A Delegacia Especializada no Atendimento à Criança e ao Adolescente (Deaca) de Parauapebas deflagrou na manhã desta quarta-feira (1º) a Operação Pandofilia que tem como objetivo cumprir 10 mandados de prisão preventiva contra acusados de estuprarem crianças e adolescentes.
Até o momento, cinco homens foram presos, dentre eles, Antônio Santiago, Railhony Soares, Francisco Alves Araújo, Ednaldo Pereira da Silva e Charles Dias Oliveira. Todos os mandados foram expedidos pelas 1ª e 2ª Varas Criminais de Parauapebas por crimes previstos no Artigo 217-A do Código Penal Brasileiro, que trata de estupro de vulnerável.
“A maioria dos crimes foi praticada contra crianças, então caracteriza-se como pedofilia. Noventa por cento dos casos que chegam até a nossa delegacia ocorrem no ambiente familiar por parentes muito próximos, como pai, padrastos, avós, tios e irmãos”, explica a delegada Ana Carolina, responsável pela ação.
Leia mais:Em um dos casos destacados por ela, uma criança foi abusada dos 9 aos 11 anos e sofria torturas dentro de casa. “A vítima era abusada sexualmente desde os nove anos de idade, hoje está com onze anos de idade e o exame psicológico deu positivo para conjunção carnal. Ela relata tudo com muito sofrimento, ela viveu durante mais de dois anos práticas de tortura, psicológicas e sexuais, dentro da própria casa”, diz.
Os homens presos serão ouvidos em depoimento ao longo do dia e em seguida encaminhados para a Cadeia Pública de Parauapebas. Ana Carolina destaca, entretanto, que o comum é o acusado por este tipo de crime negar os fatos.
“Eles sempre negam, entretanto, acabam deixando umas brechas que nos fazem concluir que realmente os fatos aconteceram. As versões das vítimas são ouvidas através de escuta especial e são muito coesas em relação ao cronograma dos fatos. Lembrando que nem todos os abusos sexuais deixam vestígios aparentes, por exemplo, o toque, o sexo oral, não deixam vestidos aparentes, mas deixam marcas profundas na alma e tudo isso é abuso sexual, então todos são capitulados pelo crime de estupro de vulnerável”, explica.
A operação terá continuidade para cumprimento de mais medidas judiciais, assim como estão sendo requeridas outras prisões preventivas. A ação foi batizada de Pandofilia justamente por envolver crimes ligados à pedofilia e ser desencadeada durante a pandemia de coronavirus. As recomendações de isolamento por conta da transmissão do vírus acenderam o alerta da Polícia Civil.
“Este momento de pandemia mundial nos fez refletir que muitas das nossas crianças e adolescentes estão confinados em casa com os abusadores. Isso nos preocupa muito porque as vítimas estão muito mais vulneráveis que estavam antigamente. São crimes hediondos e as nossas vítimas permanecem em casa com os abusadores”, afirma.
Um dos acusados foi preso com arma
Francisco Alves de Araújo, de 53 anos, um dos presos, também foi autuado em flagrante por posse ilegal de arma de fogo e munições, localizada na residência onde vive no momento da prisão.
A Polícia Civil não forneceu detalhes sobre a prisão ele especificamente. O homem, entretanto, concedeu entrevista, informando ter sido denunciado por uma jovem que atualmente tem 18 anos, mas que o acusa de abusos ocorridos há bastante tempo. Ele também foi apontado como tendo abusado de uma criança que atualmente tem 9 anos.
“Olha é uma acusação que eu nem sei explicar porque eu brinco com as minhas sobrinhas, com todo mundo, minhas filhas, abraço e tudo, aí acontece uma coisa dessa. Sinceramente eu não sei nem explicar como montaram essa coisa toda, viu?”, defendeu-se, alegando que jamais abusou sexualmente de criança ou adolescente.
Ele afirma, inclusive, ter trabalhado durante seis anos como motorista de ônibus escolar na Prefeitura de Parauapebas e estar neste momento parado por estar realizando processo de renovação da Carteira Nacional de Habilitação. “Eu trabalho com criança há seis anos, nunca ouvi isso e agora essa acusação. Nunca ouvi isso. Tantas monitoras que passaram comigo e nunca ninguém viu uma coisa dessas”, declara.
Francisco relata que há algum tempo esteve realizando serviços para um conhecido na zona rural. Ao retornar foi surpreendido pela acusação. “Ela tinha prestado queixa, dizendo que eu tinha feito isso. Aliciamento, né? Aliciamento. Aí eu fiquei em casa aguardando um dia chegar esse momento para mim esclarecer. Ela diz que foi desde não sei quando… faz muito tempo, mas agora que ela denunciou”, disse.
Ele foi preso por volta das 7h40, em casa. “Minha mulher tá operada e eu estava ainda deitado. Hoje nós não íamos trabalhar, né? Agora como eu tô parado de renovação de carteira aí tô trabalhando numa serralheria vizinha”. Para ele, a única explicação plausível que encontra é que sempre foi acostumado a brincar com as crianças. “De brincadeira com essas coisas, levava pra banho e tudo, eu acho que é isso aí que gerou essa esse negócio, né?”, finalizou. (Luciana Marschall)