Correio de Carajás

Estudo prevê falta de leitos e equipamentos no Brasil para o dia 21

Um estudo divulgado em plataforma científica assinado por especialistas da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e pelo secretário Nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Wanderson Oliveira, aponta cenários com possíveis medidas que podem precisar ser tomadas pelo governo federal no combate à pandemia do coronavírus Sars-Cov-2 no Brasil.

artigo foi publicado como prévia (pré-print) em plataforma que reúne pesquisas ainda não divulgadas em revistas científicas, ou seja, que ainda não foram revisadas por outros cientistas que fazem parte dos comitês das publicações.

O texto alerta para a falta de recursos de saúde no país já no começo de abril, para a possibilidade de o governo requisitar o controle de leitos de hospitais privados, a necessidade de produção de insumos e de mobilização grandes formadores de opinião por uma mensagem única para conter a epidemia.

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Em 20 de março, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, já havia afirmado que os casos da Covid-19, doença causada pelo coronavírus, deveriam disparar no país entre os meses de abril e junho.

Leitos de UTI podem faltar em abril

A análise do secretário em parceria com os estudiosos de Harvard indica que hospitais brasileiros devem, a partir do começo de abril, ter redução da disponibilidade de camas de hospitais e aparelhos respiradores, sendo a redução de vagas em unidades de terapia intensiva (UTI) o problema mais imediato.

Nas capitais, os pesquisadores preveem que a falta de equipamentos aconteça a partir de 21 de abril. O estudo alerta para que a população mais pobre, que depende exclusivamente da rede pública de saúde, será a mais afetada pela falta de estrutura.

“Vai aumentar ainda mais as desigualdades pré-existentes, o que exige uma reflexão sobre equidade e ética na alocação de serviços”, diz o estudo. “Evitar esse cenário é a tarefa primordial do Ministério da Saúde”, aponta.

Secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira — Foto: TV Globo/Reprodução
Secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira — Foto: TV Globo/Reprodução

Possibilidade de estatizar hospitais temporariamente

Os pesquisadores também apresentaram 12 cenários possíveis de acordo com as possibilidades de evolução do vírus no país. Em um deles, os especialistas sugerem a necessidade de estatizar temporariamente hospitais particulares caso haja redução nos atendimentos e serviços da rede pública.

Contra a lotação do sistema público de saúde, o artigo propõe o exemplo da Espanha. Para diminuir o número de atendimentos na rede pública, o país europeu pôs todos os hospitais particulares sob o controle do estado.

O estudo lembra, também, que nem todos os recursos hospitalares serão dedicados inteiramente aos casos de Covid-19, ainda que alguns procedimentos possam ser adiados.

A pesquisa cita a dengue e a gripe (influenza) como ponto de preocupação. Segundo o estudo, o pico de hospitalizações por essas duas doenças em 2019 ocorreu entre março e maio e ao longo de maio, respectivamente.

Ações para mobilizar população

O estudo também indica três tipos de ações que considera necessárias na mobilização da população contra a pandemia:

  • praticar o isolamento social
  • aumentar o compromisso da sociedade com o apoio de líderes e formadores de opinião
  • aumentar o número de testes para poder criar ações de bloqueio mais eficazes.

Observações da doença na China e na Itália

As projeções do artigo foram feitas a partir de dados obtidos pelo Ministério da Saúde que incluem o perfil e o número dos infectados e informações sobre equipamentos de saúde, como leitos de UTI e oferta de respiradores. As informações foram coletadas pela plataforma DataSUS.

O estudo deixa claro, no entanto, que não há informação consolidada sobre o limite de ocupação para os hospitais da rede privada.

A estimativa de crescimento do surto do novo coronavírus no Brasil que os pesquisadores acreditam ver nas próximas semanas foi feita a partir dos padrões observados durante a epidemia na China no início do ano.

A forma como o vírus se espalhou na Itália também é levada em consideração pelos autores do artigo, que consideraram que 12% dos casos foram levados para a UTI no país europeu.

(Fonte:G1)