Rios de Encontro, o projeto eco-cultural e socioeducativo, enraizado na comunidade Cabelo Seco desde 2008, está em quarentena. Mesmo que dezenas de crianças e adolescentes perguntem aos coordenadores desde o início de março sobre o reinício de vários projetos, a resposta tem sido a mesma: não há data. “Só quando o vírus passar”, disse o primeiro cartaz de 2020.
“Desde a finalização da elaboração dos poucos novos projetos em fevereiro”, explica Dan Baron, co-fundador e coordenador eco-pedagógico do projeto, “vimos nos dedicando à sensibilização da comunidade na orla e nas esquinas, sobre a relação entre a exploração predatória dos rios, oceanos, florestas e terras do mundo, o colapso climático dos ecossistemas e a pandemia Covid-19. Durante a enchente recente, uma manifestação explícita do desequilíbrio ecológico que trouxe incêndios, inundações e tempestades de gafanhotos na África nos últimos meses, não paramos de explicar para os jovens e crianças de Cabelo Seco como cada um pode salvar a vida da comunidade toda”
Para Manoela Souza, co-fundadora e gestora eco-cultural do projeto, ainda não caiu a ficha para a maioria dos moradores do bairro, que mesmo sem sintomas, jovens e crianças podem transmitir o vírus, em particular na concentração das barracas montadas para cuidar das famílias desabrigadas pela enchente. “A Covid-19 está sensibilizando cada família no mundo que todos nós, incluindo as espécies não humanas, somos interdependentes. Mas contrária ao ‘senso comum’, que declara que a sociedade deve cuidar de cada indivíduo, o vírus vem mostrando que o indivíduo impacta sobre a sociedade inteira. Covid-19 começou com apenas uma pessoa. Cada um de nós pode salvar a vida de milhares de pessoas”, adverte.
Leia mais:Desde 15 de janeiro deste ano, quando Rios de Encontro concluiu dois anos de preparação para finalizar sua primeira década de formação juvenil para reinventar Cabelo Seco através da defesa artística e cultural da Amazônia, os fundadores do Rios de Encontro vêm reinventando o projeto.
“Priorizamos o SISU e a base profissional de cada uma e um de nossas lideranças juvenis, para que pudessem estudar ou colaborar com outros projetos, abrindo suas asas como jovens adultos, sentindo sua grande capacidade artística, educativa, cultural e social, e a preparação para determinar sua própria vida”, diz Manoela.
Dan Baron complementa que o projeto abriu e continua abrindo portas para jovens e adultos. “Vislumbramos um futuro quando pudessem voltar como coordenadores assalariados do projeto. Mas nunca imaginávamos que a grande, dolorosa formação mundial desse vírus, tornasse a vulnerabilidade de cada comunidade com sustento e saúde precários, como ambiente perfeito para matar”.
Ele também alerta que qualquer liderança que alega que este vírus é apenas uma gripe leve e passageira está prejudicando a vida de centenas de milhões de pessoas. “Nossos jovens artistas adultos do Coletivo AfroRaiz tornaram-se uma referência de como cada jovem pode se tornar liderança do controle e do corte da transmissão da Covid-19. Se distancia, lava as mãos após cada contato com alguém ou algo circulando e fica em casa. Estes atos de cuidado são de amor, em solidariedade com o futuro”.