Nesta quinta-feira (5), a paralisação de servidores do Departamento de Trânsito do Estado do Pará (Detran-PA) completa 46 dias e não tem prazo para terminar. É que no último dia 28 de fevereiro a categoria deliberou, em assembleia realizada na Capital, a manutenção da greve. Enquanto isso, quem sofre são os garagistas (administradores de garagens), que ficam sem vender os seminovos que gerenciam em seus espaços pela trava no setor de vistoria do órgão de trânsito.
Reunidos na ala administrativa de uma garagem situada na Folha 26, trabalhadores desse ramo organizam um movimento para, na opinião do empresário Rafael Souza do Carmo, reivindicar direitos. “Estamos aqui reunidos para discutir os prejuízos financeiros que nós estamos sofrendo, bem como os danos aos nossos clientes”, afirma.
Os prejuízos narrados pelo garagista vêm da paralisação da vistoria do Detran. Responsável por avaliar as condições de circulação de um veículo, a existência e o funcionamento dos equipamentos obrigatórios, o exame tem o objetivo de confirmar a legitimidade da propriedade e conferir se as características originais do veículo se encontram regularizadas.
Leia mais:“O problema que nos atinge é enorme, porque o Detran simplesmente entrou em greve, a vistoria é processo obrigatório nas nossas vendas e ninguém se pronuncia, todos fazem ‘corpo mole’ para a situação, sobretudo as autoridades locais”, expõe Rafael.
A vistoria do Detran é necessária no emplacamento de um veículo zero km, no processo de transferência de propriedade e até mesmo no pagamento do imposto sobre a propriedade de veículos automotores, o IPVA. Tudo isso é preciso para que o negócio entre o vendedor do carro seminovo e o cliente se concretize, o que não vem acontecendo.
“Nós estamos fazendo um apelo não só à mídia local, como aos nossos deputados estaduais, que têm poder para agir nesse caso. Precisamos de ajuda, nós estamos fazendo um grito de socorro mesmo, porque a situação se tornou insustentável”, declara ele.
Questionado pelo CORREIO, o garagista detalhou os prejuízos sofridos pela empresa dele desde o dia 20 de janeiro, quando se iniciou a greve. “Nós estamos com mais de 35 processos parados aqui na loja, acumulados nesses dias de greve. Tudo isso por conta dessa falta de atenção das autoridades em resolver o impasse com o Detran”, sustenta Rafael.
Na avaliação de Rafael, cerca de 15 negócios deixaram de ser fechados por ele em virtude da greve na autarquia. “Não dá para acompanhar uma paralisação que se iniciou pela irresponsabilidade do poder público, queremos trabalhar”, protesta.
O produtor rural Jácio Ferreira de Almeida é um dos consumidores prejudicados pelo impasse no departamento de trânsito, em especial na vistoria veicular. Ele conta que adquiriu uma caminhonete nova na concessionária, mas que não foi possível emplacá-la seguindo o novo modelo, com o padrão Mercosul.
“Há aproximadamente 10 dias eu retirei uma caminhonete na concessionária, mas estou impedido de voltar para a fazenda porque eu não consigo emplacá-la. Para minha surpresa, quase que ela foi levada para o ‘curral’ (referindo-se ao pátio). Eu dei muita sorte, porque havia um conhecido meu na blitz e ele atestou que eu tinha razão, então guardei o veículo na garagem e lá ele se encontra”, alega ele.
Ainda de acordo com o fazendeiro, quem perde é o cidadão, que tem o seu direito de ir e vir suprimido. “Isso é muito prejudicial. Eu quero emplacar e eles não liberam a vistoria, logo eu, que vivo da terra, não posso retornar ao meu local de trabalho sob o risco de ter a caminhonete apreendida. E aí?”, questiona-se.
Procurada pelo Jornal, a gerência do Detran em Marabá manifesta que a greve parcial dos servidores não afetou o funcionamento do órgão e que apenas a divisão de vistoria está com atendimento reduzido. (Vinícius Soares)