Há um rosário de narrativas jornalísticas contadas ou reveladas pelo Jornal CORREIO que minha memória, de quase 24 anos de batente, não dá conta… Das coberturas maciças do garimpo de Serra Pelada ao massacre que eles sofreram na ponte; dos desmatamentos insustentáveis ao protagonismo mortal do Aedes Aegypti; da tortura e morte cometida pelo “Monstro do Bom Planalto” ao tempo das facções criminosas; da odisseia política de dois governos que deixaram a cidade de Marabá desacreditada ao temor do ambiente de polaridade entre PT e o governo Bolsonaro…
De 1996 a 2013, comemorei dentro da redação do Jornal CORREIO DO TOCANTINS o jornalismo feito na Folha 32. Na entrevista para conseguir uma vaga de estágio, aos 24 anos, o antigo dono do Jornal perguntou se eu gostava de escrever. Depois de duas décadas de ruas, de enchentes e de me engendrar no meio político, de ser repórter e depois editor, uso a pergunta e a resposta como chaves para pensar o tal “futuro do jornalismo”. É preciso gostar de gente para narrar o mundo em palavras.
Claro que eu não estava na turma que cuidou da primeira, e histórica, edição do Jornal Correio, em 1983, mas, tenho convicção, o ânimo que envolvia aquele ambiente diferirá pouco deste que nos motiva agora, exatos 37 anos depois, a continuar na observação dos fatos para transformá-los em notícias.
Leia mais:Há uma alma motivadora e inquieta que só parece mais forte e presente à medida em que o tempo avança, nos fazendo transformar em desafio o esforço cotidiano de conquista e reconquista que marca a relação entre o jornal e seu leitor. O que se pergunta, hoje, é quanto à capacidade que temos de oferecer respostas a um mundo contemporâneo que, diante do volume de transformações que proporciona, acaba por colocar em discussão o próprio conceito de notícia.
Um debate de fundamento, que prospecta o futuro do jornalismo e até lança dúvidas sobre ele, sem que assuste o Jornal Correio, porque de vez em quando a cisma se fez presente à sua trajetória. A incerteza surgiu em outros momentos e cá estamos contando a história, o que diz muito da legitimidade que temos para encará-la.
A verdade é que o jornalismo nunca esteve tão forte e vivo em nossa Redação. A realidade é que nunca se consumiu tanta notícia quanto nos tempos atuais, em que as plataformas se multiplicam. Um contexto em que a exclusão hipotética da prática profissional no manejo dos fatos, para a missão que lhe toca de selecioná-los, hierarquizá-los e priorizá-los, representaria entregar a sociedade definitivamente ao mundo das manipulações maldosas, no pior sentido mesmo que o termo pode ser capaz de contemplar, seja fake news ou outra expressão.
A grande verdade é que o jornalismo continua hoje tão fascinante quanto o era naquele 15 de janeiro de 1983, em que a história começou para nós, nas mãos de Mascarenhas Carvalho e outros colaboradores. O sentimento, do lado de cá, permanece o mesmo e a má notícia para quem enxerga a atividade com seus dias contados ou que vislumbra nos profissionais que a exercem uma raça em extinção, é que as novas e mais amplas possibilidades que chegaram estão sendo absorvidas e acomodadas para garantir a preservação e fortalecimento de uma prática profissional, e social, que será sempre medida pela capacidade que apresente para gerar incômodos. O que parece evidente é que não a perdemos. (Ulisses Pompeu)