não gostava da cidade, mas que hoje tem orgulho em dizer que é, sim, uma filha desta terra, mesmo sem ter nascido aqui. “Marabá me deu tudo o que eu tenho hoje. Três filhos maravilhosos, essa casa e o marido, que hoje nós estamos dedicados a essa vida de cuidar dos animais”.
Edgar relembra que, em 1972, quando esteve em Marabá pela primeira vez, não tinha o desejo de retornar à cidade para aqui construir sua família. “A cidade era muito feia. Como eu disse, era vergonhoso dizer que morava aqui”. Com o passar dos anos, entretanto, a visão negativa e o preconceito caíram por terra.
O véu do tabu que fechava os olhos de Edgar para a beleza da região, finalmente, foi rasgado. “Eu me apaixonei por esta cidade. Enquanto estava trabalhando fora (em Tucuruí), a lembrança era Marabá, até que eu voltei”, confessa.
Lembranças de um passado difícil, mas feliz. Edgar narra, ainda, que, quando deixou a Camargo Corrêa, poderia escolher voltar para sua terra. “Mesmo assim, mesmo Marabá sendo sofrida, o destino me fez continuar aqui. E eu agradeço muito por isso, porque foi essa escolha por Marabá que nos fez chegar até aqui”, avalia ele.
Edgar conta que, se pudesse guardar uma coisa da Marabá do tempo dele, ficaria com a tranquilidade. “Naquele tempo você levava uma vida tranquila, sem os problemas que hoje são percebidos, como a violência. Então eu preservaria a tranquilidade”.
Além disso, Marabá era palco de atrações incríveis que, na avaliação de Edgar, não poderiam ter acabado. “Nós tínhamos o Maraluar, na praia, evento que não poderia nunca ter sido eliminado. Tínhamos escolas de samba que estavam crescendo em ritmo acelerado. Elas sumiram e isso não deveria ter acontecido. Essas coisas que eu não gostaria que tivessem acabado”, finaliza.